Mocinhos Miúdos

O que mais esmorece e desilude o indefeso cidadão comum, quando assiste o combate à violência, seja no Rio ou em qualquer cidade brasileira e até mesmo no mundo, é que o poder apenas desloca de grupo. Na base do quem combate quem também é quem, ou seja, “se correr o bicho pega, se ficar o bicho come”, deixa a todos num estado de impotência socialmente patológica.

Parece-nos que o ideal da liberdade e da democracia foram patenteados pelos Estados Unidos e Inglaterra. Qualquer nação do mundo que pretenda ser livre ou democrática tem que importar ou se adaptar direta ou indiretamente à impagável fórmula “patenteada” pelos seus supostos proprietários. Da mesma forma, e sem qualquer fronteira ideológica ou territorial, o crime organizado ou desorganizado, que se nutre com grande apetite das mazelas e misérias dos regimes políticos, estabelece uma estrutura de corrupção abrangente, que contagia governos, criando uma horda interminável de patentes do crime, cujos intérpretes vão de exploradores a explorados. Importante observar que, também no crime, os meios de produção passam a ser apropriados pelos seus financiadores, criando uma vasta massa operária nas lacunas sociais.

Debaixo de fogo cruzado, o homem comum, já traído, retraído e desiludido, vê aniquilada a sua capacidade crítica, posto que não há como sustentar certezas num mundo em que os antagônicos estão podres. Estabelece-se o caos e a balbúrdia e a obscenidade altera o seu foco . Hoje, o que mais impressiona e choca, é a tomada de consciência dos fatos. É a molecagem praticada por grande parte dos membros das instituições e por muitos daqueles que seriam os legítimos representantes do interesse público.

Dizer que os fatos não estão passando da medida é admitir que ainda podem piorar. Dizer que a realidade é assim mesma, que é porque no passado nos surrupiavam informações, é estar sendo mais realista que a realidade!

As experiências passadas dos EUA na Coréia, no Japão, no Vietnã, e, no presente, no Iraque e em outras empreitadas, não os credencia a colocar em risco todo o mundo e soa tão mal quanto a sanguinária e briguenta carnificina patrocinada pelo crime organizado. O cidadão comum, como já dito, não tem certeza de mais nada, mas, seguramente, sabe que impera a lei do mais forte e sabe também que muitas vezes o mais forte não é o mais valente e que é muito fácil passar por valente com um fuzil na mão contra uma criança que lhe arremessa pedras com um estilingue. Quando se observa a história é impressionante a constatação de como os covardes são oportunistas e os valentes apaixonados idealistas.

A sorte dos mais fortes e covardes é que as vezes há covardes de ambas as partes!

Todo cuidado é pouco, a opinião pública mundial é que acaba por delinear o futuro da humanidade.

O Cowboy e o Cavaleiro da Távola Redonda perderam literalmente a paixão da valentia e as Mil-E-Uma-Noites perderam a sua magia. Os mocinhos tornaram-se miúdos demais.

Di Amaral
Enviado por Di Amaral em 14/01/2008
Código do texto: T816655
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