O ato de ensinar Português

O ato de ensinar Português

Segundo Geraldi (1997, p. 47), se o objetivo das aulas de língua portuguesa é oportunizar o domínio do dialeto padrão, devemos acrescentar outra questão: a dicotomia entre ensino da língua/ensino da metalinguagem. A opção de um ensino da língua considerando as relações humanas que ela perpassa (concebendo a linguagem como lugar de um processo de interação), a partir da perspectiva de que na escola se poder oportunizar o domínio de mais de outra forma de expressão, exige que reconsideremos o que vamos ensinar, já que tal opção representa parte da resposta do que ensinamos.

O ato de ensinar Português na escola está ainda, atrelado ao ensino fundamentalmente gramatical de uma língua materna. Embora os educadores tentem trabalhar diversos saberes, provocando uma interdisciplinaridade, a prioridade ainda é o ensino da gramática tradicionalista normativa, o que provoca uma apatia em relação à disciplina.

Essa atitude de supervalorizar o ensino de língua tradicional, desprezando as variantes lingüísticas, interfere diretamente na aplicabilidade do estudo, porque toda e qualquer variação é vista como errônea, e aquele que fala diferentemente fala errado. Já está mais que provado através de pesquisas lingüísticas que o falante aprende a língua no próprio uso, construindo um conjunto de regras, que constituíra a sua gramática interna, criando assim, um caminho inverso, que desconsidera essa forma, pela qual o falante adquire sua competência lingüística, partindo das regras para o uso.

Muitas vezes os textos têm servido como pretexto para os professores continuarem trabalhando a gramática, e de forma assistemática, sem dar aos alunos um embasamento teórico que os leve a refletir sobre os recursos lingüísticos, estilísticos e semânticos para a estruturação de bons textos.

Outro aspecto importante da pesquisa está relacionado ao fato de que alguns professores, ao tentarem sair do uso do livro didático, usando quase que somente os textos dos alunos para a discussão dos conhecimentos lingüísticos, não conseguem apresentar uma base teórica suficiente para discutir com objetividade e clareza os aspectos lingüísticos que aparecem nos textos. Isso faz com que o aluno não apreenda o conhecimento, e ainda fique mais confuso em relação a determinados conteúdos.

Segundo Bagno (1999, p. 67) em seu livro Preconceito Lingüístico, o quê e como: Um dos fundamentos da boa ciência é investigar as regras e leis que provocam os fenômenos naturais, que fazem as coisas acontecerem. Só que no ensino da gramática, em vez de investigarmos as regras e as leis, nós simplesmente as entregamos prontas e acabadas para os alunos, que são obrigados a decorá-las, sem terem percebido de modo mais palpável por que as coisas funcionam daquele jeito.

Estamos vivendo há muito tempo a era educacional em que o professor deve estar em contato permanente com as questões atuais relacionadas à sua ação e também ao processo de ensino-aprendizagem. Isso lhe é dificultado pelas condições de vida e trabalho, pois a maioria dos educadores contam com pouca valorização econômica e precisam de uma renda muita maior do que lhe é oferecido para o sustento de sua família, o que provoca uma busca incessante por mais e mais.

Enfim, verifico a necessidade de reconstruir as formas de se trabalhar a gramática na sala de aula, transpondo-a de um trabalho mecânico e teórico, para um processo de reflexão que leve à melhor compreensão dos fatos lingüísticos encontrados nos textos, que tenham a ver com a realidade lingüística de cada aluno e que permitam ao aluno uma desenvoltura maior na oralidade e na escrita.

Daniel A. Burgos de Araújo

Formado em Letras - Língua Portuguesa e Espanhola

Especializando em Literatura mato-grossense

Daniel Burgos
Enviado por Daniel Burgos em 05/03/2008
Código do texto: T887698