ALCESTE DE CASTRO E SUAS INTUIÇÕES PELO INFINITO

Alceste de Castro e suas intuições pelo infinito

(*) Guimarães Rocha

A busca entendida como a mais difícil ou até mesmo impossível de atingir êxito, é a do infinito. Está dito: o amor resume todas as leis e Deus é amor; viver é amar, então viver é buscar a Deus. Ora, sendo Deus infinito e a sua natureza a perfeição; e sendo a imperfeição a nossa maior característica atual, como ao menos levantar um pouco o véu da existência, a não ser pela intuição? Alceste de Castro ousa pressentir o inenarrável.

Intuir (do latim intuere) significa “ver por dentro”. Então estamos falando de interioridade. Quem intui nada mais promove que um contato imediato com as forças divinas do próprio interior. O iluminado Buda, um século antes do maior filósofo, Sócrates, dizia que “Um homem no campo de batalha conquista um exército de mil homens... Um outro conquista a si mesmo, e este é o maior”. E Sócrates, 400 anos antes de Jesus Cristo, copiou a frase “Conhece-te a ti mesmo”, encontrada inscrita em local sagrado da Grécia antiga, no portal de um templo, e adotou-a por base da sua doutrina de autoconhecimento. Jesus Cristo, já há quase dois mil anos, revelou aos nossos corações que “O Reino de Deus está dentro em vós”.

O poeta escritor advogado e jornalista, procurador federal Alceste de Castro (Corumbá/MS, 1919-Campinas/SP, 2000), lançou em 1989 o livro de poesias “Da Intuição do Infinito”, cujo significado só apreendemos melhor pelo conjunto, saindo da prisão das palavras, visto que atira respingos luminosos, porém sobre o inexplicável. Antecedeu na Cadeira 36 da Academia Sul-mato-grossense de Letras, a escritora poetisa Lucilene Machado Garcia Arf (Patrono: Frânklin Cassiano da Silva). Publicou também as obras: Celestiais (1938); Crepusculares (1946); Os rios e outros Poemas (1957); Cantos heróicos; Baladas dos Sonhos; Crônicas de um Romance (1947); Um rio banhava o Paraíso; Realidades de mundos irreais; Literatura mato-grossense; Literatura corumbaense; A estética de Bilac; Corumbá de Antigamente; Ao meu Pai; Polônia Amada; A antiga questão de limites do Acre; e O Alcoolismo e o Direito Penal (monografia).

“O homem procura o que não pode ver”, provoca Alceste logo no preâmbulo, dando a entender que o real mais importante é inapreensível pelo sentido material bruto. Em ânsia cosmogônica, revolve lógicas e pressentimentos espiando por outras formas da vida no universo. No poema “Aspiração”: “A alma rompe os liames da matéria /E sobe, em espirais, pela amplidão. /Vasculha toda a vastidão etérea /Pelos caminhos vagos da intuição”. Na composição “As outras vidas”: “Há num raio de luz, talvez, mil vidas /Descendo no fulgor desse clarão. (...)”. No trabalho “A idéia”: “Há idéias que se formam na psique /E outras que vêm de mundos bem distantes. /Também há seres que jamais se vê /E pela esfera vão seguindo errantes”. No item “Muitas moradas”, a segurança lógico-profética do Mestre (certamente sobre a existência da vida em outros planetas): “É um apelo, uma ordem ou um aviso /Que vem de regiões ignoradas? /E escreve estas palavras que diviso: /— ‘A minha casa tem muitas moradas!’”.

A obra, para inquirir as coisas pretendidas por Alceste de Castro, abriga investigações surpreendentemente poéticas sobre as quatro dimensões dizíveis: uma temporal (o tempo) e três espaciais (comprimento, largura e altura); e, ao associar a esse conjunto, a velocidade (Em “O tempo... e o Espaço” — e depois “O número”), dá multiplicadores de potência (possibilidades psicofísicas) diante do nosso olhar embevecido.

As escrituras sagradas falam de homem (exemplo de Melquisedeque) vivendo entre os comuns, mas movimentando um corpo incorruptível; na salvação, o prêmio de um invólucro que não se desgasta. A expectativa de um grande consolo. Alceste de Castro vê que “outras criaturas” (em “As mensagens”) do infinito “(...) Talvez tenham, também, um corpo que não gaste, /E nós vamos nascendo, e vivendo, e morrendo”.

Sem ser fatalista, mas com profunda sabedoria alegando, na construção “O livre arbítrio”, que “Há um livre arbítrio individual, /Mas uma coletiva direção (...)”, o autor recorda as forças centrípetas (e centrífugas) do universo. Material a ser pensado por todos nós, para toda a vida.

Permanecem doloridamente, para a nossa alma pensada de tantas circunvoluções evolutivas, perguntas insaciáveis de olhos vermelhos. Alceste, por nós, pergunta em “A alma”: “Pode a alma, depois de desligada /Da matéria, subir, vaguear no espaço? (...)” — “(...) haverá uma outra evolução, /Não tomada da terra a mesma forma? (...)?”. E ele mesmo responde espantosamente no título “Os teoremas”: “(...) Nossa razão é fraca. E o nosso ser /É arraigado às mazelas da matéria. /É muito cedo para o homem ver /O que se passa na região sidérea. (...)...”.

Guimarães Rocha

(*) Poeta escritor, membro da Academia Sul-mato-grossense de Letras

Guimarães Rocha
Enviado por Guimarães Rocha em 27/04/2008
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