O olho do tigre

Então passou pela repartição de uma grande empresa Mauro, um jovem rapaz com futuro promissor, mas extremamente tímido. Era difícil saber onde residia aquele seu medo, falta de coragem para fazer o que precisava para se dar bem no emprego – alguns diziam que a história de sua vida era extremamente triste. Falavam que ele havia perdido os pais, que vinha de uma comunidade pobre e diversos fatores sociais motivavam o seu ostracismo. Mauro tentou se aproximar daquele universo novo onde estava se inserindo, chegava até mesmo a participar das brincadeiras dos colegas, porém era perceptível que lhe faltava algo para dar certo.

No início, Mauro até conseguia desenvolver suas atividades de forma correta, até mostrava que tinha talento para um novato. Claramente, ele tinha de se desprender de estigmas sociais antigos, algumas verdades preestabelecidas que o mundo acaba impondo naturalmente. E, infelizmente, mesmo passando o tempo de experiência na empresa Mauro não conseguiu engrenar, faltava o feeling para a coisa e talvez um pouco mais de disposição. Os colegas de emprego tentaram dar uma força, mas o ambiente criado pela sociedade brasileira – onde um indivíduo precisa de um esforço sobre-humano para deixar para trás uma história de miséria – fez com que ele sucumbisse. O Mauro não teve o chamado olho do tigre, uma percepção que vai além do que se pode ver, aquela sensação que alguns têm quando algo está se sobressaindo. A história de Mauro, se vitoriosa, acabaria merecendo capas de jornais e reportagens para a televisão justamente porque é inconcebível que alguém pobre e humilde dê certo em um país com tantas diferenças sociais – a menos que fosse um jogador de futebol ou coisa assim. Talvez a inércia de Mauro possa ser apontada como um dos motivos para seu recente fracasso. Porém, o que mais torna as pessoas incapazes é justamente a sociedade. Os agentes externos e todas as impossibilidades que o mundo apresenta para o sucesso ou a tal felicidade, os problemas sociais e a falta de ações políticas que acabem com estes itens, enfim, tudo à volta motiva o que aconteceu com Mauro.

Agora, o Mauro tem que se reerguer, como fazem muitos todos os dias, mas ele não sabe de onde buscar forças, não sabe quem procurar, não sabe como pode viver, não consegue trabalho. Mas ele não pode desistir, pois se ele não tentar, morre. Mauro precisa desenvolver seu olhar de tigre, mas o mundo é uma selva com animais ainda mais ferozes.