RETROSPECTIVAS ATUAIS

Em 1985, li um livro escrito pelo especialista em psiquiatria infantil e do adolescente Ernest Christian Gauderer, sobre Autismo. Penso que na época foi o primeiro sobre o tema, escrito por um brasileiro - Década de 80 – Autismo – Uma atualização para os que atuam na área: do especialista aos pais.

Na época eu já reclamava muito da falta desse tipo de literatura, pois no Brasil tinha só uma meia dúzia de autores traduzidos e como já tínhamos uns seis anos na batalha contra a então definição resumida do Autismo, pela Society for Autistic Children dos EUA em 1978, três anos depois do nascimento do meu filho quando ele fora diagnosticado autista por uma corajosa psicóloga, devidamente confirmado pela psiquiatria.

O livro foi de grande valia, pois pouco ou quase nada existiam a respeito do autismo, com exceção as publicações estrangeiras

Em 1993, novamente o doutor Gauderer, publicou o livro Autismo e Outros Atrasos do Desenvolvimento, no qual reuniu artigos de especialistas com o objetivo de informar sobre esse distúrbio no desenvolvimento, atualizando profissionais de saúde e educação, proporcionando um tratamento mais eficaz e atual a crianças, adolescentes e adultos autistas. Tanto o especialista quanto o leigo que desejassem se informar sobre o assunto puderam se beneficiar com esse trabalho.

Não combinamos nada, mas neste mesmo ano eu publiquei o meu livro, Vida de Autista – Uma saga real e vitoriosa contra o desconhecido, mesmo porque o doutor Gauderer era um especialista em autismo, e eu, apenas pai de um deles que obtivera vitórias altamente significativas contra a síndrome.

“Quanto maior a nossa ignorância profissional, maior será a nossa prepotência, onipotência e certeza de cura. Esta postura permitirá furtarmo-nos de sensações de insegurança, medo e ansiedade, frente àquilo que não sabemos. Tornamo-nos radicais e senhores da verdade.” disse ele.

Já eu, que ainda não tinha lido o livro dele, escrevi no Vida de Autista: “Não há nada mais trágico no mundo que uma pessoa manter pensamentos de limitação sobre outro ser humano. Um pensamento de imperfeição, projetado sobre uma pessoa sensível, restringe algumas vezes essa pessoa. Durante muito tempo esses resultados são calamitosos. Aprendemos a dar a cada pessoa que nos cerca, em qualquer ocasião, sua completa liberdade mental.”

Dia desses estava conversando com uma amada amiga, mãe de autista. Entre veio de antes e vai de agora, eu dizia para ela que, devíamos cobrir nossas mágoas e rejeições sofridas com camadas e camadas de amor, tipo a pérola, já que há pouco tempo atrás nossos autistas, além de encapsulados, foram comparados a ostra. Poucos de nós se lembram disso e muitos preferiram esquecer-se da comparação até por desconhecer a grandeza da analogia.

Com rezas, benzimentos, raiva, liminentos, doses homeopáticas, alopáticas, florais e chazinhos, broncas, dúvidas, discussões, tratos e contratos com “átras, istas, ólogos, eutas, e etc, etc... Suportamos as dores... Cansamos... Mas não desistimos.

Entendemos que ser autista, significa um verdadeiro recomeço para que o estágio terreno seja um tempo de paz e alegria no coração de quem o tem.

Vida de Autista ainda é um jovem livro que com 14 anos depois do seu lançamento, além de edições contínuas, resiste catalogado nas livrarias.

Mais uma vez foi premiado. Agora pelo Movimento Orgulho Autista Brasil, como livro destaque, o que enche de orgulho este pai/autor, sua família e o próprio personagem principal, que no seu singelo discernimento demonstra o sentimento da emoção ao saber do ocorrido, embora a resistência de alguns setores profissionais em teimar pela limitação sentimental mental do seu semelhante, autista ou não.

A atualidade do Vida e Autista é tão impressionante quanto os livros do doutor Gauderer.

Nada mudou no front, como diz minha amada amiga, ou nada se deseja que mude no front.

Nessas ocasiões costumamos repetir que continuaremos iguais ao passarinho, fazendo a nossa parte, de gota em gota tentando apagar o incêndio da floresta.

Ficando feliz saboreando aquela lágrima doce que correu até os lábios.

Muito obrigado Movimento Orgulho Autista do Brasil. Também para todos que fizeram e fazem parte do nosso universo autista, e quem mais chegar.

Nilton Salvador
Enviado por Nilton Salvador em 04/01/2008
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