PORTAS ABERTAS PARA QUE MUNDO???

Quero legitimar, ainda que lamentando, o direito de preservar o tradicionalismo na educação, com suas famigeradas funções beirando o dadaísmo e contemplando cegamente um ciclo niilistico, daqueles que não apontam caminhos para estes dias que vivemos, mas certamente a seta é apontada para o museu de novidades que a escola se finda.

Legitimo para poder por em prova certos embasamentos teóricos. Isso é muito mais que prova viva e atual de que dependemos dessas análises perante o conservadorismo para coibir o regresso.

Tem horas que tenho a sensação de que se educa hoje em dia para se viver no século retrassado, assuntos são intocáveis e posições são indiscutíveis. A escola é o melhor lugar para falar de sociedade e de valorizar a ética e moral. Vamos deslocando muito bem, ética, etnia e etnocentrismo e moral de moralismo para deixar mais evidente nossos interesses neste texto.

Pluralidade dosada é o melhor caminho.

Mas quero sobretudo reafirmar o compromisso nosso com as possibilidades de reinvento neste aparelhamento escolar, julgo necessário o enlace de todos os aspectos desde os diretivos até os pedagógicos, pois uma escola fragmentada é uma escola pobre de argumentos e sendo assim não convencerá aluno nenhum de que cada um de nós é uma peça do jogo e todos damos asas aos projetos que certamente o tempo mostrará sua eficácia. Nada pode acontecer do dia para a noite.

Enlace é para meu raciocínio: Conectividade e não amarras, um planejamento pedagógico amarrado em rigidez e exatidão como uma álgebra-aritimética não é capaz de autenticar as possibilidades que possivelmente aparecem ao longo do caminho. O único dado exato é de que as asas para o vôo são dos alunos, os professores só ensinam a bate-las, voar é conseqüência.

Quando vôoam, viajam todos juntos e soman-se as conquistas, mas nesta viagem o equilíbrio deve ser plenitude de todos os lados, inclusive da hierarquia tão aclamada dentro do âmbito escolar, fato que considero importante, mas não de forma mitológica, mas sim de forma humanista. Os alunos não devem ter medo de ninguém, deve respeitar a todos na igualdade. Escolas de generais estão em suplícios pelas faltas de senso em seus modelos criativos. Onde há autoritarismo não há mais nada.

Chover no molhado é redundância prosaica e a escola sofre disso nas suas convenções aprovadas pelos passíveis dirigentes destas instituições que fazendo do ambiente educacional um espaço de lucro ou de simulacro, desistem de pensar e isso considero grave.

Educar para a vida não está nos modelos prontos, mas naqueles que se recriam pelos próprios criadores, que construímos com as nossas vivencias, nas oportunidades autônomas de sustentos das idéias próprias para se estabelecerem individualmente e formarem o conjunto cooperativo.

Na vida não seguimos cartilhas, mas nos baseamos em fontes seguras para sermos autores da nossa própria legenda de cada capitulo desta vida que não nos permite ensaios, a apresentação é direta e permanente, falível de ganhos e perdas, acertos e erros de todos os lados e de todos os modos.

Os seres são frutos dos meios e das oportunidades que vivem, quando não há oportunidade dentro da própria escola e as criações são podadas por conceitos geométricos que são pedidos para que os alunos decorem fórmulas e frases feitas, o jogo de aprender é então interrompido. Até a prova tão mitificada e causa repulsória de medo nas crianças e jovens não prova nada.

Por que não se permitir falar a língua dos alunos e proporcionar que eles falem a sua! Dentro de pouco tempo ambos verão que é a mesma, articulada de formas diferentes.

Antes de preservar o meio ambiente, havemos de nos preservarmos enquanto seres que evoluem, o progresso está na reciclagem do ser humano.

