Sem medo de falar

Sem medo de falar

É muitíssimo comum ver as pessoas , ao conversarem, se preocupar em falar corretamente (leia-se, falar de acordo com a norma culta da língua). Antes de expressarem suas idéias, tentam encontrar, nos resquícios da memória, os ensinamentos de gramática dados pelo professor em sala de aula. Porém, leigas que são, elas desconhecem um dado crucial que acabaria de vez com esta dolorosa angústia: não se fala como se escreve e vice-versa.

Curioso é perceber como este simples equívoco produz uma inquietação e uma indisposição para a realização de um ato tão espontâneo que é a fala. Mas não podemos culpar de todo os falantes do português. Estes são vítimas de um pensamento arraigado no ensino escolar do Brasil que se baseia na dicotomia do certo e do errado. Os professores da disciplina da Língua Portuguesa não se cansam de dar exemplos e ridicularizar os “erros” deste ou daquele falante. Sem se preocuparem em analisar as várias formas lingüísticas, incutem no aluno a noção de que existe apenas uma maneira de falar e escrever. Os próprios professores são leigos nos estudos lingüísticos.

Como bem proferiu Evanildo Bechara no Fórum de Estudos Lingüísticos, realizado na UERJ em 2005, faz-se mister a diferenciação da língua escrita e da língua falada pelas escolas brasileiras. As pessoas têm que se dar conta que o processo da fala e o processo da escrita são de motivações diferentes. E somente na escola pode-se compreender isto.

Reciclando os professores e tornando público os avanços das pesquisas na área de Lingüística se fará possível o combate ao preconceito lingüístico e se tornará o ato da fala menos angustiante e atormentador.