GUERREIRO
OU SIMPLESMENTE 
UM BANDIDO....

Um assunto complexo por certo, repercutido num Brasil de norte a sul, um passado distante mas, ainda lembrado por muitos. De fato, rendeu e sempre renderá linhas a nossa imaginação, levando-nos por um "tour" ao nordeste brasileiro, por volta do final do século XIX, início do século XX.

Veio a vontade de escrever, depois que comecei a ler um livro intitulado - GUERREIRO DO SOL. Eu não teria coragem de me embrenhar caatinga adentro como os atores desse artigo. No entanto, a época era outra, além do que o lugar colaborava p'ra tudo acontecer e um homem viria a escrever definitivamente seu nome na história impressionando a todos, pelas táticas usadas se fazendo respeitar por onde quer que passasse... Falo de um cangaceiro, sinônimo de sertanejo vestido de bravura e liberdade encravada n'alma, um mesclado de coragem com bandidagem e lá no cume relampeja ele, um cangaceiro chamado Lampião, um homem que se tornou "Rei do Cangaço" no sertão nordestino, considerado bandido malfeitor para uns, p'ra tantos outros um vingador das cruéis injustiças contra um povo sofrido e pobre quase miserável nascidos nas brenhas nordestinas, temos também, os coadjuvantes considerados por alguns ainda piores.

Os conhecidos macacos, na realidade faziam parte das famosas volantes. Macaco, apelido dado pelos cangaceiros porque eles pulavam feitos doidos quando viam o bando de Lampião despontando no horizonte escaldante do sertão!

Homem, cabra da peste, esse sujeito chamado Virgulino de batismo, cabra macho pernambucano vindo lá das bandas de Serra Talhada, nascido em 1897. Sua mãe nem de longe sonhava que num futuro adiante, esse mesmo filho sentiria prazer em derramar sangue. O destino reservará um futuro sanguinolento para essa cria que ora nascia.

Sua estória de vida e morte tornou-se inspiração para muitos livros, cordeis, músicas, filmes e seriados, despertando fascínio e medo, sempre em doses cavalares. Assim, pode-se dizer, uma vida passada em pelo menos sete estados do nordeste brasileiro, muitas delas documentadas, filmadas ou fotografadas. Lampião fazia questão de ter tudo registrado.

No escaldante sertão nordestino passa sua vida nômade, cercado de liberdade, armado até os dentes e com fiéis seguidores... a princípio formado por irmãos, primos e mais tarde amigos homens e mulheres de tudo que é idade... Início do século XX, época forte do cangaço, para muitos, era tido como meio de vida por aquelas bandas... Diziam que podia-se sentir cheiro de morte, por onde Lampião e seu bando passassem, era tiro p'ra tudo que lado!

Ataques, invasões, tiroteios e sequestros, p'ra Lampião tanto faz; gente quanto animal não importava, durante bom tempo... um só pensamento: se atrapalha o caminho afrente... era morte certa cravejada sem dó... Atirava primeiro, perguntava depois!

Um certo dia, numa dessas viagens, Lampião e seu banco cruzaram a fazenda de um coiteiro [pessoa que dava guarita aos cangaceiros] isso lá por volta de 1931, estavam só de passagem e, o destino pede passagem, quando o faz conhecer uma certa senhora, para os padrões da época, tida como mulher bonita, atendia pelo nome de Maria Déia Nenén, filha do coiteiro, mulher de um sapateiro. De tanto ouvir as estórias de cangaceiros contada pelos pais, torna-se admiradora do tal "Rei do Cangaço" mesmo sem conhecê-lo...

Por fim, acaba se apaixonando por Lampião, larga o marido e resolve ir embora fugida, ingressando a convite no bando de Lampião, passando a ser conhecida por outro nome.

A partir daí, passa ser conhecida por todos, como Maria Bonita, a 1ª Dama do Cangaço, abrindo passagem p'ra várias outras mulheres integraram ao bando. Maria Bonita, passou por um aborto e numa segunda tentativa de engravidar, nasce uma filha com ajuda do marido, a criança pouco conviveu com eles. Chamada Expedita, ficou pouco tempo com seus pais,  logo foi levada para ser criada numa outra família amiga do casal.

O destino mais uma vez, selaria esse romance arrebatador, agora com um trágico final, vindo a acontecer em Sergipe, na Fazenda de Angicos, no ano de 1938. Numa tocaia armada pelos macacos, o bando foi pego de surpresa e muitos não conseguiram escapar, até hoje fala-se em traição, mas nada foi comprovado. Certo mesmo é que entre os capturados estavam Lampião e Maria Bonita. Daqueles cangaceiros capturados, todos foram decapitados, conta-se que Lampião e Maria Bonita estavam ainda vivos quando foram decapitados. Suas cabeças ficaram expostas no Museu Nina Rodrigues, na capital baiana, até meados de 1968.

No folclore nordestino, muitos associam a imagem de justiceiros aos cangaceiros, o que não corresponde à realidade nua e crua tantas vezes contada e registrada. Assim, como os muitos outros cangaceiros, há relatos que o destemido Lampião era um homem frio, cruel e sanguinário, agia muitas das vezes, em benefício próprio e de seus aliados, desconhecedor do significado das palavras dó e piedade.

Colocando a história de lado e buscando a imaginação, a mente começa logo a borbulhar; imagine se uma máquina do tempo pudesse  trazer esses cangaceiros impiedosos daquela época p'ra os dias atuais, teríamos grandes probabilidades de compará-los aos bandidos, traficantes cruéis e sanguinários de hoje? Encontraríamos pontos de convergências entre eles? Algumas semelhanças ou pequenas diferenças?
Como seriam classificados esses seres humanos?
Seriam tudo, menos humanos...?
A questão é, o que faltou naquela época e que continua a faltar na atual?
Que oportunidades não foram dadas a nenhum deles? Seriam eles diferentes e buscariam outro tipo de vida se houvesse tido oportunidades e empenho de governantes e sociedade em mudar tal realidade?
 
Vamos ao encontro de uma senhora, "a pobreza" não que ser pobre cause violência. Entretanto, quando aliada à dificuldade de governos em oferecer melhor distribuição dos serviços públicos e renda, tornam alguns lugares mais pobres e muito mais atraentes à violência, criminalidade  e a ilegalidade.

De quem realmente é a culpa?
Qual solução para mudarmos a realidade atual?
As indagações são muitas e não terminará com o fim desse artigo... É urgente que reflitemos: - como minha ajuda pode contribuir de alguma forma p'ra atenuar a segregação e construir uma sociedade mais justa?
Falo por mim , sou professora e estou fazendo minha parte...

DF, 01/05/2008