VEM

Por que me olhas sombrio?

Ainda não tens certeza da vitória?

Não te assustes com as minhas indagações, amigo.

Testemunho em tuas expressões tétricas

Sofrimentos algozes de sentimentos mofados,

Angústias tiranas emaranhadas em teias antigas,

Pesares perversos empoeirados em baús de tuas memórias,

Dissabores cruéis grafados em pergaminhos rudimentares,

Padecimentos opressores presos em correntes aos teus calcanhares...

Eis as nuvens que te assombram o tempo da alma!

Como um navio-fantasma,

Ancorastes no tempo do mal!

As velas rotas não te devotam socorro,

Cargas inúteis oprimem tua rota, rumo ao além,

Leme enjeitado ao negrume do mar umbroso...

Âncora firmada nos corais do esgotamento e do ocaso...

Ergue-te do poço!

Vislumbres logo ali, diante de ti!

Há tanto em que se ocupar!

Escolhas qual direção considerar!

Compartilhes teu pão com o companheiro que segue esfaimado,

Concedas tua mão a quem nem braço tem,

Does tua alma castigada àquele que sofre também,

Ofereças o que nem tu tens...

Levanta-te das profundezas!

Movas teu olhar noutras vertentes!

Prodigiosa vida se dilata abundantemente!

Constates o sol que desponta diariamente,

Identifiques as flores belas, em cada canto adornado,

Reconheça a abundância de bênçãos divinas,

Sintas que tu não fostes abandonado...

Não te comprazas no mal.

Não estaciones a alma confusa entre outras afins.

Não te detenhas, prazo demasiado, em terra infértil.

Não te prives da luta árdua para galgar a ladeira sinuosa do triunfo.

Não te demores a banhar-se à luz do conhecimento maior.

Não dilates o tempo que te separas de Deus.

Não habites, ainda, por aí.

Não te atrases...

Vem!...

A manhã já vai surgir!

Os clarins angelicais emocionam-se a esperarem por ti...