Enfrentando a idade madura


Enfrentando a idade madura

 

     Já me acostumei ao fato de dizerem que estou velho. Por mal de todos os pecados, tenho daquelas compleições que aparentam, ainda por cima, bem mais idade do que realmente tenho. Quanto anos tenho? Isso pouco importa! É mais do que eu gostaria e menos do que os outros imaginam.

     Se eu fosse marqueteiro diria, não que sou velho, mas sim, “semi-novo”. O que tem de Voyage, Chevette e Brasília por aí sendo oferecido como tal, justificaria plenamente essa postura. A bem da verdade, estou mais para um Maverick.


     De qualquer maneira, é natural que os cabelos rareiem e que o abdômen fique mais proeminente. Afinal, ao menos nesse sentido, sou um ser proeminente. O termo “larga escala” passou a ser algo que me vem à mente quanto vou comprar roupas novas. Porém, não posso me queixar.


     Venho observando a circunstância das pessoas de minha geração, ou uma anterior, ou uma posterior... tanto faz! Minha geração é antiga o suficiente para ter espaço que comporte várias eras entre ela e outras. O que noto é que todo mundo, sem exceção, tem lá sua dor particular. Pode ser hérnia de disco, pinguela caída, juntas emperradas, caspa no joelho, herpes na axila... tem de tudo! De um modo ou de outro, o equipamento começa a pifar quando o prazo de validade vai vencendo. Isso é inexorável e não poupa a ninguém.


     O que acho estranho, é que as pessoas dão muito trato à aparência estética, numa proporção além do razoável. Nada tenho contra uma dose sadia de vaidade. Eu mesmo sou muito vaidoso – na verdade, sou lindão!!! Contudo, existe por aí uma tendência bizarra de tentar ocultar aquilo que, por mais que se disfarce, não é possível camuflar. Pouca coisa é mais tosca do que alguém querendo se vestir, se postar, se comportar e coisas do gênero, como se tivesse muito menos idade do que realmente tem. É algo risível como uma peruca. Todo mundo nota mas evita comentar e só quem a usa é que imagina que está enganando alguém. 


     Nosso eminente filósofo contemporâneo, Juca Chaves, já deixou registrado em uma de suas impagáveis músicas que “ser jovem é saber envelhecer”.  Afinal, quem já está na fase dos “enta” e ainda continua estacionado, se perturbando por conflitos existenciais e emocionais próprios da adolescência, não tem nada de jovem; é só imaturo, mesmo!


     Pois bem! Eu enfrento, na medida do possível, as conseqüências que são inevitáveis, da mesma forma que aceito o sol brilhando ou a chuva caindo como comandos da natureza. Nada disso impede que eu mantenha uma atitude jovial. Só que não renego a maturidade, porque ela, em si, traz uma carga de valor que só a vivência pode proporcionar. E eu, como disse Neruda, “confesso que vivi”.