. Amiga
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Ai amiga!
será que te dás conta
do que ia ser a noite
se não fosses tu:
esse teu chegar manso,
esse olhar intrépido,
esse sorriso de desvelo.
…Amiga,
deixa-me admirar em ti,
embandeirada
essa ternura libertária;
sorver do teu olhar
um verso de luz e calor,
um poema pela chama
com que expurgas de mim
as quimeras da noite;
Deixa-me beber
das tuas mãos
a força de resistir
à dor dos silêncios.
Ai amiga!
que tenho a perceção
de ter estado à esquina
quase a vida inteira
com o decote provocante
dos meus abandonos
e o pecado de esperar
fosse o que fosse
e que Deus quisesse.
Pois que eu nem sabia
que ainda me restava
o pranto,
antes do teu abraço.
Ai!…e valeres-me tu
por este agora
em que já não há vielas
nem cores fétidas
derramadas na calçada
nem memoriais acesos
nem, quase nada.
Ou jamais será o mesmo.
Eu sei
que a esquina se exaure
sufocada de injúrias
mas, diz-me, amiga
jura-me
que eu já lá não estou!
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Post Poema:
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De Dama
e de Prostituta
teremos todas(/todos)
talvez,
um pouco.
Será assim tão óbvio
o rosto de uma culpa?
Nem me respondas,
indómita amiga
nem apartes de mim
o teu olhar claro,
só por este ensejo
de aqui estar
a evocar-te
repetindo, baixinho,
o teu nome:
Natália...
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P.S.:
Em memória
de Natália Correia
ou dor não mitigável
de uma ausência
ou trans-saudade.