Um Dia Triste para o Brasil

Um Dia Triste para o Brasil

O que se diz nesta crônica, já aparece em muitas crônicas espalhadas pelo mundo afora.

A ciência alerta a todo o instante para o aquecimento global: a preservação do meio ambiente

está presente em todas as áreas sociais, econômicas, políticas, todos os países estão cientes de que é preciso diminuir e emissão de gases que causam o efeito estufa. Muitos países estão avançando nestes estudos e não faltam projetos para inibir o aumento da poluição atmosférica.

O primeiro efeito a ser sentido, o que mais prejudicará a vida na Terra será o aumento da temperatura. No mínimo um grau e meio já é uma previsão certa e tolerável para vida no Planeta. A partir daí o caos começa a se estabelecer, muitas regiões do Planeta passarão pelo processo de desertificação, alguns animais mais resistentes por ali ficarão, mas vida humana se deslocará para paraísos com climas que favoreçam a continuidade da vida no Planeta. Regiões com baixa e baixíssima temperatura que até hoje tanto castigaram a vida de quem ali nasceu e por ali ficou, passarão a ser os locais preferidos por quem tiver, talvez, poder aquisitivo para ali morar, não faltam lugares assim espalhados pelo Planeta, citar todos não caberia numa simples crônica, isso demandaria um livro inteiro, mas Montalegre, a Região de Barroso, a nossa Terra Fria, será um deles.

Sem dúvida há que preservar o meio ambiente, soou a sirene, o alarme disparou, no mundo da ciência essa realidade já está por demais estudada, com atestado de validade prestes a vencer. Uns anos mais, e se nada for feito, depois talvez seja tarde demais.

Realmente hoje o Brasil está mais triste, ontem, dia 6 de dezembro um golpe fatal foi desferido contra a famosa cabeça do cachorro, no alto do Rio Negro, uma região que faz fronteira com a Colômbia e Venezuela fica a região conhecida como cabeça do cachorro, pela sua constituição geográfica ter alguma semelhança com a cabeça deste animal. Uma região habitada por mais de dois mil anos por povos indígenas, que têm uma identidade cultural

Própria, falam três idiomas pertencentes a três famílias lingüísticas: Aruak, Maku e Tukano,

Mantêm-se fieis às suas origens culturais, respeitam as 23 etenias que ali se estabeleceram,

Praticam à maneira do escambo trocas entre si de alimentos, de objetos culturais , mantêm uma organização social e visão de mundo semelhantes, vivem há mais de dois mil anos ali em plena harmonia com a natureza preservando e cuidando da fauna, da flora, de tudo que respeite a natureza tal como era há mais de dois mil anos.

São Gabriel da Cachoeira é um município, uma região do Estado do Amazonas , o terceiro maior município brasileiro em extensão territorial, trata-se de uma reserva indígena com sua natureza original preservada. Os habitantes, quase na sua totalidade indígenas, embora vivendo em condições sanitárias e de moradias precárias, têm como principal ambição cuidar da natureza, mantê-la assim como era no início, bonita, saudável, limpa e até ontem o governo deixou que assim fosse.

Até ontem era assim. Nenhum governo mexeu naquele santuário indígena.

Dia seis de dezembro de 2021, aquela região passou a sentir o peso das ameaças de invasão daquela área.O órgão do governo responsável por permitir o avanço de projetos de mineração, entre eles o avanço de projetos na faixa da fronteira numa largura de 150 quilômetros autorizou sete frentes de pesquisa de ouro na fronteira do Brasil com a Colômbia e Venezuela na região conhecida como cabeça do cachorro.

Com estas palavras representantes do governo assinavam e tornavam viável este projeto “respeitadas a legislação e o meio ambiente continuaremos a mapear nossas riquezas pelo bem do Brasil e do nosso povo” só faltou acrescentarem “ revogam-se considerações em contrário.

Claro que isto causou indignação e alvoroço entre as populações indígenas, entre a população das vilas e cidades próximas, no estado do Amazonas, no Brasil inteiro, e claro, no mundo. Quando os países se unem para achar fórmulas, lançando mão da mais avançada tecnologia para impedir o avanço da poluição, do aquecimento global, de medidas de contenção

de emissão de gases em países altamente industrializados e nos não tão industrializados assim, todos aceitando contribuir para preservação do meio ambiente, aparece o Brasil com uma medida

tão extremada como esta. O povo brasileiro custa a acreditar no que viu acontecer por aqui.

Muitas vozes se estão levantando, muitos processos contra esta medida estão sendo apresentados aos órgãos competentes do governo na área do judiciário e legislativo.

Dizem que alegria de pobre dura pouco, aqui valeu a máxima, nem bem este povo teve

tempo de respirar, assimilar a alegria de ver a polícia Federal e o Ibama, o órgão responsável pela fiscalização, monitoramento e controle ambiental, agirem com firmeza no Rio Madeira, afundando e destruindo balsas e equipamentos próprios para a exploração do ouro de mineradores que mesmo alertados de que teriam que se retirar dali, insistiam em permanecer e garimpar do jeito que desse. Viram suas balsas e demais ferramentas de mineração sendo incendiadas e afundadas , uma clara advertência para pôr um fim na mineração em áreas indígenas. Custa a crer que num prazo tão curto se aprovem medidas que permitam o avanço da exploração de ouro e outras riquezas minerais em outras reservas indígenas. O projeto fala de mapear as riquezas minerais que todo mundo sabe que não é só ouro, é uma região também rica em nióbio, um metal com várias aplicações na indústria e no comércio.

O Brasil e o mundo não vêm isto apenas como pesquisa, depois virá não se sabe o quê.

No rio Madeira a extração do ouro poluiu o rio de tal forma que por muitos anos deixará de ser aquele rio que era a vida para aquela população indígena, água limpa, potável, peixes em abundância, fauna e flora exuberante, agora um rio contaminado pelo mercúrio usado no processo da extração do ouro. Crianças e adultos apresentando alto teor de mercúrio no organismo, adoecendo, morrendo. O seu habitat natural foi invadido, destruído pela ganância

do mundo que se diz civilizado, um mundo incapaz de se adaptar à natureza. Força a natureza a se adaptar aos seus caprichos, a um estilo de vida que nos parece o certo. O Planeta dá sinais de não suportar por muito tempo tanta destruição, tanto descaso, tanta poluição.

Sim o Brasil está triste, aquele reino de vinte e três etnias indígenas que parecia intocável,

onde a vida seguia as diretrizes que a natureza à frente ia apontando o estilo de vida típico de cada estação do ano, vidas em harmonia com a Mãe Terra, irmão sol, irmã lua, agora começam a sentir o peso de ameaças que podem , se não forem contidas a tempo, destruir esta forma de vida que devia ser cara e preciosa para o Brasil , para a humanidade inteira.

Lita Moniz