Eu tinha onze anos quando, desesperado, imaginei que meu talento para a escrita fosse nulo. Afinal, minha professora de língua portuguesa havia recomendado – em letras de forma vermelhas e garrafais! – no topo de uma redação que eu escrevera que seu destino deveria ser o lixo. Ao ver-me quase chorando a paciente mulher explicou-me que ali havia apenas uma observação: “PROLIXO!”. Não era “pro lixo”, como eu pensei e, desfeito o mal entendido, vi que eu não havia produzido, enfim, uma grande porcaria. Contudo, nunca consegui me emendar, ou seja, até hoje falo – e, portanto, escrevo – além da conta. Porém, venho tentando me aperfeiçoar. Basta ler crônicas minhas mais antigas para se notar que, atualmente, meus textos são muito mais enxutos. E isso é fruto de um exercício consciente para eliminar os excessos. Tomarei como exemplo um trecho que elaborei dias atrás. Originalmente ele dizia: “Quando era chegada a noite, batendo-me um sono irresistível, caí despudoradamente nos braços de Morfeu.” Corta daqui, emenda dali e a frase ficou assim: “Quando a noite chegou, fiquei com sono e fui dormir”. Porém, ainda não satisfeito, expurguei o texto um tanto mais: “Era noite e, sonolento, adormeci.” Enfim, a mostrar que a prática leva à perfeição, cheguei ao resultado final: “Anoiteceu. Zzzzzz!” Portanto, como ficou absolutamente evidente, patente e inconteste, atualmente já não padeço mais daquele péssimo hábito, que outrora pareceu incorrigível, de me estender demasiadamente e além do necessário numa explanação qualquer, colocando algo em palavras com muitíssimo menos vocábulos e, a despeito de tal síntese, sem nenhum comprometimento; espelhando com manifesta justeza, meridiana clareza e cristalino entendimento aquilo que não perdeu, por isso, a efetiva compreensão e correta inteligência do que se quis dizer originalmente. Não é?! .oOo.