No Hotel Mário Quintana
As noites são silenciosas e leves.
As madrugadas, negras e frescas.
Antemanhã, visita dos passarinhos.
Não importa a geleia de amora.
Nem a torrada no café matinal.
Deixei de beber leite ainda jovem.
E nunca gostei de cereal.
Deixem-me em paz!
Não preciso de serviço de quarto!
Deixem tudo onde está; só assim é que me acho.
Vai!
Estamos todos a bordo desse trem misterioso...
Que vai para o reino dos escritores que ninguém leu.
Fiquei apreensivo e preciso de algo para beber...
Enquanto o trem, nem ao menos deixou a estação.
Agora percebo o quanto fui tolo...
Você reservou um assento ao seu lado.
E eu fui me sentar na janela da imaginação!
Quem fica, quem sai, quem senta, estamos a bordo, observando quem nele entra.
No trem que vai para o reino dos escritores que ninguém leu.
Outro apito... Fiquei apreensivo e preciso de algo para beber.
Você reservou um assento ao seu lado.
E eu fui me sentar na janela da imaginação!
Enquanto o trem, nem ao menos deixou a estação...
Estação Maiakóviski³!
*¹. ². Diálogo entre Mário Quintana (30/07/1906 — 05/05/1994) e
Paulo Roberto Falcão (16/10/1953).
*Homenagem ao poeta morador de hotéis.
³Vladimir Maiakóvski (1893 – 1930).
Escritor e poeta russo.