Que saibamos manter sim as tradições de bons costumes e de boa gentileza que corteja os homens de bem, mas que acima de tudo nos reinventamos como já dizia a poetiza Cecília Meireles, além do mais ao se tratar de uma formação escolar que será base para que os jovens sejam capazes de abrir as portas do mundo por eles mesmos, instigando-lhes a criticar com responsabilidade, negar opiniões contrarias com o juízo merecido e se permitir fazer apologia ao que nos coloca em sintonia com o progresso enquanto seres humanos. Cidadãos reflexivos, são cidadãos inteligentes.

Jamais pensei a educação em arte como alunos-cordeiros que devam simplesmente apenas obedecer às linhas rígidas das formas geométricas. O paradoxo já se apresenta na própria forma orgânica que somos e a arte nada mais é do que o intermédio do mundo para o homem e vice versa.

Nunca me dobrei ao sistema fraco de argumento que se satisfaz com conteúdos desperdiçados para apenas constar e nada mais. A arte-educação e creio eu, de todas as outras disciplinas da grade curricular, podem se complementar e ser muito mais do que tópicos de um diário de classe ou de textos exaustivos de lousas e mais lousas escritas e transcritas para o caderno. Os mimiógrafos só não são mais velhos do que o pó do giz que temos nas escolas, não sei o que é mais antigo, se isso ou a descrença dos alunos nessas formas de aprender.

A liberdade consiste neste viés de ter o direito de defender o que quiser e ao mesmo tempo saber enfrentar a oposição que a vida lhe presta perante um cerne indomável. Nisso quero enaltecer que a arte, as excursões culturais que praticamente desapareceram das escolas, as formas novas de ensinar, mesmo rejeitadas são indomáveis, são mais fortes que a resistência de muitos diretores e professores cansados.

Sendo assim, defender esse ensino-sucata que vemos por ai é direito de quem o faz e repudia-lo é dever dos que lutam pela arte-educação como eu.

Só podemos estrear um debate frutífero quando ambos os lados sabem bem o que estão manuseando como suas próprias verdades, intelectualidade também é instrumento de trabalho, ainda que muitos achem que não.

Em certos casos a defesa mais intima é o comodismo e isso é fraco demais para poder debater com as reflexões dos que não se deixam levar pelas apostilas arcaicas que assombram-nos neste novo milênio.

Obviamente não podemos debater educação com intelectuais que se quer entraram algum dia numa sala de aula, ou aqueles que nunca passaram no decorrer de um ano letivo as maledicências e morosidade do sistema educacional que encontramos nas escolas, publicas e também em muitas privadas, embora muitos não acreditem. Lembra do lucro que citei a pouco?

Pois bem ele que é responsável na maioria dos casos de pseudas escolas particulares em não zelar pela qualidade, ou no máximo prestar uma qualidade velada, para que não seja exposta, pois facilmente poderá comprovar que as estruturas deste ciclo são tortuosas demais. A começar pela má remuneração aos professores, uma visão educacional que não valoriza seus profissionais não é capaz de pregar força em muita coisa. Professor não é só profissão é missão, por isso nos prestamos a certos fatos.

Mesmo não havendo receitas para a escola, felizmente, pois teríamos uma porção de indigestões, há caminhos que podem ser seguidos, o que defendo é mais um deles.

Agora há também de se enfatizar que existem sem duvidas maneiras mais distantes das desejáveis para um formato educativo que valorize a notável condição de cidadãos do século XXI. Diga-se de passagem que estudar como no império é no mínimo chato, desmotivador...

A escola precisa estar constantemente em movimento para não ser catedrática e regrada a uma marcha desanimadora. O inusitado quando visita a escola por intermédio de algum professor, que é facilmente tido como louco, (ou aquela típica frase: É que ele ainda é jovem, quando ele tiver 20 anos de carreira ele para com essas coisas... O dia que eu perder o prazer de ensinar, desisto de ser professor, como sei que isso jamais será inerente a minha pessoa, fico mais tranqüilo) então, quando algo novo aparece na escola, como uma exposição profissional de ARTE CONTEMPORÂNEA com CURADORIA realizada pelos próprios alunos, a escola se articula, se movimenta e se refaz, ainda que a principio pela estranheza, mas certamente se põe em movimento, seja de comentários, de novos olhares, de novas visitas etc.

