CASCA DE NOZ

Considero-me um perguntador profissional. Segundo minha mãe, é um mau costume que tenho desde que era guri, motivado pelas rodadas de histórias que ouvia dos meus avos, tios e dos mais velhos.

Todos respeitáveis contadores de histórias que me faziam viajar pelos mais distantes rincões, onde minha mente em formação sequer podia imaginar onde ficavam.

Daí o mau hábito de responder uma pergunta com outra.

Eu estava à mesa para o café da tarde de domingo, depois do almoço reparador e de uma soneca suculenta. Não inverti a ordem natural das coisas não. É difícil de achar coisa mais gostosa do que uma boa soneca depois de uma refeição tranqüila? Se existir, me contem.

Eu dizia para minha mulher que estava angustiado porque ainda não tinha mandado o texto para este recanto, enquanto comia e discutia a origem do panetone natalino com meu filho.

Entre falar e pensar que quase tudo é festa na época do Natal, me lembrei da peça de Shakespeare mais representada e estudada até hoje, onde o personagem Hamlet fala da tragédia da dúvida, do desespero do príncipe e da violência do mundo,

"Eu poderia viver recluso numa casca de noz e me considerar rei do espaço infinito.”

Lembrei-me que em 2002 dei de presente de Natal o livro de Stephen Hawking, o físico inglês, “O Universo numa casca de noz”, uma continuação, me parece de “Uma breve história do tempo”, onde ele explica os princípios que controlam o Universo em linguagem para meu entendimento de simples imortal.

A casca de noz de Hamlet representa além da pequenez de nossa compreensão, da extensão de nossas forças. A capacidade do ser humano de utilizar sua mente para explorar todo o Universo.

Não me faz inveja o astrofísico quando questiona se o cosmos é infinito ou apenas grande. Se for eterno ou apenas tem uma longa vida, e como nossas mentes podem chegar a compreender este Universo.

Simples imortal que sou me coloco envaidecido no lugar de entrevistado pelo astrofísico, e concordo que realmente ainda não sabemos quase nada do muito que somos.

No meu caso não consigo explicar porque o Brasil é o único país equatorial do mundo que adota o horário de verão.

Ao buscar explicações descubro que ao se adotar o horário de verão ocorre um deslocamento na entrada da iluminação pública - devido à iluminação natural, ainda presente - que passa a não mais coincidir com a chegada das pessoas em casa após o trabalho onde se ligam mais aparelhos eletrodomésticos.

Para não abalar o atual sistema elétrico precário, eles se utilizam de um artifício criado na década de 30 que lá atrás já confundia em vez de explicar.

Stephen Hawking acredita que existem muitas coisas “entre o Céu e a Terra que a nossa vã filosofia não explica”. Eu também.

Será que o inventor do horário de verão andou sabendo que o planeta Júpiter poderia ser transformado em estrela, e assim teríamos dois sóis, e mais, não teríamos noite.

Estava resolvido o problema? Ops, de que jeito? Não. Com dia permanente a vida na Terra seria impossível.

Não nos consideramos privilegiados pelo que a natureza nos concede. Somos egoístas demais para nos vermos como Espíritos em evolução constante num Universo que sempre existiu, mas que não admitimos sua grandeza eterna.

“Deus povoou de seres vivos os mundos, concorrendo todos esses seres para o objetivo final da Providência.

Acreditar que só os haja no planeta que habitamos fora duvidar da sabedoria de Deus, que não fez coisa alguma inútil.

Será que nossa mente não vai além da dimensão de uma casca de noz?

Será que a metáfora da noz está representando a nossa pequenez?

Sem querer ser indelicado, eu posso responder com uma pergunta.

Ao quebrar sua noz na ceia não sobraria alguns segundos para admirar a grandiosidade do seu significado?

Que seja Natal todo dia.

Feliz Natal.

Na Luz e na Paz.

Nilton Salvador
Enviado por Nilton Salvador em 23/12/2007
Reeditado em 19/05/2009
Código do texto: T789702