Do simples para os simples

Do Simples para Os Simples

“Do Simples para os simples”. É assim que eu qualifico o escritor mato-grossense Gaudêncio Filho Rosa de Amorim, autor de Linhas Históricas de Poxoréo: Um olhar sobre o nascimento dos Distritos numa contribuição às escolas e à sociedade. Livro esse incluso nos lançamentos do Centro Universitário da UNIVAG, de Várzea Grande, MT de 16/05/2001 e que conta em grande riqueza de detalhes, o processo de surgimento e povoamento dos Distritos de Paraíso do Leste, Alto Coité, Jarudore e Aparecida do Leste, que compõem a estrutura administrativa do Município de Poxoréo.

Gaudêncio Filho Rosa de Amorim é um jovem de quase 35 anos, nascido nas grupiaras dos garimpos de Poxoréo, moldado pela vida simples do homem das lides garimpeiras. Com seus pais e irmãos ocupou grande parte de sua vida entre uma e outra faiscada na busca e na cata dos ricos diamantes, ao tempo em que se preparava para outras alternativas de sobrevivência, dedicando-se com empenho aos estudos, formando-se com louvores Pedagogo, pela UFMT e pós-graduando-se em Ciência Política pela UNIVAG, de cuja trajetória “brotajorrou” como diria o escritor guiratinguense Vilela Montanha, esse seu livro Linhas Históricas de Poxoréo...

O meu encontro com Gaudêncio se deu em 1986, quando ele ingressou na Prefeitura de Poxoréo, como Professor do Programa de Educação Básica da Fundação Educar, do qual eu era o então Supervisor Local. É muito significativo para mim, lembrar-me dele justamente a partir do seu trabalho como alfabetizador de adultos, porque essa é uma tarefa que exige um professor essencialmente humano, que veja o homem como alguém de importância capital simplesmente porque é um homem e não porque ocupa uma posição na estratificação social, como soe acontecer com os educadores burgueses dessa sociedade capitalista da qual fazemos parte e que, para não serem diferentes, usam a pedagogia do opressor para libertar o oprimido (sic) e que, somente para completar o raciocínio, nunca logram obter sucesso, pois, como diria o nosso querido Paulo Freire, o oprimido somente será libertado através de uma pedagogia do oprimido. E foi nos embalos dessa orientação que Gaudêncio iniciou suas lides como educador. E foi também com essa mesma tendência que ele dirigiu a tradicional Escola Estadual de I e II Graus Pe. César Albisetti, em Poxoréo, MT, por alguns anos, onde nunca deixou de ser querido e estimado por toda a comunidade educativa.

Em 1988, o Kautuzum Araújo Coutinho e eu, fizemos uma parceria com o Gaudêncio Amorim, a qual resultou na publicação do livro Saudades e Melancolias, muito bem recebido pela comunidade poxorense, esgotando-se rapidamente. Também nessa obra o nosso amigo revela a sua tendência de ser um escritor simples dedicado a escrever para os simples. O Gaudêncio não tem buscado a sua inspiração nas grandes e destacadas personalidades. Pelo contrário, ele se destaca pela valorização dos mais humildes e dos mais simples. Em seu livro Linhas Históricas de Poxoréo, ele não se detém a contar detalhes e mais detalhes dos políticos influentes da região, como a gente vê em quase todos os livros de história. Ele fala deles, mas em breves palavras, dedicando a maior parte do precioso espaço literário para contar os detalhes de gente simples dos Distritos de Poxoréo, como o ex-subdelegado Eurípedes Arcanjo, de Alto Coité, seo Joviniano de Alencar Bezerra, que foi durante muito anos o encarregado do abastecimento de água em Paraíso do Leste e seo Aristides Vieira dos Anjos, de Aparecida do Leste, que destaco sem menosprezar os tantos outros citados e detalhados no livro.

Também em 1988, em 31 de março para ser mais preciso, quando fundávamos a UPE – União Poxorense de Escritores, o Gaudêncio Amorim era um dos homens simples da então “Capital dos Diamantes” que se reuniu conosco na então Casa da Cultura de Poxoréo, localizada no Centro Histórico da cidade, quando traçamos não o futuro utópico que dificilmente se atinge, mas um futuro que poderia se tornar presente em nossa trajetória como escritores. Naquela histórica data, nos propusemos e ser um grupo que iria agir “em defesa da arte e da cultura”, o que temos feito desde então, publicando o jornal O Upenino e a revista A Upenina. Além disso, enquanto foi possível, nós realizamos o programa Momento de Arte e Cultura, inicialmente pela Rádio Cultura de Poxoréo e, posteriormente, pela Rádio Sul Mato-grossense, além de organizamos retretas, tertúlias, concursos, festivais de poesia e apoiarmos todas as iniciativas culturais que surgiram na região. E, em todas essas atividades, o Gaudêncio Amorim esteve na linha de frente, sendo um exemplo para todos nós, os “upeninos” da União Poxorense de Escritores, com grande produção cultural.

Tendo que concluir esse breve relato, eu o faço pelo império da necessidade, excusando-me por ter me proposto à tão difícil tarefa de apresentar o Gaudêncio Amorim à sociedade mato-grossense e não ter sido suficientemente competente para sintetizar uma resenha biográfica sua, justificando-me evasivamente ao dizer que isso se deve simplesmente porque é impossível diminuir a grandeza de um homem simples. De um grande homem, talvez não tivéssemos dificuldades para fazê-lo, mas como se pode diminuir a grandeza de alguém que não quer ser grande e que deseja apenas ser uma pessoa Simples que escreve e vive para os Simples de nossa sociedade? Confesso minha incompetência de que não sei e não consigo fazer isso. Portanto, que me perdoem os leitores por oferecer-lhes apenas este breve fragmento da vida deste jovem escritor que ainda veremos discursando em defesa da história do nosso querido Mato Grosso, esperando que ele seja o suficiente para estimulá-los na leitura prazerosa de Linhas Históricas de Poxoréo: Um olhar sobre o nascimento dos Distritos numa contribuição às escolas e à sociedade e que façam um bom proveito desse trabalho de fôlego oferecido pela pena do jovem escritor de Poxoréo.