Segunda Guerra Mundial: fatos não esclarecidos

Primeiro de setembro de 1939. A invasão da Alemanha nazista à Polônia dá início à que seria uma das mais sangrentas batalhas de todos os tempos. Deixando um saldo de ultrapassa os 50 milhões de mortos – número a que não são somadas as 28 milhões de pessoas, entre civis e militares, mutiladas em combate – a Segunda Guerra Mundial foi um marco na história do jornalismo. Das centenas de repórteres escalados para cobrir a guerra, 69 não retornaram as suas casas. Desde a Segunda Guerra, calcula-se que em torno de 2 mil jornalistas tenham sido mortos no exercício de sua profissão. Além dos jornalistas vitimados pela guerra, a antiga União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), perdeu 20 milhões de vidas. A Alemanha, 13 milhões. O macabro plano de Adolf Hitler, líder da Alemanha durante a Segunda Guerra, ainda levou à cabo mais de seis milhões de judeus, vítimas de um cenário de completa degradação humana dentro dos campos de concentração.

Faltando pouco para o início da guerra, em face da decisão de invadir a Polônia, Hitler concluiu que um acordo com o líder máximo da União Soviética, Joseph Stálin, era urgentemente necessário. As reuniões entre as potências começaram no dia 12 de agosto de 1939, mas a discrepância entre o que o ocidente estava disposto a oferecer e o preço exigido por Stálin era insuperável. Em 14 de agosto, Hitler decide mandar a Moscou o ministro das relações exteriores alemão, Ribbentrop.

Após quase dez dias de negociações, em 23 de agosto, o comissário para o exterior (cargo equivalente ao de ministro das relações exteriores) da União Soviética, Viatcheslav Molotov, assinava o pacto germano-soviético de não agressão. Este pacto, que levara o nome dos ministros das relações exteriores das duas potências, Ribbentrop-Molotov, destinava-se a dividir a Polônia e a Europa Oriental em esferas de influência: Stálin ficaria com o leste da Polônia, Letônia, Estônia, Finlândia e a Bessarábia, na Romênia, enquanto Hitler ficaria com a Lituânia. Hitler aprovara os termos do pacto.

Em primeiro de agosto de 1939, certo de que Stálin não interferiria em seus planos, Hitler ordena que três Stukas (aviões de combate alemães) invadam o espaço aéreo da Polônia em missão de ataque. Era o início oficial da Segunda Guerra Mundial. Dois dias após o ataque, Inglaterra, França, Austrália, Índia e Nova Zelândia decidem entrar no combate, declarando guerra à Alemanha. Os Estados Unidos declaram-se neutros.

A questão polonesa

O pacto não significava que Stálin e Hitler tivessem abandonado inteiramente suas ideologias. O historiador americano John Lukacs, autor de mais de 20 livros, entre eles “O duelo: Churchill x Hitler” e “Uma nova República”, afirma que Stálin desejava manter a URSS fora de uma guerra que se aproximava rapidamente. “Num certo momento, a União Soviética poderia recolher as ruínas da Europa e surgir triunfante num continente devastado pela guerra”, afirma Lukacs.

Em discurso dado ao Politburo, principal organismo político do Partido Comunista, Stálin declarou: “sei o que Hitler quer. Ele pensa que é mais esperto que eu, mas fui eu que o enganei”. A guerra, explicou ele, “vai nos ignorar por um pouco mais de tempo”. Às duas da manhã de 17 de setembro, Stálin ordena que o Exército Vermelho ataque a Polônia. Hábil com as palavras e sábio ao utilizar a mídia em favor dos interesses de Stálin, Molotov foi ao rádio para anunciar o “dever sagrado de oferecer ajuda aos irmãos da Ucrânia e da Bielo-Rússia”. Os ucranianos saudaram as tropas soviéticas como verdadeiros libertadoros.

A população polonesa, contudo, sofreu com ataques tão cruéis e trágicos quanto os dos nazistas. O primeiro-secretário de Moscou, Nikita Khruchióv, suprimiu quaisquer partes da população que pudessem se opor ao poder soviético: padres, oficiais, nobres e intelectuais foram seqüestrados, assassinados ou deportados, para que fosse eliminada a própria existência da Polônia. Em novembro de 1940, um décimo da população polonesa – ou seja, 1,17 milhão de inocentes – já havia sido deportada. Trinta por cento deles estavam mortos em 1941. Os presos foram 60 mil. Fuzilados, 50 mil. Os soviéticos comportaram-se como conquistadores.

O olhar de Hitler sobre a União Soviética

Para Stálin, a sugestiva, mas imprecisa, expressão “esferas de influência” significava total liberdade de ação na região da nova fronteira russo-germânica que tinha ficado ao seu lado. As partes da Polônia ocupadas pelos soviéticos foram simplesmente anexadas à União Soviética.

