PRECISAMOS DE UM CHOQUE

Depois de tanta perda de tempo em mais uma indignação inútil e dolorosa no processo do “me engana que eu gosto”, a última frase do relator do processo para não cassar o mandato do senador, inocentado para sua permanência vexatória, foi uma previsão do tempo: “Já vejo nuvens escuras no futuro deste país”.

Penso que se for confiar nos serviços da metereologia política do país, teremos muito com que nos preocupar, pois só se pode prever instabilidade e mau tempo.

Pobres de nós brasileiros e brasileiros pobres, portadores do complexo de vira-latas que nos estigmatiza.

Fortaleço minha esperança quando vejo que depois de fatos lamentavelmente corriqueiros como esse, ressurgem os debates e estão sendo dados alguns passos em direção a ética.

Não estou sozinho nisso. Todas as definições que foram e continuam sendo dadas para ela são essenciais na formação do caráter e no desenvolvimento de um povo, que mesmo considerando que já tem cerca de 200 anos de independência, não desiste de continuar a buscar o seu caminho.

Nem bem começamos a crescer e já enfrentamos uma espécie de condenação que nos obriga a passar por provas, muitas delas instransponíveis para chegar a um futuro incerto e não sabido, torcendo para que este, se acontecer não nos desmoralize mais do que já estamos.

Crescemos com o olhar dos além fronteiras sobre nós, nos apavorando, nos pressionando permanentemente para dar explicações sobre o que fazemos de melhor que não seja vigarice.

No filme “As Pontes de Madison” a personagem principal num momento decisivo se indaga porque “Nós nos tornamos invisíveis enquanto nossos filhos crescem e depois, quando eles se vão, não sabemos mais o que queremos.”, igual a nossa cansada visão de mundo que temos, e que nos impede de construir novas realidades apesar das tentativas frustradas.

Às vezes fico com a impressão que cada um quer fazer a sua parte pelo bem do Brasil. Isso me conforta porque sinto que ainda há certa sincronicidade para isso.

É preciso dar o primeiro passo em direção a transformação a partir da nossa casa, sem esperar atitudes daqueles que não tem obrigações e deveres éticos com o país.

Isso vai significar que como brasileiros, estaremos nos testando para recuperar nossa auto-estima política, mesmo que embrionária, sem medo de pagar um preço muito alto pela liberdade já escassa.

Se você se reconheceu aqui, pode significar que seu conceito de reflexão não mudou.

O saldo na nossa conta corrente patriótica é desanimador. Péssimo. Porque só trocar o paletó na cadeira da presidência do Congresso Nacional não produzirá as mudanças que precisamos. Precisamos de um choque.

Um choque de ética.

Nilton Salvador
Enviado por Nilton Salvador em 08/12/2007
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