DIREITO PESSOAL/EXPRESSÃO
“Quando eu era pequena....”
 
Quando pequena, minha mãe tinha uma estratégia muito interessante para convencer a mim e a  meus outros 3 irmãos  a comer legumes, alimento que nós não gostávamos . 
Ela fazia um trato:
Se comerem os legumes eu conto uma estória a noite diferente para vocês adormecerem.
Antigamente , escutar estórias era uma delícia, principalmente pela voz doce de minha mãe que interpretava os personagens, enquanto nossos olhinhos a companhavam o movimento de seus lábios emitir sílabas ao falar, nossos  ouvidos atentos escutavam o desenrrolar da estória.
A minha imaginação ia longe, voava junto à ciranda de palavras melodiosas que aos poucos começavam a ter sentido tomar formato da estória que mais parecia um vento suave que estonteava ao ponto de nos deixar molinhos e prontinhos para dormir.
 
Mas uma noite, enquanto todos meus irmãos se entregavam ao braços de Morfeu,  eu, ao contrário não conseguia fazer o mesmo que meus irmãos. Não sei porque mas a estória estava interessante demais.
 
Eu sinceramente não sei de onde minha mãe tirava tantas estórias!
Minha mãe era muito criativa....vou contar a estória que até hoje não esqueço, e também nem sei se foi minha mãe quem inventou, ou se tinha algum autor. Cresci acreditando que fôra minha mãe a autora desta estória. Confesso de daquele dia em diante, eu decidi que queria inventar estórias também...como minha mãe.
Ela começou assim:
“Era uma vez um monte de coisas que ficam dentro no nosso corpo e cada uma dessas coisas tem uma função para fazer nosso corpo funcionar...então vamos lá todos deitadinhos prestando atenção.
 
Quando foi feito o corpo humano, todas as partes internas do corpo queriamser o chefe. O cérebro foi o primeiro a dizer; como era ele quem controlava tudo e o único a raciocinar deveria ser o chefe, mas as pernas alegaram que como eram elas que conduziam o corpo, elas sim deveriam ser o chefe.

Aí os olhos reclamaram: Se somos nós que vemos as coisas, que avisamos a iminência do perigo, nós devemos ser o chefe.
E assim, prosseguiu a discussão; os pulmões, o coração, os rins, o
fígado, os ouvidos, todos queriam ser o chefe.

Quando a gritaria estava no auge, pegando fogo, ouviu-se uma vozinha partindo do lado inferior do corpo humano:

- Eu serei o chefe!


Era o cú que finalmente dava a sua opinião. Todos caíram na gargalhada!


- Veja só a audácia do cú em querer ser o chefe!


E foi aquela gozação. O cú, muito chateado, retirou-se da reunião,
avisando que, em vista da atitude dos demais, ele não mais trabalharia.
Disse e saiu.

 
Passando dias, com o cu parado e em greve, o cérebro
começou a sentir dificuldade em raciocinar, os olhos, ardendo, não
conseguiam enxergar, as pernas bambaleavam, os rins e os pulmões não conseguiam desempenhar suas funções e o coração ameaçava parar.


Então, todos se reuniram e pediram ao cérebro que deixasse o cú ser
o chefe, pois caso contrário, o corpo morreria. Assim foi feito, daí
para a frente todos trabalhavam e o cú chefiava! Era uma cagada atrás da outra.


Moral da história: Para ser chefe não é preciso ter cérebro, basta
ter cú e fazer merda.” ( autor desconhecido até hoje)

 
Ao terminar de contar a estória, somente eu estava acordada.
E nem ria , nem sorria, nem dormia. Fiquei calada!
Fiquei pensando, no conteúdo da estória que para mim tinha sentido.
E enquanto pensava, percebi que minha mãe falava e meu pensamento falava mais alto que a voz dela , até que ela falou alto:
 
Lela! ( meu apelido de infância), Lela!, está tudo bem com você?
Parece que ficou um silêncio estranho e de repente ouvi alto meu nome. E repondi a minha mãe:
O que? E ela repetiu a pergunta, se estava tudo bem comigo.
Tá sim, mãe, mas...
Estou pensando, eu já sei porquê tem criança que não gosta de estudar e nem vai pra escola!
Minha mãe então, com um sorriso no rosto, notou que eu estava raciocinando coisa de criança, e indagou: Porque filha?
Respondi com orgulho de quem descobriu algo muito importante:
 
Simples, mãe, porque existe criança que só tem cú e faz merda, e já sabe que não vai precisar estudar, vai ser chefe um dia. Só não sei dizer de quem vai ser chefe e...será que também vai fazer cagada?
 
Minha mãe riu, e disse, mas você tem cérebro sim e tem que estudar para não fazer cagada!
Fecha os olhinhos e dorme que amanhâ tem aula!
 
Pensou minha mãe: Criança tem cada uma!


Dedico essa biografia a primeira mulher mais importante de minha vida!
Marisa Mirian Reani Rodrigues, minha maravilhosa mãe, que de tão boa, deixou o inferno da terra e foi descansar em paz ao lado de Deus.
Mãe eu sei que me ouve... Eu te amo dede que te vi! Obrigada por ter sido quem foi para mim...sua filha Lela!
Informo aos leitores que continuarei usando em meus textos a ortografia antiga até 2010. A nova ortografia entrou em vigor no Brasil no dia 1º de janeiro de 2009, mas a ortografia antiga continuará válida até o dia 31 de dezembro de 2012. Os livros escolares distribuídos pelo Ministério da Educação poderão usar uma ortografia ou outra em 2009, mas em 2010 deverão estar adequados ao acordo ortográfico.


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Valéria Reani
Enviado por Valéria Reani em 24/09/2009
Reeditado em 30/09/2009
Código do texto: T1829065
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