A DPOC E EU - Diário do cotidiano

Em dezembro de 2005, pouco antes do Natal fui hospitalizada com intensas falta de ar e dores no peito. Fiquei internada durante uma semana durante a qual, recebia por via endovenosa oitenta mg. Cortisona e quarenta mg. de aminofilina e, também, oxigênio initerruptamente.

No dia em que recebi alta estava completamente deformada, pois dos 50 kg. que pesava estava com 65 kg. efeito dos corticoides. O médico disse que nunca mais teria vida normal como portadora de DPOC – Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica degenerativa e incurável, não poderia fazer nenhum tipo de esforço, tomar gelado, expor-me às variações climáticas etc. Entrei em pânico literalmente, tive uma séria depressão, medo até de tomar banho. Após consultar um pneumologista passei a fazer uso diário da bombinha com corticoide o que, diminuiu a terrível e assustadora falta de ar, mas não me permitia fazer nenhum exercício, pois morando em Brasília cidade com clima árido quaisquer atividades me deixava muita cansada. Fiz a reabilitação pulmonar com exercícios acompanhados por fisioterapeutas e médicos no Hospital Universitário de Brasília e, também, a terapia que me ajudou a sair da depressão e síndrome do pânico.

A partir daí fui pesquisar na Internet tudo sobre essa doença, descobri que a URFJ em convênio com uma ONG americana fazia uma cirurgia que estava devolvendo aos portadores de DPOC uma vida praticamente normal. Conversei com meu médico que já conhecia o procedimento experimental da URFJ, disse a ele que gostaria de me submeter ao tratamento. Ele entrou em contato com a médica Coordenadora do tratamento e me inscreveu, remeti para lá todos os exames solicitados, mas para minha tristeza e decepção quando chegou a minha vez, o tratamento não estava mais sendo feito em razão da interrupção do convênio da URFJ com a ONG americana.

Fui ao congresso Nacional e solicitei ao Senador Tião Vianna através de seu Chefe de Gabinete que intercedesse junto ao Ministério da Saúde para que o tratamento cirúrgico da URFJ fosse reativado, mas, até hoje não recebi nenhuma resposta.

O único remédio para melhorar a vida do portador de DPOC é a bombinha de corticoide e em casos de crises a cortisona oral e injetável. Somente quem usa a cortisona conhece seus terríveis efeitos colaterais, tais como: insônia, edema e manchas roxas pelo corpo, tremores, alteração metabólica etc..

Mas o pior de tudo é saber que o remédio é apenas paliativo não cura, ao contrário, ajuda na degeneração dos pulmões que com o tempo vão inflando provocando dores no peito e nas costas. Em um dia qualquer o remédio passa a não fazer efeito e então é chegada a hora de usar oxigênio initerruptamente até morrer e/ou, encontrarem a cura para a doença.

Sei que existem dois tratamentos em fase de experiência um na UNESP de São José do Rio Preto com células tronco e outro na Santa Casa de Misericórdia de São Paulo através de cirurgia, mas, segundo meu médico, são apenas experiências aguardando o resultado.

Diante disso, perguntei ao meu médico o que poderia me dar melhores condições de vida, pois sentia que estava piorando e tinha um grande receio de ser internada novamente. Recomendou-me que saísse de Brasília e fosse para o litoral, pelo menos no período da seca, ocasião em que a umidade do ar chega até a 10%, dificultando ainda a mais a respiração dos portadores de DPOC.

Entrei, então, em contato com uma amiga proprietária de um apartamento na Praia Grande e acertei com ela o aluguel do mesmo no período de julho a setembro de 2009, ocasiões da seca em Brasília e, no dia 04 de julho chegamos meu marido e eu, minha irmã Valeria minha sobrinha Karla na Praia Grande (Caiçara).

O apartamento de apenas um quarto não oferecia grande conforto. Mas logo nos primeiros dias fiquei radiante, pois percebi que podia caminhar por mais de uma hora e fazer exercício sem sentir a terrível falta de ar e a canseira que já me acompanhavam por mais de cinco anos. Era um presente do céu, dos meus queridos anjos!

Embora longe de todas as minhas coisas, da minha casa e dos meus amigos, estava feliz em poder respirar e assim, decidi que não mais sairia da Praia Grande, iria procurar um apartamento mais confortável para alugar.

Por acaso conheci o Boqueirão e adorei o lugar, pensei na mesma hora em conseguir um apartamento no local. Comentei com os árabes que haviam me trazido um casal que conheci e fiz amizade e, eles disseram que poderia sim, conseguir algo.

