Tal avô, tal neto

Tal avô, tal neto

Dono de um bigode acinzentado e as rugas para provar a idade, vovô Nélson estava sentado na mesa de seu apartamento com o netinho de cinco anos. De repente, o pequeno — olhos enormes vidrados no doce da sobremesa — disse: "Eu quelo! Eu quelo agola!"

Vovô Nélson olhou gravemente para o neto e disse, em tom de orgulho cerimonioso: "Garoto, você não pode ter tudo o que quer, quando quer. Com a idade, quando crescer e for adulto, vai perceber isso".

O menino fez que não entendeu nada — apenas franziu a testa e cruzou os braços. Passados mais alguns segundos, a campainha tocou. Ainda em pose de pombo poderoso, o avô levantou-se e foi atendê-la; o neto o acompanhou, pois, em sua cabecinha, tentava formular um argumento para devorar o doce "agola".

Quando Nélson abriu a porta, uma nova vizinha, mais bela do que todas as outras do prédio juntas, sorriu e disse: "Boa tarde! O senhor é o Cláudio?". Completamente indefeso, os olhos agigantados, o vovô levou uns cinco segundos até responder. "Hã? Não, não. Ele mora aqui ao lado", apontando para a direita. A mulher pediu desculpas, agradeceu e deu mais um estonteante e generoso sorriso. Depois, partiu.

Fechada a porta, o neto virou-se para o avô — este, ainda atordoado — e disse: "Vovô, o senhor também quer agola, mas num podi, viu?!".

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