História e ensino

A Coleção didática de História Projeto Araribá será recebida alguns milhões de alunos do Brasil em 2008. Muito bem avaliada no Programa Nacional do Livro Didático, Araribá está em sua primeira edição e é publicação da Editora Moderna, integrada ao grupo espanhol Santillana.

As opiniões sobre a coleção de história se dividem.

De um lado, a imprensa alerta para riscos da ideologização do livro didático e para um processo gradativo de internacionalização do mercado editorial brasileiro de obras didáticas que, para quem não sabe, é um dos mais prósperos do mundo. A coleção de história foi também criticada por veicular informações equivocadas, por divulgar propaganda de programa governamental e por seu conteúdo “ideológico”.

Na outra ponta, muitos professores, responsáveis pela escolha, ressaltam o que consideram as suas principais qualidades: linguagem acessível, diversificação de exercícios e facilidade de uso em aulas que têm 50 minutos, em turmas geralmente grandes e junto a alunos que não lêem fluentemente.

Outros professores, críticos da obra, preocupam-se com a simplificação da narrativa histórica, alertando para a falta de dinamicidade da coleção, que lhes parece bastante repetitiva. Segundo argumentam, o texto de fundamentos da compreensão histórica na Coleção é visivelmente limitado; acompanhado de forte apelo utilitário e do pressuposto de que a aprendizagem histórica possa prescindir da leitura de textos verbais de natureza histórica. Segundo dizem, os textos são reduzidos a fragmentos dispersos em meio a uma lista de exercícios previsíveis e pouco instigantes.

A despeito do debate, a coleção ditará em grande medida a tônica do ensino de história no Brasil nos próximos três anos, a se confirmar o diagnóstico de que os professores do ensino fundamental usam do livro em seu cotidiano com significativa freqüência.

Torcemos para seja valorizada a ação docente no uso do livro de história, de qualquer livro, aliás. Afinal, o que é o/a professor/a senão um mediador de trocas, debates e contrapontos? Esse protagonismo docente não é um registro facilmente contabilizado e é, por vezes, desconsiderado em análises apressadas do PNLD.

Lembremos: é o professor quem usa o livro, não o contrário. Ignorar isso é fazer desacreditada a docência.

Publicado no Jornal O Tempo, Belo Horizonte, Caderno Opinião, 02 de dezembro de 2007.

Júnia Sales
Enviado por Júnia Sales em 02/12/2007
Código do texto: T761856
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