CARTA À RESPOSTA QUE NÃO TE DEI

Sei que peco por tardia.
Viveste anos demais no purgatório das respostas condenadas ao silêncio, entre a morte na garganta e a vida em sepultura. Anos que não voltam, uma vida por viver, mágoas por expurgar...
Há quantos gritos eu te enterrei viva?...
Não sei ainda se por timidez, por teimosia, por orgulho, por coragem, ou por cobardia... Talvez só por insegurança, por imaturidade, por ingenuidade, por inocência... Sei que te neguei, que te abortei. E um aborto é sempre uma ferida que não sara, uma morte que não se assume, um luto que não se cumpre.
Se ao menos me tivesses morrido para sempre! Mas não, enterrei-te viva na alma, e desde sempre me assombras os dias e as noites, deambulando em penas pelos meus mais íntimos subterrâneos! Sei-te de cor as palavras não ditas, as razões tão ponderadas, a estratégia das perguntas necessárias, os argumentos já esboçados. A revolta presa.
Delineamos tudo juntas: o plano da reconquista da clarividência e do entendimento, e do esclarecimento, lembras-te?... Cheguei a escrever as tuas memórias de dor, à laia de diário... (é, o escrever sempre foi para mim um modo mais fácil de gritar...)... Mas até esse diário de (des)ilusões eu imolei vivo. Pelo fogo. As cinzas respirei-as, intoxicaram-me para sempre, entranharam-se em mim e escurecem ainda os calabouços onde andas perdida - resposta que não
TE dei...

Resposta que, por ser pergunta, me levaria às respostas que eu queria, que eu precisava, para que eu e tu, meu amor, fôssemos felizes para sempre... Pergunta que, por ser resposta, nos acharia o caminho, a escavar a dois, no labirinto desta Vida, que não admite recuos, nem silêncios. Sei agora que era vital não nos calarmos, para nos não perdermos um do outro... A nossa voz seria um elo de referência, o eco que nos guiaria um até ao outro, os dois até ao fim do túnel...
Mas calei-me...
Calaste-te.
Calei a resposta à pergunta que não me fizeste...
E matei um amor que ainda pena dentro de mim...