Pedi então ao motorista que estava nos servindo para tentar encontrar um apartamento próximo à Av. Costa e Silva no Boqueirão e foi indo ver um apartamento que não gostei, vi e resolvi entrar na Imobiliária Pimentel, mostraram-nos três apartamentos, gostei apenas de um, o que estou morando.

Desde que cheguei aqui na Praia Grande passei a escrever um diário, pois sem computador não dava para escrever como sempre, nas páginas seguintes conhecerão a minha saga, até conseguir montar o apartamento da forma aprazível e aconchegante como está agora inclusive com o computador essa adorável máquina que me coloca em contato com o mundo e as pessoas, com gente, com toda a gente.

Ana

Praia Grande, 10 de julho 2009.

Estamos aqui na Praia Grande (Caiçara), há dez dias.

Alugamos o apartamento de nossa amiga Esmeralda para passarmos os meses de julho, agosto e setembro, época da seca em Brasília onde residimos. Estava muito temerosa em ficar por lá nesse período e ir parar no hospital. Sinto que minha doença a DPOC vem se agravando, embora tenha usado a medicação indicada pelo meu médico que recomendou essa temporada no litoral.

Graças a Deus estou me sentindo muito bem, tenho feito longas caminhadas pela praia e não sinto falta de ar e aquela horrível canseira.

Para minha alegria a Valéria e a Karla vieram comigo, têm me feito companhia e me ajudado bastante. Espero continuar melhorando e contar com a presença de minhas manas e sobrinhos, a convivência com a família me faz bem apesar das diferenças existentes em cada um de nós.

Fernando parece estar gostando, embora eu saiba que ele sente falta de sua NET, seus programas preferidos, seus livros e músicas. Também eu, sinto falta de minhas coisas, mas ultimamente não tenho curtido a minha casa como gostaria, a doença não me permite fazer quaisquer esforço e não encontro empregada. Tenho apenas, a Maria Rita que vai duas vezes por semana para limpar a casa e passar a roupa que lavo na máquina.

A Valéria que é ótima cozinheira está fazendo a nossa comida e estamos adorando, em Brasília há um ano estamos fazendo as refeições em restaurantes.

Esse fim de semana contamos com a presença da Ivone, pena que hoje choveu e o dia ficou mais frio, assim ela não pode curtir a praia que tanto gosta. Tomara que amanhã o tempo fique bonito com muito sol.

Quando o tempo está firme é tudo muito bonito!

O céu de um azul lindíssimo!

O mar verde e infinito!

Sinto-me feliz em comtemplar tanta beleza!

A areia da praia é fininha e quentinha!

A orla é toda arborizada, o calçadão muito bonito.

Diverti-me bastante quando vi algumas pessoas usando um objeto para perfurar a areia beira mar, disseram que estavam caçando corruptos, uns mariscos parecidos com camarão que eles utilizam como isca para pescar. Passamos, então a olhar os orifícios que os corruptos fazem na areia e chegamos à conclusão de que orifícios grandes são de corruptos fortes e grandes, eu e Fernando fizemos piadas comparando-os com os corruptos de Brasília.

Karla se distraiu catando lindas conchas coloridas durante a nossa caminhada pela praia. Depois sentamos no quiosque da Suzana, tomamos nossos aperitivos e voltamos para casa, para saborearmos o almoço que a Valéria deixou quase pronto. À noite vimos TV, jogamos buraco ou saímos para dar uma volta. Não gosto de pensar que as férias da Karla vão terminar e ela e Léia terão que ir embora. Pena que Fernando não trouxe e nem quer trazer o carro, assim poderíamos passear mais, conhecer outras praias.

Gostaria que Deus me ajudasse ainda mais que tem ajudado para eu poder comprar um apartamento aqui, ficaria tão feliz! Se eu for merecedora ele e meus Anjos queridos não me faltarão. Estou com muito sono. Vou fazer minhas orações e pedir por todos, mas especialmente pela Nieta que está com pneumonia, desejo que ela se restabeleça logo e venha passar seus dias de férias conosco. Amanhã vão entregar o armário que a Esmeralda comprou para o quarto. Não vejo a hora de colocar as coisas nos lugares e o quarto ficar mais arrumadinho, a cozinha e a sala estão ajeitadas. Não sei o que será de mim, mas desejo viver com dignidade e alegria cercada das pessoas que amo o tempo que me restar. Estou calma e sei que dormirei em paz.

