Era uma noite especial;
A primavera em Israel.
Maria esperava, afinal,
notícias do Filho fiel.
Rogava a Deus, para Ele, misericórdia,
Quando João, em sua porta, bateu.
Trazia a nota inglória:
"_ Jesus, o soldado O prendeu!"
Em desesperação, ela ficou,
tentando dizer palavras.
A vista nublava, tonteou.
João correu, a ampará-la.
"_ E qual o crime do meu filho?"
Quis saber, em aflição.
"_ Perturbador da ordem, um estrilho!
Junta gente, em multidão!"
"_ Meu menino! Só ensinou lições de amor!...
Nesse assunto, era grande professor...
Deus, livrai-O das tormentas,
da injustiça e das contendas!..."
Em amargor e sofrimento,
Maria pede a João:
"_ Leva-me a meu rebento,
alivia-me o coração!"
Enquanto andavam para a colina,
Maria pôs-se em recordação.
Invadiu su'alma sofrida,
o povo eufórico, em ovação.
A Jesus, todos recebiam,
em imensa aglomeração;
tapetes raros Lhe estendiam
para nem pisar o chão.
"_ Onde está toda essa gente,
para defender-Lhe a humilhação?"
Maria, agora, compreende:
"_ Ele está em solidão!..."
"_ Onde está o meu rebento?"
- pergunta ao guarda de plantão.
Muito rude e violento,
disse: "_ Foi levado à prisão!"
À frente do cárcere sombrio,
diz, em fatigado refrão:
"_ Ali dentro está meu filho!"
O guarda dá-lhe um empurrão.
Bate a cabeça na parede,
em dolorosa contusão.
O sangue escorre em filete
de sua boca e coração.
Aguardava... alma em açoite...
Corpo abatido, olhos cansados...
Como é longa uma noite,
quando é noite dos desesperados!
O motivo de seus carinhos
aparece desfigurado:
uma coroa de espinhos
e os olhos roxeados.
"_ Que dor é essa lancinante,
que me afoga em tormentos?
Por que maltratam meu infante,
meu amor, meu complemento?"
A mãe das dores emudecia
diante da cena grosseira.
Seu Filho divino em martírio,
tirava-lhe as forças derradeiras.
Em Jerusalém, no outeiro,
as doloridas marteladas
enterravam cravos certeiros
na própria Mãe Imaculada.
Jesus, erguido no madeiro,
feito bandeira despedaçada,
prestes a sair do cativeiro
de Suas vestes maltratadas.
A Santíssima Mãe sofredora
sente-se, agora, enlouquecer.
Aquele horrendo martírio
era o oceano do sofrer.
Lembrou-se da voz poderosa,
que ouvira em tenra estação,
sobre a vinda de seu Filho
e Sua mensagem de libertação.
Não acalentava qualquer ambição
do bebê que muito queria.
Felicidade audível ao seu coração,
ser mãe do esperado Messias!
Sua grandeza aos pés da cruz
Fez-lhe, logo, compreender:
era a mãe de Jesus,
plenitude em sofrer...
As dores de seu Menino
causara-lhe males inimagináveis;
forjou-a em fogo divino,
para alcances impensáveis!
Sorria, agora, diante dEle
um sorriso encantador.
Estava cheia de Graça,
calvário redentor!
Entendeu o seu legado:
era um instrumento de Deus,
antídoto para o pecado,
através do seu adeus.
As dores de Maria
é a história da Salvação.
Seu Filho amado perdia,
para amar sem privação.
O sofrimento que dilacera,
em Maria foi fecundo.
Fez nascer um novo amor:
amor de mãe por este mundo.