O GRANDE OCEANO

Publicado por: Madalena Gomes
Data: 10/12/2012
Classificação de conteúdo: seguro

Créditos

O GRANDE OCEANO: PABLO NERUDA ÁUDIO/EDIÇÃO: MADALENA GOMES MÚSICA: INSTRUMENTAL (CD)
Copyright © 2012. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.

O GRANDE OCEANO

Se dos teus dons e das tuas destruições, Oceano,

as minhas mãos pudessem destinar uma medida,

uma fruta, um fermento,

escolheria o teu repouso distante,

as linhas do teu aço,

a tua extensão

vigiada pelo ar e pela noite,

e a energia do teu idioma branco

que destroça e derruba as suas

colunas na sua própria pureza demolida.

Não é a última onda com o seu

salgado peso a que tritura costas e produz

a paz de areia que rodeia o mundo:

é o central volume da força, a potência estendida

das águas, a imóvel solidão cheia de vidas.

Tempo, talvez, ou taça acumulada de todo

movimento, umidade pura que não selou a morte,

verde vícera da totalidade abrasadora.

Do braço submerso que levanta uma gota

não fica senão um beijo de sal.

Dos corpos do homem nas tuas margens uma

úmida fragrância de flor molhada permanece.

A tua energia parece resvalar sem ser gasta,

parece regressar ao seu repouso.

A onda que despreprendes, arco de identidade,

pena despedaçada,

quando se despenhou foi só espuma,

e regressou para nascer sem se consumir.

Toda tu força volta a ser origem.

Só entregas despojos triturados, cascas que

separou o teu carregamento,

o que expulsou a ação da tua abundância,

tudo o que deixou de ser cacho.

Tua estátua,

está estendida além das ondas.

Vivente e ordenada

como o peito e o manto

de um só ser e suas respirações,

na matéria da luz içadas, planícies levantadas pelas ondas,

formam a pele nua do planeta.

Enches o teu próprio ser com tua substância.

Tornas repleta a curvatura do silêncio.

Com teu sal e teu mel treme a taça,

a cavidade universal da água,

e nada falta em ti como na cratera destampada,

no corpo rude: cumes vazios, cicatrizes,

sinais que vigiam o ar mutilado.

As tuas pétalas palpitam contra o mundo,

tremem os teus cereais submarinos,

as suáves algas perduram a sua ameaça,

navegam e pululam as escolas, e apenas sobe ao fio

das redes o relâmpago morto da escama,

um milímetro ferido na distância das tuas

totalidades cristalinas.

Fonte: Paulo Divino

Site: D30

Pablo Neruda
Enviado por Madalena Gomes em 10/12/2012
Código do texto: T4029092
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