O útimo Súspiro

FANA

Quando não há compaixão, ou até mesmo um simples gesto de ajuda,

O que pensar da vida e daqueles que sabemos que amamos?

Gilliard foi trancado em mais uma outra clínica,

Dizem que por falta de atenção dos amigos,

Das lembranças e dos sonhos que se configuram tristes e inertes.

Como uma ampulheta morta, não se mexe, mão se move,

Não tem mais fé no que antes acreditava.

Gilliard está trancado no banheiro,

E faz marcar em seus pulsos com uma pequena gilete,

Deitado num canto, meus pulsos sangram.

E a dor é menor do que parece,

Quando ele se corta ele se esquece:

Que é impossível ter da vida calma e força e amor.

Eu vivo em dor, porque ninguém me entende, nem me aceitam como sou.

E os que me dizem “Tente ser forte a todo e a cada amanhecer, supere as coisas”,

Esses são os que menos se importam comigo.

E a única coisa que pedi a Deus foi encontrar e ter um amigo leal, sincero e verdadeiro,

Mas até isso ele me renegou.

Perdi minha melhor amiga,

Sei que a culpa foi minha,

E eu sinto tanta falta dela.

A morte levou dois dos meus poucos amigos,

Eram tão jovens e tinham tanto pra viver ainda.

Ninguém consegue me entender,

Ninguém desconfia da doença incurável que há dentro de mim

E que escondo de todos,

Até de minha família.

Não me olhe assim,

Com esse falso semblante de bom-samaritano,

Como se cumprisse o seu pequeno dever cristão,

Como se a minha dor fosse inexistente,

Vocês não sabem de nada sobre o que eu realmente passo,

A morte está dentro de mim e ela me dilacera lentamente todos os dias.

O mal do século é a tristeza e a solidão

Cada um de nós imersos e afundados em nosso próprio egoísmo e arrogância,

Mas sempre esperamos e desejamos receber carinho, amor e atenção.

Fui traído por todos,

Hoje nada mais existe de belo pra mim.

Vocês se fingiram se importar comigo,

E fui tão crédulo e tão idiota.

Quando os antidepressivos, os tranqüilizantes e os calmantes não fazem mais efeito,

Gilliard sabe que a loucura está presente,

E sinto a essência estranha do que é a morte,

Mas esse vazio só parece cada vez mais aumentar em mim.

De quando em quando é o novo tratamento,

Mas o mundo continua sempre o mesmo.

Aquela criança cheia devida não existe mais,

Ninguém nem suspeita das dores que me trucidam por dentro,

E já não há mais ninguém em que eu possa chamar de “meu amigo”.

De todas as formas, quem sempre volta sozinho pra casa sou eu.

Sexo compra e conquista dinheiro, companhias, e fuga da solidão,

Mas não compra amor, amizade verdadeira e conhecimento.

A falta de esperança no tormento de saber:

Nada é justo,

E pouco é certo,

Nós estamos destruindo com tudo,

E a maldade e o egoísmo sempre andam ao nosso lado.

Os lençóis de minha esperança têm cheiro de doença.

Meu ponto fraco é que eu me apego demais as pessoas,

E elas só nos procuram quando estão interessadas em tirar algo de nós.

Meu grande erro foi ter me iludido

Por pessoas que não eram dignas de minha amizade.

Um mundo onde a verdade é o avesso,

E a alegria já não tem mais endereço.

Gilliard está trancado em seu quarto,

Com meus cds e meus livros,

Com o meu cansaço e minhas angústias que ninguém está interessado em saber e ouvir.

Reconheço minhas falhas e meu pesar,

Quando na realidade tudo é traição.

E o que venho a encontrar

E a felicidade e a alegria em outras mãos.

Chega de antibióticos, de antiinflamatórios e analgésicos,

Meu corpo quer um pouco de paz, de alegria e saúde.

Tudo está errado,

Tudo está errado neste mundo.

Eu sou um raro pássaro,

Me trancafiam numa gaiola

E esperam que eu cante e sorria como antes;

Eu sou um raro pássaro,

Me trancam nessas gaiolas sociais e pseudo-democráticas,

Mas um dia eu consigo existir,

E vou voar sozinho pelo caminho mais bonito que houver.

Tudo permanece errado neste mundo insano.

e vou morrer sozinho e sem nunca ter sido feliz,

nem por isso deixo de te amar mundo e minha vida.

Gilliard Alves

te amo Raquel....