A política está paralítica

Na mitologia grega, cuja herança fabulosa nos permite conhecer o homem em sua mais profunda e insuperável criatividade, Prometeu foi um titã a quem Zeus deu a tarefa de criar o homem e todos os animais com a ajuda de seu irmão, Epitemeu. Este, que deveria criá-lo com maior perfeição diante dos outros seres, esgotara todos os seus recursos e, desesperadamente, pede ajuda a Prometeu que, com tamanha ousadia , rouba o fogo dos deuses e o dá aos homens para que estes se tornassem superiores e semelhantes aos deuses. Todavia, o fogo era um elemento de posse exclusiva das divindades e, como castigo pelo atrevimento, Prometeu foi acorrentado no alto de um monte, no qual abutres o dilaceravam pouco a pouco, mas por ser imortal, reconstituía-se. A punição durou milhares de anos até que Hércules, em uma de suas aventuras, o liberta do terrível cárcere, substituindo-o pelo centauro Quíron.

Esta rica narrativa mítica de Hesíodo, encontrada na obra Teogonia, não só nos remete a uma atraente história sobre a criação humana pela imaginação poética dos gregos, como nos permite ver por essa vertente a ausência de ousadia dos homens do nosso tempo. Vivemos uma época em que se cultua a malandragem, a esperteza, porém, não a coragem. Prometeu representa o desejo humano de conhecimento e benevolência, capaz de arriscar e compartilhar. O pensador Goethe já se referia ao personagem como imagem do homem livre e corajoso, conhecedor dos riscos e provido de uma ousadia essencialmente necessária, tão sabiamente retratada pelo poeta. Os líderes do nosso tempo não ousam, mas se repetem a partir de fórmulas enferrujadas. Temem o novo e se omitem diante das possibilidades de fazer diferente. A política está sendo usada para acomodar personagens anônimos, sem identidade – o característico lame duck (pato manco), como tipicamente chamam os americanos. Esses personagens incorporam vícios dos quais a sociedade torna-se refém, não no sentido de não notá-los, mas de admiti-los por constatar que a política é indissociavelmente ligada às práticas nefastas. No entanto, essas práticas maléficas não são apenas os atos de corrupção e imoralidade, cuja natureza conhecemos em si mesma, mas também o de não agir, de não ousar, de se omitir. A falta de atitude política assola o progresso das sociedades e corrompe as consciências tanto quanto os atos criminosos mais notáveis. Tomando as palavras de Arnaldo Jabor “Tudo vai melhorar quando a maioria das pessoas de bem forem mais ousadas que as canalhas”. A paralisia política é um crime!