Em abril de 1940, Hitler invadiu a Dinamarca e a Noruega. No dia 10 de maio, os exércitos germânicos rumaram para o Oeste. A Holanda rendeu-se em quatro dias, a Bélgica em 18, a França em menos de seis semanas. No dia da queda de Paris, Stálin ordenou a plena incorporação dos Estados bálticos ao seu Império. Dias depois, apresentou um súbito ultimato à Romênia, exigindo a entrega da Bessarábia. Hitler estava agora perturbado com a interpretação de Stálin a respeito do significado “esfera de influência”.

De acordo com o historiador britânico Simon Sebag Montefiore, foi neste momento que o olhar e mente de Hitler começaram a se deslocar para Leste, imaginando o que a conquista da União Soviética pela Alemanha poderia significar nesta guerra. “A Alemanha havia conquistado toda a Europa, ou a maior parte dela”. Agora, afirma o historiador, “faltavam apenas os dois extremos do continente: a União Soviética a e Inglaterra”.

Um ataque iminente

Stálin pensava que Hitler planejava invadir a Inglaterra. Nenhum de seus agentes tinha conhecimento da declaração de Hitler a seus generais, em 31 de julho de 1940, para preparar uma eventual invasão da Rússia. O aumento das tropas alemãs na Polônia e a anexação do território da Romênia à esfera de influência de Hitler começaram a deixar Stálin inquieto.

O líder soviético propôs, então, um projeto com escopo muito maior: a divisão da Europa, Ásia e África entre as esferas de influência da Alemanha, Itália, Japão e União Soviética. A esfera de influência da Alemanha incluiria a África central; A italiana, o Norte da África; a japonesa, o Sudeste asiático; a soviética, o Sul de seu império, no Oriente Médio, na direção do oceano Índico. Esse projeto incluía cinco protocolos secretos: um sobre a Bulgária, outros sobre a Finlândia, as relações russo-japonesas, a Turquia e os estreitos turcos; em suma, a divisão dos Bálcãs e uma possível divisão da maior parte da Eurásia.

Não houve resposta de Berlim, nem mesmo uma confirmação do recebimento da proposta. Neste momento, a imprensa soviética já publicava ocasionais comunicados da Wehrmacht, as forças armadas nazistas.

Em primeiro de março de 1941, o Exército alemão invadiu a Bulgária. Em seguida, os exércitos de Hitler invadiram e dominaram a Iugoslávia ao estilo Blitzkrieg, a guerra relâmpago de Hitler. Isso levou a um episódio surpreendente na história da diplomacia stalinista: um tratado de não agressão com os japoneses.

A partir de então, a chave para o que se seguiu não é mais a competência de Stálin como estadista, mas a persistência de sua fé em Hitler. Os relatórios chegavam toda hora a Moscou, não apenas sobre a quantidade crescente de divisões alemãs na Polônia, mas também sobre a decisão de Hitler de invadir a Rússia, alguns deles mencionando meados de junho.

Roy Medvedev, renomado historiador russo e autor da monumental obra Que a história julgue: As origens e conseqüências do stalinismo, cita em seu livro Um Stálin desconhecido que “dizer que Stálin teve relutância em acreditar neles [Hitler] é atenuar o fato: ele simplesmente não acreditou”. O historiador afirma que Stálin não podia acreditar que Hitler resolvesse entrar em uma guerra com ele num momento em que a Alemanha enfrentava a Inglaterra. “Uma guerra em duas frentes era algo que Hitler não iria desejar”, disse Medvedev.

Stálin faria ainda outra tentativa de impressionar Hitler com sua amizade: em 10 de maio, ordenou o rompimento das relações entre a União Soviética e os governos belga, holandês, norueguês, grego e iugoslavo, assim como a expulsão das delegações desses países de Moscou. Stálin queria demonstrar sua intenção de colaborar com a Alemanha.

Mais de uma dúzia de livros e um número muito maior de artigos agora contêm textos e listas de documentos secretos, e às vezes não, expedidos de Moscou durante os dois últimos meses antes da invasão alemã. Muitas dessas informações foram citadas por vários escritores, historiadores, arquivistas, romancistas e amadores, assim como acadêmicos, nas duas últimas décadas, devido à disponibilidade parcial dos arquivos russos. Muitos desses relatórios são reveladores, dramáticos e chocantes, especialmente em retrospecto. Eles provêm, em primeiro lugar, de estadistas, de líderes de outras grandes potências.

