Isabella Nardoni

O caso Isabella realmente está complicado. A ordem do momento, como diz o advogado de defesa dos principais suspeitos, é de cautela. Percebe-se claramente que a confusão está generalizada e as contradições ocorrem de ambas as partes – nas declarações dos envolvidos e da própria polícia.

Difícil avaliar e concluir com base nos fatos levantados. O que parece claro num dia, no outro mostra-se nublado. O que parece tão evidente num momento, no outro deixa dúvidas. Tudo indica que as aparências realmente enganam.

A polícia declara que 70% da cena do crime já está reconstituída, mas pode voltar à estaca zero se os principais suspeitos forem descartados com base em novas provas e em outra linha de investigação.

As declarações do pai da menina deixam a desejar, mas, considerando-se o fator psicológico e os motivos que o levaram a declarações inconsistentes, não devemos pré-julgar sem todos os elementos que compõe a real cena do crime.

O ambiente do crime (prédio e adjacências) pode ter sido contaminado após a ocorrência. Uma matéria de jornal mostra um prédio em construção nos fundos do quarteirão que teria sido invadido e pode ter sido parte da peça que compõe o tabuleiro deste jogo difícil nas mãos dos investigadores. Com base em declarações de testemunhas, esse prédio não teria sido vistoriado pela polícia na busca pelas pistas - o que pode caracterizar-se como falha importante e talvez fundamental. Os portões do prédio poderiam ter ficado aberto após a ocorrência e isso é outro fator de válvula de escape para o suposto criminoso, considerando-se a possibilidade de um terceiro envolvido.

O pai da menina aponta nomes de pessoas que poderiam ter interesse em prejudicá-lo e elas agora estão, naturalmente, sob investigação também. O comportamento dele e da madastra da menina antes da ocorrência não contribuem para incriminá-los – muito pelo contrário, pois o filme de um supermercado momentos antes da ocorrência mostra uma família normal em atitudes insuspeitas e bem comportadas. Claro que crimes passionais sempre contém elementos atípicos aos padrões convencionais e podem ocorrer num relâmpago e por motivos nem sempre compreensíveis à luz natural dos perfis psicológicos previamente traçados com base apenas em fatores conhecidos.

Com base apenas nos fatos conhecidos e declarados tudo é possível, desde o envolvimento do pai e da madrasta – direta ou indiretamente, e até de um terceiro que poderia ser, inclusive, um seqüestrador com intenções frustradas. Ninguém está declarando isso, mas é uma possibilidade a ser considerada. Declarações anteriores dão conta de que alguém teria perguntado várias vezes – a título de confirmação – se aquela seria realmente a filha dele. Por que alguém teria interesse nisso, senão por motivo de vingança ou seqüestro? Há quem diga que seria uma curiosidade natural de vigias do prédio e pode até ser, mas, se assim fosse, o mais lógico seria que eles perguntassem diretamente aos pais e não a terceiros. Numa linha de investigação nada deve ser desconsiderado – inclusive as possibilidades aparentemente mais absurdas.

O mais difícil nesse caso parece ser a definição do motivo do crime. Pelo que se percebe na mídia tudo é direcionado com base no perfil dos pais e, principalmente, da madrasta. Mas, considerando-se as condições financeiras da família – principalmente do avô paterno da menina, não se deve descartar a possibilidade de uma tentativa de seqüestro. Se consideramos essa possibilidade, e se o envolvido for inexperiente, tudo é possível e dificulta as investigações por falta de um padrão no modus operandi. Um seqüestrador inexperiente poderia se apavorar diante de uma reação inesperada da menina e reagir de forma irracional – isso já aconteceu na minha cidade. Tudo isso, porém, não passa de conjecturas.

A única coisa certa é que um crime contra uma inocente foi cometido e, após uma semana, nada de concreto se tem. A expectativa neste momento é com relação ao Hábeas Corpus.

A notícia deste momento na TV é de que o pai da menina teria telefonado à sua irmã e que ela teria dito na festa onde se encontrava que o irmão teria feito uma besteira... Se essa versão testemunhal for confirmada pode reverter tudo que está sendo questionado até o momento. A mídia afirma que a polícia está muito próxima de esclarecer o crime. A impressão que temos como expectadores, e com base nas últimas informações divulgadas, é que o pai da menina pode realmente estar sendo encurralado. Vamos ver como isso tudo termina...

O caso Isabella está realmente complicado! Estaria mesmo a ponto de ser solucionado? Hoje ou amanhã teremos uma resposta... Mas se isso não acontecer, a tendência é de se complicar ainda mais. Porque de duas uma: ou a linha de investigação está correta e o culpado será apontado ou tudo volta à estaca zero! Neste caso, as perdas já seriam irrecuperáveis...

Lourenço Oliveira
Enviado por Lourenço Oliveira em 10/04/2008
Reeditado em 10/04/2008
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