ACasaQueAfomeMora-ChicoDoCrato-AntonioFrancisco

ACasaQueAfomeMora-ChicoDoCrato-AntonioFrancisco(Cordel)

ACasaQueAfomeMora-ChicoDoCrato-AntonioFrancisco(Cordel)

(#ChicoDoCrato66anos)

https://www.recantodasletras.com.br/cordel/7551010

https://www.recantodasletras.com.br/audios/cancoes/100320

Contato cdc.chicodocrato@gmail.com ou Chico_crato@hotmail.com Whatsapp 7192028988

ChicoDoCrato-Música, Voz, Violão, sintetizador, efeitos, arranjo e mixagem e adaptação do Cordel de Antonio Francisco

AosMeusfilhos, Manuel(Oceanógrafo), Rodrigo(Logística)minhanetinhaValentina, Rafael(Agrônomo)MinhaNetinhaMariaIsadora.

Audacity 000 Rítmo 000+40 em MÍ- Gravação Caseira-A Gravar em Estudio

Eu de tanto ouvir falar

Dos danos que a fome faz,

Um dia eu sai atrás

Da casa que ela mora.

Passei mais de uma hora

Rodando numa favela

Por gueto, beco e viela,

Mas voltei desanimado,

Aborrecido e cansado.

Sem ter visto o rosto dela.

Vi a cara da miséria

Zombando da humildade,

Vi a mão da caridade

Num gesto de um mendigo

Que dividiu o abrigo,

A cama e o travesseiro,

Com um velho companheiro

Que estava desempregado,

Vi da fome o resultado,

Mas dela nem o roteiro.

Vi o orgulho ferido

Nos braços da ilusão

Vi pedaços de perdão

Pelos iníquos quebrados,

Vi sonhos despedaçados

Partidos antes da hora,

Vi o amor indo embora,

Vi o tridente da dor,

Mas nem de longe via a cor

Da casa que a fome mora.

Vi num barraco de lona

Um fio de esperança,

Nos olhos de uma criança,

De um pai abandonado,

Primo carnal do pecado,

Irmão dos raios da lua,

Com as costas seminuas

Tatuadas de caliça,

Pedindo um pão de justiça

Do outro lado da rua.

Vi a gula pendurada

No peito da precisão,

Vi a preguiça no chão

Sem ter força de vontade,

Vi o caldo da verdade

Fervendo numa panela

Dizendo: aqui ninguém come!

Ouvi os gritos da fome,

Mas não vi a boca dela.

Passei a noite acordado

Sem saber o que fazer,

Louco, louco pra saber

Onde a fome residia

E por que naquele dia

Ela não foi na favela

E qual o segredo dela,

Quando queria pisava,

Amolecia e Matava

E ninguém matava ela?

No outro dia eu saio

De novo a procura dela,

Mas não naquela favela,

Fui procurar num sobrado

Que tinha do outro lado

Onde morava um sultão.

Quando eu pulei o portão

Eu vi a fome deitada

Em uma rede estirada

No alpendre da mansão.

Eu pensava que a fome

Fosse magricela e feia,

Mas era uma sereia

De corpo espetacular

E quem iria culpar

Aquela linda princesa

De tirar o pão da mesa

Dos subúrbios da cidade

Ou pisar sem piedade

Numa criança indefesa?

Engoli três vezes nada

E perguntei o seu nome

Respondeu-me: sou a fome

Que assola a humanidade,

Ataco vila e cidade,

Deixo o campo moribundo,

Eu não descanso um segundo

Atrofiando e matando,

Me escondendo e zombando

Dos governantes do mundo.

Me alimento das obras

Que são superfaturadas,

Das verbas que são guiadas

Pro bolsos dos marajás

E me escondo por trás

Da fumaça do canhão,

Dos supérfluos da mansão,

Da soma dos desperdícios,

Da queima dos artifícios

Que cega a população

Tenho pavor da justiça

E medo da igualdade,

Me banho na vaidade

Da modelo desnutrida

Da renda mal dividida

Na mão do cheque sem fundo,

Sou pesadelo profundo

Do sonho do bóia fria

E almoço todo dia

Nos cinco estrelas do mundo.

BIS

Se vocês continuarem

Me caçando nas favelas,

Nos lamaçais das vielas,

Nunca vão me encontar,

Eu vou continuar

Usando o terno Xadrez,

Metendo a bola da vez,

Atrofiando e matando,

Me escondendo e zombando

Da Burrice de vocês.