A Universidade na Sociedade do espetáculo

E sem dúvida o nosso tempo... prefere a imagem à coisa, a cópia ao original, a representação à realidade, a aparência ao ser... Ele considera que a ilusão é sagrada, e a verdade é profana. E mais: a seus olhos o sagrado aumenta a medida que a verdade decresce e a ilusão cresce, a tal ponto que, para ele, o cúmulo da ilusão fica sendo o cúmulo do sagrado. (FEUERBACH apud Debord, 1997. p 13).

O mundo atual, conseqüência da modernidade – no qual prevalecem as “pós modernas” condições de produção e consumo – é rotulado por Guy Debord como a Sociedade do Espetáculo, justamente por se apresentar como uma imensa acumulação de espetáculos.

O espetáculo seria a forma como a sociedade atual opera, ou seja, uma espécie de relação social entre as pessoas que é regida pelo “âmago do irrealismo da sociedade real” (DEBORD, 1997. p. 14). As formas particulares da sociedade do espetáculo podem ser a informação ou propaganda, publicidade ou consumo direto de divertimentos, enfim, é o consumo da escolha já feita na modernidade.

Grosso modo, o espetáculo seria a afirmação da aparência “a afirmação de toda vida humana – isto é social – como simples aparência” (DEBORD, 1997. p.16), conseqüência de uma formação econômica-social que desencadeou-se no momento histórico em que vivemos.

Considerando o pensamento de Debord, me questiono como fica a Universidade imersa nesta sociedade do espetáculo? Ela elucida os lances deste jogo ou ela se mistura entre os jogadores? Ela atua enquanto núcleo pensante de produção e disseminação do conhecimento ou ela amplifica, com talento peculiar, o próprio espetáculo culturalmente convencionado?

Num momento histórico em que temos que atender aos interesses do mercado na formação dos alunos, mas também temos que imbuí-lo no pensamento crítico e construtivo capaz de transformar positivamente a realidade, inclusive àquela apresentada pelo mercado, muitas vezes ficamos na “saia justa” e corremos o risco de sermos mais um ingênuo ator da sociedade do espetáculo.

Toda vez que, como gestores ou professores de uma Universidade, nos comparamos a outros tipos de organizações que, necessariamente, atuam na sociedade do espetáculo estaremos afirmando nossa posição de jogadores do próprio jogo ditado pelo espetáculo. No entanto, sempre que oferecemos lances criativos e inovadores que possam interferir positivamente na sociedade do espetáculo estaremos sim exercendo nosso papel de produtores do conhecimento e de críticos do espetáculo.

Ralph Waldo Emerson, famoso escritor, filósofo e poeta norte-americano certa vez escreveu: “O homem que deseja dirigir uma orquestra deve voltar as suas costas para a multidão”. Penso que talvez nós, os acadêmicos, temos que nos permitir, em alguns momentos, voltar nossas costas para a sociedade do espetáculo afim de elaborarmos a execução de outro espetáculo que a sociedade pós-moderna tanto carece. Se a Universidade não fará isso, quem poderá fazer?