APODERANDO-SE DA FELICIDADE

É comum ver pessoas queixando-se indignadas que esse ou aquele parente, vizinho, conhecido ou desconhecido entremete-se em sua vida, o que parece trazer-lhes infelicidade. Se alguém lhe questiona sobre algo que está a fazer, logo pode ouvir como resposta: "O que você tem a ver com minha vida? Por acaso paga minhas contas?, como se a vida fosse apenas dinheiro e quem não paga nossas contas não tem nenhum direito a nossa estima e respeito.

É errado e prejudicial as pessoas saberem umas das outras? Porque isto irrita alguns? Seria porque o que fazem é imoral ou ilegal, então querem esconder? Seria que não querem que outros lhes façam ver que podem estar cometendo erros, talvez alguns que já tenham percebido, que podem levar-lhes à ruína, mas não tiveram humildade para reavaliar e retroceder?

Questionar alguém conhecido, querer saber de sua vida é pior que a indiferença? Que tal se todos fossem indiferentes, quando alguém precisasse usar o telefone do parente ou vizinho, precisasse de um analgésico que ele tem, de seu socorro de madrugada para levar ao pronto socorro e eles fossem indiferentes? Esse alguém seria mais feliz apenas com sua individualidade, podendo fazer o que bem entendesse sem colher as conseqüências dos atos egoístas? Seria mais feliz tendo que ouvir apenas a própria consciência e podendo suplantá-la quando lhe fosse conveniente? Seria feliz quando viessem os fracassos e não tivesse que suportar os outros dizendo que tinham avisado, nem humilhar-se admitindo ter sido orgulhoso, sendo que poderia ter acertado se ao menos tivesse avaliado a opinião alheia, mas muitas vezes experiente, dos pais, dos avós, dos irmãos e tios, ou, talvez, dos vizinhos, que por traz de uma aparente (ou assim entendida) mania de mexericar esconde preocupação e desejo de ajudar, proteger e preservar a felicidade do outro?

Parece que algumas pessoas querem viver isoladas para fazer tudo o que querem sem que nada nem ninguém lhes constranja ou restrinja, mas poderem ainda dispor dos outros quando deles precisarem e culpar os outros e as circunstâncias por seus fracassos. Ou querem simplesmente viver isoladas para fazer o que querem sem que nada nem ninguém lhes constranja ou restrinja, mas achando que dos outros jamais precisarão e sem fazer provisão para os fracassos, pois presumem de si mesmas que são infalíveis. Porém, quando dos outros necessitam por alguma precisão ou quando os fracassos mostram-se, não se constrangem em abrir mão de sua arrogada independência para buscar nos outros meio de suportar as dificuldades e frustrações, mas não humildemente, admitindo a culpa dos próprios fracassos, sim como ditadores, impondo-lhes que assumam essas culpas através de acusações ou queixumes.

É comum ver as pessoas infelizes por seus fracassos culpando as circunstâncias, o momento, o tempo, as outras pessoas, o marido, a esposa, a mãe e o pai, muitas vezes pelo casamento mal-sucedido, pela falta de polidez no trato, pelo mal andamento dos negócios, etc. A causa da frustração muitas vezes é o namorado que não chegou a tempo, a esposa que não pôs a roupa adequada, o dinheiro insuficiente, a chuva que impediu de sair para um lugar onde a felicidade está, o frio que causou o resfriado, em fim, tudo tem culpa, menos a própria pessoa.

No primeiro caso, a pessoa é infeliz porque seus vizinhos o incomodam querendo cuidar de sua vida. Isso lhe provoca raiva, que produz tensão, apreensão, depressão e tudo lhe vai consumindo. Seu estado emocional então parece depender e ser guiado pelos outros, pelo que podem estar pensando, querendo, dizendo ou causando. No segundo caso, as pessoas, o tempo e as circunstâncias lhe são injustas, causando-lhe frustração em várias áreas ou em todas. Logo, sua felicidade está atrelada às circunstâncias, aos outros e ao tempo. Isso tudo lhe comanda a vida em seu lugar. Quanto a aqueles que parecem querer controlar sua vida, a pessoa reivindica independência, arroga-se dona de seu destino, mas mais que isto, como se fora uma eremita numa ilha deserta. Todavia, não para pra pensar que se os outros são a causa de seu aborrecimento eles é que comandam sua vida. Portanto, já não é independente como pretende ser, não tem o controle da própria vida, ao contrário, não passa de alguém em pleno exercício de auto piedade.

No segundo caso, a mesma pessoa se posta ainda mais de impossibilitada, admitindo cabalmente que não pode controlar a própria vida, não pode responsabilizar-se por seus fracassos e corrigir os erros buscando os acertos. Logo, sua vida não pode ser melhorada, pois tudo depende de modificar a vida dos outros para que parem de produzir-lhe pressão e frustração. Entretanto, porque os outros não querem modificar suas vidas, nem ser modificados, logo a vida da pessoa queixosa continuará dando errado e ela terá apenas que se queixar, sentindo-se cada vez mais injustiçada e quanto mais injustiçada, mais pena terá de si própria e quanto mais pena de si tiver, mais impotente, inútil e desprezada se sentirá e quanto mais tudo isto, mais deprimida ficará. Ficará presa nesse ciclo doentio e jamais fará alguma coisa para melhorar e ser feliz, justificando com propriedade sua infelicidade eterna.

Contudo, ser feliz é muito simples. Basta inverter a forma de pensar. Não caia na armadilha da auto piedade para deprimir-se. Pense: "Nunca, jamais alguém me causou desgosto, movendo meus sentimentos. Ninguém pode manipular minha vida. Sou verdadeiramente independente e me guio pela minha vontade e meu próprio julgamento de tudo o que vejo, ouço e leio. Sou eu unicamente que comando vinha vida – o que vai acontecer comigo, como vou me sentir. Se quiser ser vencedor, serei, se achar que serei perdedor, eu mesmo produzirei o fracasso.

Se alguma vez me senti atingido por alguém, foi unicamente quando tive a fraqueza de deixar prevalecer minha auto piedade, ficando então claro que minha felicidade só depende mesmo é da minha vontade. Mas de hoje em diante não cairei mais na armadilha da auto piedade.

Imprevistos acontecem, catástrofes também, mas mesmo esses podem ser evitados e amenizados através do uso da perspicácia e da prudência e estas se adquire conhecendo as experiências já vividas dos outros, tirando lição de suas vidas e opiniões. De hoje em diante serei mais perspicaz e mais prudente. Serei também mais reservado, pois isto é também perspicácia e prudência. Somente exporei minha vida a quem já conhecer bastante e tiver muita confiança, sabendo que muitas coisas (quais elas) posso revelar com reservas a pessoas que querem se aproximar de mim, novos conhecidos. Claro que nem sempre e em nem tudo se consegue ser perfeitamente perspicaz e prudente, mas se sofrer algum ou alguns revezes, mesmo que involuntários, aprenderei novas lições de perspicácia e prudência, além que verei e mostrarei quão forte sou por poder vencê-los, em vez de atirar-me no queixume, na auto piedade e na depressão conseqüente."

Wilson do Amaral

Bê Hauff Witerman
Enviado por Bê Hauff Witerman em 28/04/2008
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