Espero que em meu discurso vocês não consigam encontrar rancor, pois a indignação é maior que qualquer outro sentimento e quando abastecida pelo fluido ativo que circula nos braços de uma fortaleza pelo que se tem direito, a receita vira soro para levantar o doente.

Metaforicamente experimentando a energia que nos cabe podemos levantar a poeira e atacar com ousadia os males que circundam o interior da escola.

O doente reage sim, ele só precisa de estímulos. O quadro educacional não pode ser tratado como irreversível, pois se assim fosse o que estamos fazendo em nossas formações diárias? Destaco este detalhe por acreditar que o professor além de ser um camaleão de si mesmo também precisa reciclar seus conhecimentos com outros.

O mundo dos livros com cheiro de mofo nem de longe é o que ai está, as mentes cheias de bolor desses senhores e senhoras que se apregoam toda verdade, nem de perto podem ser intermediadores desta velocidade impulsiva do mundo nosso.

Quando digo mundo, globalizo seus significados para a prática docente e reflexos nas causas discentes no decorrer de nosso trabalho em sala de aula e acima de tudo nas extrapolações do processo de aprendizado, uma vez que os locais não formais de educação alargam os conhecimentos e estabelecem conexos com o que se tem de repertório cultural.

Provavelmente uma aula fora do olhar panóptico da escola sem duvida dará mais trabalho, mas as consonâncias de relações se brotam nos próprios comentários entre os alunos e reflete nos relatórios que pedimos a eles.

MUNDO DE BRAÇOS ABERTOS??? PARA QUAIS ESTUDANTES???

A postura dos jovens pode ser reflexo das fragilidades ou das cumplicidades de quem os assistem. Seja na escola, em casa ou nos dois ambientes.

O inadmissível é que onde as rédias deveriam ser mais curtas, como num conselho disciplinar, não são, já na construção do conhecimento são em demasia, cerceando os alunos do direito de serem autônomos e experimentadores de formações culturais plurais.

Ninguém parece querer assumir responsabilidades na esfera escolar, sendo assim o que aparentemente se abafa, se apaga ou se encobre parece dar menos trabalho, logo, para muitos, essa será a solução ideal.

Não a toa um famoso ditado popular serve de pano de fundo para nossa reflexão “tampando o sol com a peneira” mais cedo ou mais tarde o que teatralmente foi solucionado aparece com mais força, seja um planejamento caótico, seja um professor que finge que ensina, alunos que fingem que aprende ou até uma diretora que disfarça de tudo para esconder o nada que ela elaborou. Parece conversa de louco, mas é bem próximo disso mesmo.

Há complacência na má educação, no desrespeito e na transgressão dos jovens em muitos casos, não tendo atitudes que possam ir de encontro a total fortaleza que deveriam ser as normas de convivência, indispensáveis para conviver em sociedade. Más não há tolerância para outros formatos de aprender arte por exemplo.

Concordo que a veemência perante a postura que se privilegia na escola nem sempre apontam resultados de sucesso na conduta dos jovens, mas a tolerância com a desregragem que eles, até mesmo pela idade de transformações que vivem, querem provocar, não pode ser deixada de lado.

Coexistir está para saber quem sou eu e quem posso ser, as artes permitem isso de forma pulsante. Essas relações podem servir de temáticas para a produção artística desses jovens que precisam e muito carecem de se mostrarem.

É triste constatar que esses açoites educacionais ainda são galhos secos da realidade, mas ao mesmo tempo nos encoraja saber que podemos rejeitar tudo isso e servir como num banquete um formato novo que os alunos facilmente percebem hoje e construtivamente sentirão amanhã.

Professor Tiago Ortaet

Primavera de 2007