QUEREMOS O NOSSO MURO DE VOLTA

QUEREMOS O NOSSO MURO DE VOLTA

“Perdemos nossa identidade, nossa

essência. Nos alimentamos de ilu-

sões (...) Vestimos a camisa da frase

feita, perdemos a morada da alma.

(...) Somos todos mendigos de algu-

ma forma...”

(Eloise de Paiva Mello)

Pense bem: do outro lado (de dentro) do muro, a utopia pragmática da prática sendo problematizada de uma outra maneira talvez filosófica-conceitualmente disforme do real; o tal estado dinossauro provendo mal-e-mal o básico na medida do histórico possível; concomitantemente o estudo total, pleno, inclusivo e espetacular garantido (paradoxos?); serviços primordiais mantidos no limite; as famílias às vezes também unidas pelo medo e terror da sombra que vigiava e de sindicatos que manietavam; as visões comunitárias de um pensar coletivo, plural, pouca corrupção (que é inerente ao homem animal político), nem drogas em potencial, nem gangues mirabolantes, nem ídolos pops-rastaquaras, nem prostituição difundida e nem violência generalizada, em tese todos por todos, visão comunitária-comunidade-comunismo; sem o ópio da religião charlatã, sem o ódio do Karl Marx genial na teoria, sem o ócio da decadente pequeno-burguesia mal servida de si mesma em seu lucro impune, lucro injusto, e vem a alta teconologia-know-how do open-doping de parte da mídia infiltrada, e, vá lá Kant, derrubam o muro de Berlim mais a pregação da bela liberdade democrática em tese, da beleza midiática da Nasa, da Internet globalizadora/mundializada, sejamos lúcidos, era muito paraíso aqui mesmo para os pagãos/bárbaros vermelhos sem a devida preparação para o cálice-estágio-vestibular da travessia visionária resultante (pós-tudo) e deu no que deu.

O muro caiu, aleluia CIA, FBI, Força-Tarefa, Marines, Guerra Fria e, depois ficaram então, nos referenciais-vivências (a melhor didática é o exemplo real) do outro lado do muro escancarado, os sem-muro, com as situações-problemas inéditas, a seguir arroladas, anotem:

01)-Liberdade para morrer de fome, ou escolher entre a salsicha de restos e o hambúrguer de podres. Não era melhor a carne de terceira popularizada-generalizada dos tempos de vacas magras de antes da queda do muro? Pensar pode. As prostitutas, o câmbio negro, os bandidos, as egoístas vaquinhas de presépios de modismos adoraram tudo isso pelo pique que foi a trancos e barrancos.

02)-Tecnologia de última geração, para ricos, new richs, afortunados (alguém fica muito rico impunemente)?) e os pobres caras pálidas ainda assim morrendo de diarréia, tuberculose, malária, leptospirose – com liberdade de escolher o quanto menos pior, melhor. Esquisito. Não era melhor não ter mais diarréia e nem AIDS, muito menos a lepra-craca do lucro-fóssil e de um consumismo sádico-profano? Podes crer.

03)-Os irmãos do outro lado do muro, eram irmãos no sentido magno-pleno da palavra, irmãos mesmo de sangue, suor, chope e lágrimas, na alegria e na tristeza como um casamento comungando idéias e ideais. Misturados, Minha Nossa, uns mais iguais do que os outros, as desigualdades (escondidas na pregação da mentira contra as utopias) do capitalhordismo americanalhado, mais uma corja do neoliberalismo sanguessuga e da globalização-câncer. Ver pra crer. Irmãos afortunados (poucos & suspeitos) mas não na miséria, no bundalelê geral não são tão irmãos assim. Aleluia, Marx!

04)-Recursos caros. Cursos caros. Ou seja: Os Sem-Muro são: sem estudos (reclassificatórios), sem noção de concorrência barata e podre, ou daquelas falsas (máfias & quadrilhas e oligopólios) leis de oferta & procura. A utopia pelo menos era errada às claras. A que se criou no açodado do momento sazonal, era esperança pura. Na liberdade vigiada a verdade doía mas era real. A América é um blefe? Santa hipocrisia.

05)-As cidades básicas, essenciais, folclores valorados, culturas exageradamente maravilhadas, todos por um.Agora os coitados filhos do muro de antes, socados às pencas entre os marginais e as favelas, os palácios e as periferias sem etiquetas, ao deus-dará do modelo judaico-cristão, os castelos e o narcotráfico informal sistematizado do cotidiano-comum de uma economia sem dízimos sociais e com contrastes sociais pertinentes. Então, pós-moderno e pseudomoderno é tudo a mesma falácia-dialética: liberdade é tão pouco só isso? Balas perdidas para todos. Vade retro!

