Indissociabilidade na Universidade Brasileira: é possível de fato?

“Art. 207. As universidades gozam de autonomia didático-científica, administrativa e de gestão financeira e patrimonial, e obedecerão ao princípio de indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão.” BRASIL. Constituição (1988).

Indissociabilidade. Esta palavra que demarca a Constituição Brasileira de 1988 em relação ao conceito de universidade, freqüentemente pronunciada em discursos acadêmicos e que permeia grande parte dos documentos oficiais das instituições, ainda assombra diversas áreas da universidade por sua dificuldade prática de efetivação.

Primeiramente, é de bom tom elucidar o significado da palavra. In + dissociabilidade = qualidade de indissociável, ou seja, aquilo que não se pode dissociar, que não é separável em partes. Logo, falar em indissociabilidade do ensino, da pesquisa e da extensão é dizer que estes três pilares que compõe a universidade não podem acontecer separados, fragmentados em partes.

Uma breve conceituação desses pilares que constituem a universidade, conforme já usei em uma publicação anterior, nos auxiliará na compreensão deste processo educativo tridimensional. Grosso modo, podemos dizer que o ensino traz o conhecimento já elaborado até o aluno, a pesquisa instiga o aluno na geração de novos conhecimentos e a extensão possibilita o experimento desses conhecimentos por meio da aplicação na sociedade. Eis os pilares da universidade.

Surge, então, a primeira questão: como praticar a dita indissociabilidade?

Costumo exemplificar a indissociabilidade do ensino, da pesquisa e da extensão como um tripé que suporta em seu ápice uma luneta que, por sua vez, metaforicamente representa o fazer acadêmico enquanto produto da tríade da base. No exemplo do tripé, sabemos que ele permanece em pé unicamente se estiver sustentado por todos os três pilares. A luneta seria o símbolo daquilo que nos permite enxergar além de nossos próprios limites, ou seja, a capacidade de evolução, superação e inovação.

Surge, ainda, uma segunda questão: como educar (considerando aqui a educação o processo do ensino, da pesquisa e da extensão) sem “vestir-se” com uma espécie indissociabilidade “camuflada”?

Dentre as possíveis respostas para esta indagação arrisco citar um caminho que implica em três requisitos: 1) Garantir políticas institucionais e setoriais que assegurarem de forma clara a prática do ensino, da pesquisa e da extensão no cotidiano da academia e 2) Assegurar a compreensão e a práxis, por parte do corpo docente, de que o processo de educar acontece em três dimensões na universidade e 3) Direcionar as vocações acadêmicas de acordo com seus talentos.

Penso que, dentre estes três pontos, o último merece uma melhor explicação. Direcionar as vocações acadêmicas de acordo com seus talentos significa, primeiramente, admitir que existem professores/alunos com maior habilidade para a extensão, outros com maior habilidade para a pesquisa, e ainda, outros com maior habilidade para o ensino. Portanto, para o leitor não pensar que este ítem se opõe a tudo o que aqui foi dito sobre indissociabilidade, cabe explicar que, com isso, estamos calcando a indissociabilidade na Instituição Universidade e não estritamente no indivíduo professor. É justamente do emergir de todas estas habilidades, por diferentes profissionais e em diferentes relacionamentos, que o aluno vai transitar em seu processo educativo.

O momento, o tempo e a freqüência em que cada uma das dimensões acontece fica por conta da criatividade do corpo docente, que por sua vez, é quem articula em última instância o processo de educar.