A menina dos meus olhos

William nunca poderia ter ideia do que Alessandra estava prestes a se tornar em sua mente. Não apenas uma mera simpatia que ele tentava negar e disfarçar, mas sim, a paixão mais intensa e irremediável que ele teria na sua vida inteira.

Embora sua razão estivesse totalmente decidida a nunca mais se apaixonar novamente, a verdade é que seu corpo e subconsciência já haviam decidido pelo contrário. Quando dormiu tarde da noite naquela sexta feira, os únicos pensamentos que lhe viam a mente eram sobre Alessandra.

Ele sonhou um mar azul infinito que balançava uma caravela que quase sumia no horizonte da curvatura. O céu claro e o sol de verão iluminavam seu corpo molhado com água do mar e areia de praia. Alessandra estava ao seu lado, com sua mente se desmanchando junto às ondas do mar. De repente, ela começa a perguntar sobre o destino de ambos:

— Você realmente pensa que nossas vidas um dia vão se encontrar?

William suspirou e o sol incendiou sua retina. Não sabia a resposta, mas já houvera pensado nessa pergunta mais vezes que poderia contar.

— Acho que talvez... As vezes eu penso que nós nunca vamos nos encontrar. E mesmo que isso aconteça, você não ficaria para sempre na minha vida.

Alessandra se virou para William e seu cabelo dançou conforme a verdade de seus olhos o respondia milhares de afirmações que apenas anos de intimidade poderiam fornecer. Mas William entendeu todas muito bem.

— Você ficaria triste se eu fosse embora? — Perguntou ela, enquanto debruçava seu corpo na areia. William respondeu com sinceridade:

— Eu nunca vou chorar por você. Porque você não me pertence. Não somos nem sequer amigos.

Alessandra usava um biquíni que vez ou outra, William esforçava os olhos para tentar ver. Ela estava mais bonita do que ele sequer podia imaginar. Alessandra se debruçou ainda mais na areia e um vento litorâneo flagelou seus corpos molhados.

— Eu já sou parte inegável de sua vida. Você só não quis assumir essa realidade ainda.

— Mesmo que seja isso, vou fazer tudo o que puder para dar um fim nesse sentimento. Não posso me apaixonar novamente, porque isso é só sofrimento. Eu não quero mais sofrer...

Após algum tempo, Alessandra tomou iniciativa e jogou seus braços ao redor dele.

Em pouco tempo, os dois já se abraçavam trocando carícias, como almas gêmeas em sintonia. William sentiu tudo o que deveria sentir em relação a ela. Beijou-a e abraçou-a, inúmeras vezes, prolongado beijos infinitos.

William acordou, e não se lembrou totalmente de seu sonho. Apenas ficou com uma sensação esquisita de que algo acontecera. Uma sensação de que algo em seus sentimentos houvera mudado em relação a Alessandra. Provavelmente de forma permanente. A decisão de acabar com seus sentimentos continuava, mas ele também sabia que provavelmente não demandaria muito para que sua razão cedesse.

O sentimento em si, era muito agradável. A ideia de ser correspondido pela pessoa que se gosta não era nada mal. O problema era que William tinha uma capacidade anormal de se apegar a suas ilusões, se tornava um sujeito obcecado pela paixão. Constantemente se forçava a lembrar do fato de que gostou de Isabela por dez longos anos. E que quase morreu tentando tirar ela da mente, muitas noites sem dormir e muitas lágrimas derramadas. Ele reconhecia que não tinha maturidade para lidar com sentimentos e muito menos, relacionamentos. Por isso era honestamente justo o seu medo de que a paixão por Alessandra tomasse proporções maiores. William tinha medo de que ela se tornasse uma nova Isabela.

Se arrumou e foi para a escola com aquela sensação esquisita. Quando viu Alessandra, se lembrou cada vez mais do sonho e se sentiu um pouco mal pois no sonho fez tudo com ela sem nenhuma censura moral. E agora vê-la sentada em sua frente o fazia se sentir de certa forma, suspeito de um crime amoroso. Ela se virou para puxar assunto. Conforme se virava, seus olhos se chocaram e William sentiu, por um instante de tempo, que ela sabia de tudo o que se passara durante o sono. O que não era de certa forma um equívoco. Ela falou baixinho para o professor não escutar:

— William, quem vamos colocar no nosso trabalho de Geografia? Pensei na Guinevere.

— Sério? E aquele papo de que queria fazer apenas em dupla?

— Sim, mas ocorre que deveria ser em trio...

— A Guinevere quase não vem na aula...

— Porém, ela é confiável.

— Você fala ou eu falo?

— Já falei, ela aceitou.

— Então por que me perguntou?

— Era só para garantir que nós tínhamos pensamentos iguais...

William ficou remoendo a última frase por semanas a fio.