UMA CARTA DE AMOR

Dormi contigo no lado oculto da lua e do amor que fizemos nasceram orvalhos com manhãs de sol lá dentro.
Nem sei como o sol descendeu de nós, nós, ocultos no lado avesso da lua, órfãos de sol ou luar...
Desconfio que o quarto minguante em que nos deitámos, era coberto por um tecto de telhas cadentes...
Sei, porque, às vezes, dores me caíam de cima e me atingiam em cheio.
E porque eu via estrelas, pelos buracos de luz apagada, que me piscavam tremidamente fulgores fiéis e me velavam o silêncio e o medo.
Sei lá!...
...talvez daí o brilho das manhãs de orvalho-com-sol-lá-dentro que pari... parecenças do brilhar dessas estrelas que me geraram amor...
O amor que nós (des)fizemos, mesmo no lado sombrio
da lua, foi um amor abençoado.
(Disseram-me que o amor nem sequer existe, na lua- nova. Mas o amor faz-se daquilo que temos: pois saibam que na escuridão qualquer luzinha se vê melhor!...)
O amor que nos descende é já dia de sol-cheio. E à noite, há sempre uma estrela a quem rezo, e vejo, por entre as telhas partidas do meu quarto já a passar de minguante...
Amo-te e tu sabes, mesmo que eu ainda o não saiba, por tantas vezes ter sido eclipse.
Ou sei?...