Ana

Praia Grande, 12 de julho de 2009

Desde sexta-feira o tempo mudou, choveu muito e está fazendo frio.

Sábado entregaram o armário do quarto, mas ainda, não vieram montá-lo. Amanhã ligaremos para empresa pedindo a agilização da instalação do mesmo. Ontem passei o dia em casa, hoje saímos para fazer umas comprinhas. Conversei com o zelador e ele ficou de me arranjar uma empregada. Continuo me sentindo bem graças a Deus, não estou sentindo falta de ar. Ontem à noite assisti ao Show Especial de Roberto Carlos pelos seus cinquenta anos de carreira. Lembrei com ele, diversos episódios de minha adolescência e juventude. Senti um misto de saudades, alegria e melancolia. Tantos sonhos! Tanta esperança! Muitas ilusões, muitas decepções. Lembrei-me de meus antigos amigos, dos bailes, das matinês, dos filmes. Lembrei-me de minha vontade de ser artista, me tornar atriz, fui aprovada em um teste realizado pela extinta TV Excelsior, mas como era menor de idade e meu pai não deu autorização para que eu integrasse o elenco da novela Sangue do meu sangue, grande sucesso da época, o sonho acabou. Assim, como esse, foram tantos os sonhos não realizados por falta de tempo, de oportunidades e até mesmo de incentivo. Comecei a trabalhar aos catorze anos e nunca mais parei, até me aposentar como funcionária pública. Agora deixo de fazer as coisas por causa da saúde, gostaria muito de fazer natação, ginástica e até dança de salão entre outras coisas, mas o meu maior objetivo é viver o melhor possível e com dignidade essa vida minha.

Teremos, ou melhor, terei com certeza, novas oportunidades para a realização dos sonhos perdidos nessa estrada. Haverá, eu sei, um tempo novo para que tenha os filhos que não tive, exerça as atividades que desejei, conviva mais e melhor com os familiares e os amigos que prematuramente perdi. Haverá um tempo para que cultive um belo jardim e more em uma casa cercada de roseiras choronas com rosas cor de rosa igual à casa que morei quando era uma menininha. Quero visitar nesse novo tempo a Espanha e Portugal, ter muitos amigos e com eles realizar muitas serestas, muitos saraus em noites de lua com o céu repleto de estrelas ou, em noites frias e chuvosas, aquecidos por lareiras, velas ou fogueiras, mas, principalmente, pelo abraço carinhoso do meu amor. Nesse novo tempo, quero acordar com o canto dos passarinhos, com o murmurar de uma cascata e com a luz do sol invadindo meu quarto iluminando tudo, a vida e aquecendo meu coração. Caminharei entre as folhagens e flores do meu belo jardim inalando o odor do mato, da terra molhada e o perfume das flores. Admirarei as cores das borboletas e me deliciarei observando os colibris. Depois montarei um cavalo e galoparei pela pradaria verde. Quero saborear os frutos colhidos na hora. Quero me banhar nas aguas de um rio e sentir a brisa tocando meu corpo novo. Quero viver o azul, o verde, o amarelo, o roxo, o branco e o rosa, o sólido e o líquido, o opaco e o transparente, quero de novo ser gente que

gosta da natureza e de contemplar sua beleza, gente que gosta de gente.

Ana

Praia Grande, 04 de agosto de 2009.

Hoje completou exatamente um mês que estamos aqui. Graças a Deus apesar do mal tempo da última semana não tive nenhum problema, continuo respirando bem. Nieta, Valéria e Karla passaram conosco o mês de julho. Hoje Fernando foi a Brasília, mas a Maria e o Daniel vieram para ficar comigo, pois a Nieta e a Karla foram embora. Consegui uma senhora para me ajudar nos trabalhos domésticos, mas sou eu quem está cozinhando. Gostaria muitíssimo de poder comprar um apartamento aqui, o clima me faz muito bem, sinto-me disposta, sem nenhuma dificuldade para respirar e, também, sem aquela impressão tenebrosa de que vou morrer a qualquer instante. Infelizmente Fernando não compreende o meu drama e não quer sair de Brasília de jeito nenhum. Gostaria muito que ele vendesse seus terrenos em Salvador para podermos comprar um apartamento aqui, todavia nesse quesito não posso contar com ele e infelizmente não tenho o dinheiro para fazer esse investimento. Tenho rezado muito e pedido a Deus para me ajudar se eu for merecedora.

Eduardo prometeu vir passar o final da semana conosco.

