. Agora
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Agora...
que me deixaram ganhar asas
e enamorar-me do céu com elas,
alinhem bem essas armas
afinem, lestos, a pontaria
enquadrem ciosamente
o meu corpo volátil
nas vossas miras e
disparem, furibundos,
todas essas cegueiras;
Que eu não hei-de morrer
de meras balas
nem de qualquer queda no chão
das vossas quimeras.
.
Foi daí
que um céu translúcido
um dia veio resgatar-me
para bailar com o sol
e esse me fez ardente
para a paixão do luar;
por quem me fantasio,
todas a noites, de mimo,
para mais logo, me despir
ficar tão despido
como a própria madrugada,
chamar a isso poesia
e sentir-me, assim, vivo
no decurso das minhas horas
de foragido.
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Quer a cidade dos homens
que dela seja obreiro
e se não for por gosto ou fé
o seja, então, por temor.
O escriba acrescenta um sorriso
daqueles, "pragmáticos qb".
cor de "Gentileza da Casa!"
Eu leio nele uma insinuação
de o prazer da servidão
despontar civicamente
depois do medo e do ódio.
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Num salto de analogia
aborda-me, rala, a ideia
de um pensamento popular
dos mais escassos em sabedoria
e do qual escorre o engano
de o "Amor sempre se descobrir
depois do casamento".
Pois!, esse mesmo,
o tal inclusiva e
exclusivamente abençoado
pelos santos de casa.
Sim!, esses mesmos
os do costume
e que não fazem milagres.
.
Uma ideia subversiva
e residual desagua
na eternização da fantasia;
aquele corolário da meninice
e da tal lengalenga
começada e terminada
em "A-ni-qui-bó-bó!"
Vozes encantadas
e desencantadas
tão a dentro da infância
e tão ainda a chegar
aqui ao meu céu:
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"- E tu, meu menino,
que escondes aí,
atrás das costas?"
- Equívocos, senhor,
equívocos !!"
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Na realidade
já eram as minhas asas,
pequeninas...
brancas...
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______________________LuMe