06)-Não foram treinados para serem tungados com dinheiro público de vulto se sujando no privado. Que saudade do Muro de Berlim (20% da estatística capitalista) que segregava no mote de todos serem providos no essencial em algumas coisas, no mínimo em outras, e no muito-tudo em arte, cultura, esporte, educação, medalhas olímpicas e vidinhas saradinhas. Que pesadelo foi o sonho. E quem é o ladrão que lucrou com isso? Reformas-mentiras. E o custo social dessa leviandade infame?

07)-Capitalismo é isso: um lixo. Confere. Liberdade para morrer de fome? Um luxo. A América é choro e ranger de dentes. Cloaca. Do outro lado do muro não havia tantos bandidos assim, de terno, gravata, toga, farda, túnica, e o medo era do estado bicho-ruim, não do coletivo lazarento, não do social; o medo era de uma coisa só, não de todos contra todos, cada um por si, inumanismo com neuras e pobrezas por atacado.

08)-Homicidios. Estatísticas. Seres: cartões de crédito. Idiotas potencializados. Suicídios. Não há como se fugir do lugar que se está. Religião pra quê? A fome não nutre consciências pedadas? Deus não faz milagres com idolatrias. Pobre é pobre em qualquer lugar do mundo. O forno capitalista é a céu aberto. Hitler foi fichinha. E o pardieiro-curral é o medo-coisa. Puteiros S/A.

09)-Querem o muro de volta, claro. É óbvio. Sim, aquele muro presencial, táctil, alto, esguio, erguido após a pilhação do embuste final da guerra. Ele era pétreo, feroz, divisório-ele-mesmo, fragmentado de grupos, não de almas. Agora numa Alemanha reunificada (pra quê, pra quem?) a empulhação do mundo contemporâneo, (frustração do ser com o ser – pra isso derrubaram o muro) são tantos os outros muros irracionais, bestificados: impunidades compradas, drogas sustentáveis (as quadrilhas governam os governos), terrorismos politizados, famílias saqueadas (terceirização neoescravista que envergonhariam feudos medievais), podres poderes com status de sitio, depois dos navios negreiros outras margens oprimindo. Há lendas e lêndias.

10)Queremos o muro de volta. O muro era pompa, vistoso, proibido (sonhar) mas nos foi imposto por acordos espúrios de irmãos submissos, mas ele, o muro, nos mantinha juntos e lutando por ideais críveis, transparentes, honestos, contra eles, como um motivo único. Que muro é esse agora que nos falta, que muro é esse que agora nos cega, humilha, vilipendia, esgota, em nome de uma liberdade sórdida, de serviços públicos suspeitamente sucateados, de ladrão sendo chamado de senhor presidente (o império), de corrupto trocando bombas por óleo. Que mundo livre é esse? Queremos o nosso muro de volta, não os muros das discórdias, das soberbas, das lamentações; de órfãos de Marx e das ruas da amargura. Karl Marx está morto? Viva Karl Marx! Vamos ressuscitá-lo em nós, a partir de nós, ao redor de nós. Nunca se estudou tanto Marx como hoje nas universidades da América Cloaca. Isso quer dizer alguma coisa?

QUEREMOS NOSSO MURO DE VOLTA – Viva o Muro!. Abaixo os que estão em cima dele, passaram, por cima dele, ganharam e ganham com a queda dele, proliferando miseráveis. Nem sempre se vê os muros do capitalismo no claro, eles estão desviados, camuflados, corações e mentes com nuvens de cifras. Para muitos de nós, os muros são epidérmicos, sensoriais, têm aromas e arapucas, têm grades e algemas midiáticas, e o gradil ainda dói dentro de nós como um câncer com máscara blasé de Hollywood.

Quantos tipos variados de muros permanecem no mundo contemporâneo, após a queda histórica do próprio Muro de Berlim? O filósofo esloveno Slavoj Zizek (Instituto de Sociologia da Universidade de Liubliana) nos diz - nos Anos 90 (Era Clinton) - dos novos Muros que estão surgindo (o inumano e neoliberal império do capitalhordismo americanalhado) e por conseguinte e resultante dos muros entre Israel e a faixa de Gaza, ao redor da União Soviética, ao redor da União Européia, na fronteira Estados Unidos-México. Vivas ao hitlerismo de Bush? Viva Zapata!

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Silas Corrêa Leite – Estância Boêmia de Itararé, São Paulo, Brasil

Teórico da Educação, Crítico Social, Humanista de Resultados – Pós-graduado em Educação, Comunicação na Literatura, Jornalismo Comunitário e Direitos Humanos Coordenador de Pesquisas em Culturas Juvenis, FAPESP-USP

Membro da UBE-União Brasileira de Escritores

Texto da Série: Ensaios, Panurgismos e Bravatas

Autor de Porta-Lapsos, Poemas, e Campo de Trigo Com Corvos, Contos

E-mail: poesilas@terra.com.br

Site pessoal: www.itarare.com.br/silas.htm

E-book (romance) O RINOCERONTE DE CLARICE no site

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