Amanhã se não der praia tenciono ir ao centro, vou ver se acho outra lavanderia, preciso lavar o edredom da minha cama. Também quero dar um passeio com o Dani e a Maria, conhecer melhor a cidade e as praias. Vou ver se consigo fazer isso no período que Fernando estará em Brasília. Gostaria muito de ficar aqui pelo menos até o final do ano, ou seja, até dezembro, mas o Fernando não quer. Acho uma tolice voltarmos para Brasília se em novembro tem o casamento da Luzia e logo depois já é Natal. Poderíamos ficar aqui e não gastar com viagem em novembro e dezembro, mas é muito difícil convencer o Fernando, parece que, como ele não consegue ter um bom relacionamento com os irmãos dele, não fica feliz em ver que me relaciono bem com os meus.

A vida em comum, mesmo com a existência de muito afeto fica às vezes difícil demais. Estou com bastante sono e ainda vou tomar banho e rezar. Tomara que tudo dê certo e eu continue bem.

Ana

Praia Grande, 09 de agosto de 2009.

Hoje levantamos cedo, tomamos café e saímos. Fomos até Santos, passamos pelas praias de São Vicente, Gonzaga, José Menino e depois fomos para o Shopping. Adoramos a cidade, é completa, tem vida própria e, também a praia. Só Deus sabe como estou me sentindo bem e feliz aqui. Nada como respirar normalmente, não tenho nenhuma vontade de voltar para Brasília, só em pensar nisso fico deprimida e triste. Brasília já me deu o que tinha para dar, além dos poucos amigos nada mais me prende aquela cidade.

Esta semana, com a companhia de Maria e Daniel passeei bastante, andamos pelo centro da Praia Grande, fomos a São Vicente e Santos, visitamos os Shoppings das cidades, caminhamos na praia. Sábado o sol estava magnifico, passamos o dia na praia, enquanto a Jussara uma excelente faxineira que arrumei deu uma completa geral no apartamento, lavou os terraços, paredes, portas, limpou os vidros, lavou o banheiro a cozinha e a área de serviço ficou tudo limpinho sem nenhuma poeira.

À noite Edson e Dalva nos levaram até a Ilha Pochá, eu já conhecia, Maria e Daniel adoraram. Daniel comeu uma casquinha de siri e tomou um daiquiri sem álcool e eu tomei um daiquiri com pouco rum, muita soda gelo e groselha, Dalva tomou um daiquiri igual ao de Daniel, pois não conhecia, Maria e Edson tomaram um shop. Foi muito legal o passeio, todos gostaram e ficaram felizes. A vista do mirante da Ilha é belíssima! Lembrei-me de tempos antigos quando vinha com meus amigos e depois ficávamos no restaurante Juá para jantar e dançar. Senti muitas saudades da minha amiga Edith, sempre me convidava para seu apartamento na Praia José Menino, à noite sempre saíamos, muitas vezes íamos à Ilha.

Descobri outro supermercado que gostei muito. Achei bem mais barato que o Compre Bem. Descobri também outra Mercearia aqui perto e outro quiosque na praia onde as coisas são bem mais baratas, é o da Jacira.

Amanhã Fernando deve chegar, mas não me informou o voo e nem a previsão de chegada em São Paulo. Disse-me ao telefone que iria falar com o Edson.

Estou triste, Maria e Daniel vão embora na terça-feira. Fernando não gosta de sair. Infelizmente essa semana não deu para irmos a Itanhaém e a Mongaguá como queríamos.

Pedi ao Edson para ver se encontra um apartamento para eu alugar no centro da praia grande nas imediações da Costa e Silva.

Maria disse que se encontrar um apartamento barato virá para cá, está ficando muito difícil continuar onde mora.

Quando fiz compras no Smat o mercado que descobri, me deram para preencher dez cupons e, assim, concorrer a três casas, três carros e três vale-compras, estou pedindo a Deus para ser sorteada e, dessa forma, conseguir os recursos para comprar um apartamento aqui e nunca mais voltar para Brasília principalmente no início de outubro, ficarei imensamente triste e muito mal. Não gosto de imaginar o cansaço e a falta de ar.

Infelizmente nem tudo é como a gente deseja. Fernando não consegue entender o meu dilema, sei que em Brasília meu tempo de vida será ruim e curto, mas se é isso que Deus reserva para mim tenho que me conformar, embora esteja cheia de esperança de conseguir antes do final da temporada recursos para ficar aqui de vez. Estou com muito sono, vou dormir, pois amanhã pretendemos ir caminhar cedo na praia.

Ana

Praia Grande, 10 de agosto de 2009.

