O Estado, a participação política e o jornalismo

A função do Estado em uma sociedade de massa é dar ordenamento e estruturar as leis amparadas por instituições de gerenciamento que o compõem. Trocando em miúdos o Estado funciona como uma espécie de espinha dorsal da sociedade.

Notamos que, ao longo dos anos, este mesmo Estado vem sofrendo lesões estruturais, provocando o que chamamos conflitos e contradições de papéis estatais, refletidos na sociedade. O Estado deteriorado não assegura mais a igualdade entre os homens, surgindo então a “politicagem” dos partidos políticos, compostos em sua grande maioria por burgueses neoliberais, egocêntricos que saem de seus Castelos particulares e tomam posse da esfera pública gerindo a vida da sociedade conflituosa, instrumentalizados pela máquina estatal, e ao mesmo tempo, instrumentalizando a sociedade a seu favor.

Estes políticos idiotas (que não enxergam a vida da coletividade e sim seus próprios interesses privados e pessoais) por meio de organizações sócio-político-burocráticas de representação nacional, usam a força de trabalho dos proletários para implementar ideais liberais. A contradição e os conflitos já não podem mais ser facilmente abafados, pois as fraturas estatais estão expostas e todo o circo montado pelos políticos é desmascarado. Grandes desigualdades assolam a sociedade de baixa renda, que se mobiliza em movimentos sociais.

Os proletários, através de sindicatos, vão se fazendo aparecer de uma forma mais contundente e organizada, emergindo líderes sociais dotados de grande carisma que permanecem longos anos no poder de suas organizações, internalizando um pensamento burguês, desmascarando a lógica capitalista sedimentada pelas elites, por meio da mídia.

O desejo humano pelo conforto material, se torna de certa maneira uma das válvulas de escape da legitimação da idéia de contrato social como forma de garantia de propriedade e poder. Isso faz com que os líderes sindicais sejam seduzidos por este conforto material, fazendo-os capazes de qualquer ato para permanecer no poder.

A manutenção deste poder pelos políticos se dá de pai para filho, reproduzindo historicamente como faziam os reis, os caciques e os mafiosos. A força da mídia representada tanto pelos jornais como também pelo rádio e a TV alimenta a cobiça destes políticos. Começam então as articulações políticas com o objetivo de possuir tais veículos de comunicação de massa. Não demora muito e logo criam leis que lhes permitam explorar estes veículos com as chamadas concessões federais, dando plenos poderes a eles de veicularem os assuntos e notícias que lhes amparassem ideologicamente tornando-os, além de burgueses ricos, também poderosos donos universais do poder de coerção e hegemonia ideológica manipuladora das massas.

Combater esta cultura de dominação praticada pelas elites no seio da sociedade é papel dos jornalistas. Como? Dar uma notícia amparada em fatos reais, agindo não de forma isolada mas de forma organizada e contundente, como um verdadeiro agente social denunciando e mostrando os desmandos e os abusos provocados pela classe política como um todo.

O gatekeeper que seleciona o que é ou não notícia é livre em seu poder autônomo de selecioná-la, porém muitas das vezes esta seleção é barrada por um editor chefe que transforma uma verdade em meia verdade atendendo muitas vezes a interesses político-econômicos. É preciso que a classe jornalística se ampare na ética profissional de sua categoria e se fortaleça diante das grandes mazelas e contradições sociais que vitimam a sociedade. Noticiar instrumentalizado em técnicas e métodos para construir a notícia usando em seu favor a liberdade, a independência, a autonomia, a credibilidade, a verdade, o rigor, a exatidão, a honestidade, a noção de eqüidistância, de forma objetiva e imparcial, a fim de prestar o melhor serviço à sociedade é, na minha concepção, o papel do jornalismo e do jornalista no mundo.

A violência em que vivemos hoje é fruto desta concepção ideológica praticada por velhos políticos que fizeram e fazem política em benéfico próprio. O alargamento da disparidade econômica da sociedade brasileira, composta por classes dominantes (organizadas) e dominadas (desfragmentada) gera ricos com seus carrões, mansões e roupas de grife e pobres morando em áreas de risco, favelas, sem ter o que comer, humilhados em sua dignidade, não tendendo a ter outro fim, senão este, melancólico, mas em meu ponto de vista, ainda reversível.

Os ricos ao construírem a desigualdade se esqueceram que em uma sociedade não se vive só, ao contrário, pessoas mesmo com opiniões, ideologias e classes sociais diferentes, vivem juntas e dependem uma das outras para gerar as riquezas de que o país precisa.

Como disse Cristóvão Buarque em artigo do Jornal O Globo “não adianta a pessoa ser rica e viver aprisionada em seus castelos, ostentar bons carros e não poder usar, boas roupas e não poder usufruir, sabendo que pode ser roubado, seqüestrado e muitas vezes morto”.

São motivos banais! Não é? Mais é isso que determina o grau de desigualdade em um país, com um povo lindo e ao mesmo tempo diferente em tudo, até mesmo em grau de cidadania, se é que isso tem grau.

A corrente política e a elite que vigoram em nosso país, hoje são vítimas do monstro da desigualdade que criaram. A sociedade civil e política têm que se organizar a fim de corrigir o quanto antes esta dívida histórica para não ficar caro demais a ponto de custar suas vidas.

Sabemos que isso não irá acontecer da noite para o dia. Mas sou otimista, como jornalista detentor de técnicas e mecanismos éticos, conseguiremos modificar esta realidade.