Irreparável

Artigo baseado em fato real acontecido no Pará

Maria voltou para casa cansada de mais um dia no sinal lavando vidro de carros e vendendo balas. Ao entrar no pequeno quarto, vê sua mãe ainda sofrendo pela falta do que dar de alimento aos seus outros três irmãos menores. Os olhos de Maria enchem-se de lágrimas, mas não há o que fazer. Uma vez, no colégio, disseram que o Governo ajuda as pessoas necessitadas, mas o dinheiro que sua mãe recebe sequer cobre as contas básicas do pequeno barraco. Maria tenta desesperadamente encontrar outras formas de poder ajudar a mãe, que lava roupas para fora. A menina, de apenas 15 anos, sai todas as madrugadas a recolher lixo reciclável pelas ruas. Depois dorme por cerca de duas horas antes de se arrumar e ir para a escola. Não almoça, vai direto para o sinal, onde chega a tirar até cinco reais nos melhores dias. Só que o esforço não compensa, todos os dias o choro dos pequenos a faz chorar também, mas escondida de sua mãe. Maria não quer que sua mãe se preocupe mais.

Um dia, sua mãe conta que Lucas, seu irmão de apenas seis meses, adoeceu seriamente e precisaria passar por consulta. Maria entrou em choque. Antes de morrer, seu pai havia pedido que ela ajudasse a cuidar dos irmãos e neste momento a menina parecia transtornada, não sabia o que fazer. Foi quando o mais improvável aconteceu. Maria furtou dinheiro em um posto de gasolina com uma pistola de brinquedo, os exatos cinqüenta reais necessários para a consulta do bebê. Denunciada, a Polícia a encontrou pela madrugada recolhendo seus recicláveis. A cidade não possuía prisão feminina e os policiais, do alto do descaso característico de um país subdesenvolvido, a deixaram junto com outros 20 apenados na cadeia municipal. 20 homens culpados por todo o tipo de delito. Mesmo alguns presos solicitando aos policiais que não deixassem a menina ali presa, os policiais o fizeram. A crueldade dos policiais só foi menor que a de alguns presos, que fizeram Maria manter relações sexuais com eles para que não a matassem. Porém, Maria morreu durante cada um dos 30 dias em que ficou enclausurada junto com os presos.

O caso de Maria ganhou a mídia, as autoridades se manifestaram, prometendo culpar os envolvidos, destituindo-lhes dos cargos. No entanto, por mais que façam, será difícil reparar a dignidade e a honra de Maria, que jamais serão devolvidas.