Fernando chegou de Brasília e não nos encontrou em casa.

Saímos mais tarde para caminhar, paramos na praia para uma água de coco e umas fotos para Daniel, depois fomos almoçar no Compadre Grill e, após fomos ao salão, minhas unhas e sobrancelhas estavam um horror e eu queria estar arrumada para reencontrar Fernando que passou uma semana fora.

Maria que irá embora amanhã também quis arrumar o cabelo e as unhas. Chegamos à casa perto das dezenove horas. Fernando fez boa viagem, disse que estava e ficou tudo tranquilo em Brasília. Contei-lhe sobre nossos passeios, caminhadas e descobertas, matamos a saudade.

Agora estou cansada e com muito sono, vou dormir.

Ana

Praia Grande, 11 de agosto 2009.

Como previsto, levantamos cedo, tomamos café e, depois, fomos deixar a Maria e o Daniel na rodoviária para voltarem à São Paulo.

Após, fui a LAN HAUSE coletar algumas informações que desejava. O tempo estava instável e eu não me sentia bem, minha garganta doía bastante, não deu para fazer caminhada. Almoçamos na Avenida e voltamos para casa. Passei a tarde dormindo. Fernando dormiu um pouco. Dalva veio arrumou a casa e foi embora. Acordei e fiquei fazendo palavras cruzadas. Depois fui tomar banho e após preparei um chá para nós. Liguei para Maria, eles chegaram bem. Estou meio melancólica, às vezes me vejo sem perspectivas. Olho o horizonte, comtemplo sua beleza, adoro o mar, o odor da maresia, adoro acordar com a incansável afirmação dos bem-te-vis, mas quando penso no futuro sinto um aperto no coração, fico tentando me convencer que tudo será melhor, mais bonito, oxalá não seja apenas, mais um sonho como tantos outros que se foram.

Quero dormir tranquila e acordar bem para caminhar na praia. Tomara que amanhã encontremos peixe para comprar.

Que Deus e os anjos nos abençoem e iluminem.

Ana

Praia Grande, 13 de agosto de 2009.

Para os supersticiosos essa data não é nada auspiciosa. Não sou muito ligada em números, mas creio que abaixo do céu e sobre a terra tudo é possível. De fato não me recordei pela manhã da peculiaridade da data, teria feito um joguinho da dupla sena, quem sabe teria sorte, só assim conseguiria os recursos necessários para me instalar de vez aqui e não mais voltar para Brasília.

13.08.2009, a soma desses números resulta em 2.030, se encontrar um bilhete da loteria federal com esse número jogarei e que os céus me ajudem e os anjos digam amém.

Levantamos tarde hoje, caminhamos até a Avenida, queria encontrar uma loja de móveis usados para ver um sofá-cama, pois os dois da sala são uma fabrica de fazer ácaros, não consigo ficar sentada neles por mais que alguns minutos.

Encontramos uma loja com apenas um sofá-cama em bom estado, todavia preciso falar com a Esmeralda e ver outras lojas.

A sala é o lugar da casa que não gosto, por causa dos ácaros, da pouca iluminação e da vista que é feia. Falei com Fernando novamente sobre a possiblidade de moramos aqui, mas ele não quer saber, parece que somente para me irritar disse que poderíamos morar em Salvador, não sei onde, o imóvel que escolheu da herança dos pais fica em Brotas, lá no alto da ladeira, junto da rede elétrica. Sair de Brasília para morar em Salvador cheio de ladeiras, tão ou mais violenta que São Paulo e ainda perto dos irmãos dele que nunca se entendem e só pensam neles. Disse-me que no começo do mês irá novamente a Brasília, fazer o que, não sei. Fico impressionada, mesmo vendo que estou respirando muito bem aqui insiste em continuar em Brasília, será se fosse ele que não respirasse queria continuar lá?

Será que não entende que quanto mais eu forço para respirar mais depressa degeneram meus pulmões?

As pessoas às vezes se tornam egoístas. Estou pensando muito bem no que vou fazer e como fazer. Preciso pensar em mim, no meu bem estar, quero viver o melhor possível o tempo que me restar. Essa preocupação me tira a alegria, sinto uma melancolia que se traduz em manchas roxas pelo corpo. Hoje passei a tarde pensando, triste. À noite falei com a Luzia, dia três o Agenor vem nos buscar para o Chá-bar dela que será no dia nove. Gosto muito da Luzia.

O Fernando já desligou a TV e está querendo dormir. Estou um pouco chata hoje, é melhor parar por aqui.