Winston Churchill, estadista britânico, e Franklin Roosevelt, então presidente dos Estados Unidos, mandaram-lhe informações detalhadas a respeito da concentração das tropas alemãs na fronteira da Polônia. Stálin foi em frente, acreditando em Hitler. Da longínqua China, veio um relatório de Chiang Kai-Shek, apontando a data do ataque alemão para 21 de junho de 1941. De Tóquio, o agente de estado russo Richard Sorge foi enfático: “a Alemanha começará uma guerra com a União Soviética em meados de Junho. Repito, nove exércitos e 150 divisões iniciarão uma ofensiva no amanhecer de 22 de junho”. Stálin demitiu Sorge.

Mais revelador ainda, de acordo com Lukacs, é o caso dos vôos de reconhecimento realizados pelos alemães, violações óbvias do princípio soviético de soberania do Estado. Stálin mandou expedir uma ordem: “em caso de violações da fronteira germano-soviética por aviões ou balões alemães, não abram fogo”.

22 de junho de 1941: União Soviética entra na guerra

O resultado da ordem do líder soviético de dar carta-branca ao reconhecimento aéreo alemão foi o desastre: às 3h15 da manhã de 22 de junho, a Luftwaffe destruiu quase metade da força aérea russa. Ao amanhecer, o povo da Alemanha soube ao acordar que estava em guerra contra a União Soviética. Começava aí a “Operação Barbarossa” - referência ao antigo rei germânico e titular do Sacro Império Romano no Século XII -, aprovada por Hitler em 18 de dezembro do ano anterior.

A explicação ainda mais amplamente aceita sobre os propósitos do Führer ao atacar a URSS é de que seus motivos foram basicamente ideológicos. Muitos historiadores têm usado esse argumento. À primeira vista, isso parece convincente, mas as próprias palavras de Hitler são uma prova do contrário.

Montefiore, contudo, discorda. Ele afirma que “Hitler lutava contra toda a esperança, imaginando que fosse possível evitar que os Estados Unidos entrassem numa guerra verdadeira contra ele”. Caso a Rússia fosse eliminada, continua o historiador, “talvez então passasse a ser impossível para Roosevelt e Churchill permanecerem contra a Alemanha. Em 29 de maio, Hitler disse a Walter Hewel, confidente e membro de seu círculo mais íntimo, que, uma vez derrotada a Rússia, “isso forçará a Inglaterra a procurar a paz. Espero que este ano”.

Partindo do princípio de evitar uma guerra contra os Estados Unidos, Hitler expediu uma ordem peremptória a todos os navios de guerra e submarinos alemães no Atlântico: “evitem, sob quaisquer circunstâncias, atingir navios norte-americanos; nem mesmo reajam se atacados”.

A posição de Moscou

Na manhã de 22 de junho, Hitler teve sua costumeira dose de sono. Stálin não. De acordo com Molotov, isso ocorreu por volta da 1h da manhã. Por volta das 4h da manhã, foi acordado com um telefonema informando que bombas alemãs já estavam sendo lançadas sobre grandes e pequenas cidades russas. Tropas, canhões, cavalos e tanques germânicos já estavam em território soviético. Às 4h30, Stálin reuniu-se no Kremlin, sede do governo da União Soviética, com os integrantes do Politburo. Ele ainda resistia a acreditar na guerra contra Hitler. De acordo com Molotov, ele ainda murmurou: “pode ser uma provocação dos oficiais alemães”.

Momento decisivo: EUA declaram guerra ao Eixo

Até o ano de 1941, apesar da insistência de Churchill, os Estados Unidos ainda não haviam declarado apoio aos países aliados. De acordo com Carlos Gomes de Araújo, doutor em história pela PUCRS, os Estados Unidos, por terem uma política predominantemente anti-comunista, não poderiam declarar apoio à União Soviética, país responsável pelo levante comunista que mudou o curso do século 20. Araújo disse que “os americanos precisavam de uma desculpa que permitisse o apoio dos cidadãos americanos à entrada dos Estados Unidos na Segunda Guerra”. Essa “desculpa” veio dos japoneses: em 7 de dezembro de 1941, o ataque japonês à base naval norte-americana de Pearl Harbor leva os EUA a declarem guerra aos países do Eixo.

O término da Guerra

Após quase seis anos de batalha, a chegada das tropas soviéticas a Berlim força Hitler a tomar uma decisão extrema: no dia 30 de abril de 1945, o Füher e sua esposa, Eva Braun, suicidam-se. Hitler mata-se com um tiro na têmpora direita. Eva seguiu o suicídio, ingerindo cianeto. Seus corpos nunca foram encontrados.

No dia 7 de maio do mesmo ano, o almirante Doenitz reune-se com o alto comando alemão e assina a rendição da Alemanha.

A Segunda Guerra Mundial, contudo, só termina oficialmente com o lançamento das duas bombas atômicas sobre as cidades de Hiroshima e Nagasaki, fato que culminou na rendição do Japão.