Ana

Praia Grande, 15 de agosto de 2009.

Hoje o dia ficou bonito, o céu totalmente azul e muito sol, as praias estavam repletas. Fomos a Santos Velho, passeamos no bondinho da Prefeitura, foi muito agradável relembrar a história do Brasil colonial. Saímos da Praça Mauá e circulamos por todo centro velho, visitamos o museu do café com sua charmosa cafeteria, admiramos os antigos monumentos, igrejas etc.. Infelizmente o Fernando não levou a máquina fotográfica e desse modo não foi possível registrar o belo e agradável passeio. Gostaria de ter andado pelas ruas antigas, mas Fernando não quis nem chegar até a antiga rodoviária a pé para tomarmos um taxi. Pediu ao funcionário do bondinho que ligasse para o ponto solicitando um taxi para nos levar até o Shopping, onde almoçamos e acabei fazendo umas comprinhas, consegui montar o Kit do Edredom e as roupas de cama que havia comprado. Agora estou com três Kits. Também comprei umas blusinhas de malha básica mangas três quartos, ideal para esse tempo instável. Não consegui encontrar as calças que estou precisando, qualquer hora acabo encontrando. Não vi nenhuma imobiliária aberta, gostaria de ter visto alguns apartamentos para mim e também para a Maria. Não quero voltar para Brasília de jeito nenhum. Só eu sei o que é poder respirar sem dificuldade. Dormir bem. Não viver assustada, com medo de passar mal, de piorar as condições de sobrevivência. Fernando não admite a ideia de sair de Brasília. Não sei realmente o que é que o prende lá. Talvez puro comodismo. Talvez motivos que nem desconfio “mistério”, como dizia a lendária d. Lulu.

Não quero ficar aqui no apartamento da Esmeralda. Por um tempo é possível, mas infelizmente não tem conforto.

Vou tentar conseguir um apartamento no centro, num prédio bem arrumadinho com dois quartos e em boas condições. Infelizmente, tenho que ver tudo sozinha, não posso contar com o Fernando, acho que ele já não gosta de mim, há muito tempo, desde que fiquei doente e, isso é uma bela desculpa para nos separar. Imaginem só, incompatibilidade de residência. De toda maneira espero conseguir um apartamento. Quando estiver instalada aqui vou procurar um bom pneumologista e tentar junto a Prefeitura criar uma Associação dos Portadores de DPOC. Descobri que aqui na baixada santista residem muitos portadores dessa doença.

Vou ligar para a Maria pedindo para vir ficar comigo por uma semana pelo menos para procurarmos apartamento.

Estou muito triste em ter que me separar de Fernando, mas é bom que ele se livre de mim agora, pois o futuro não é nada bom e ele é uma pessoa nervosa. Ele vai receber a herança dele, é muito sossegado e vai viver tranquilo, talvez até encontre alguém para fazê-lo feliz e eu realmente desejo isso.

Eu não quero mais ninguém, vou continuar escrevendo, curtindo a natureza, a família, os amigos e, quando os pulmões deixarem de funcionar, tratarei de conseguir um galão e uma bala de oxigênio e com a minha criatividade arranjarei um jeito de me locomover com eles em casa e fora. Tomara que a Maria venha morar aqui, mas acho muito difícil. Ela é muito arraigada. Tenho pena dela, pois está vivendo sem nenhuma qualidade de vida,

Correndo o risco de ficar sem andar, se ilude com o Daniel, conversei com o garoto, ele não quer nada com os estudos, coitado, puxou a mãe, além de não ter nenhuma estrutura paterna e materna convive com crianças de baixo nível social. Sei que a Maria tenta compensá-lo, mas isso não o ajuda, ao contrário pensa que sempre contará com o dinheiro dela para suprir suas necessidades e vontades. Eu aprendi a não contar com a família e agora cheguei à conclusão que não posso contar com o Fernando. Por mais absurdo que isso possa parecer não me assusto. Nascemos e morremos sós. Companhia são os amigos que temos por perto, Deus e os anjos que nunca me abandonaram, meus livros, minhas músicas e nas horas de solidão aquele abraço na poesia. Estou com sono e agora vou dormir. Essa noite sonhei com a Elian e a Juliana, estávamos conversando e Elian falou algumas coisas tão sensatas que me impressionou. Orei por ela e torço para que já tenha tomado consciência de seu ato insano, tenha pedido perdão a Deus e esteja em algum lugar de recuperação e de paz. Também rezei por Juliana, não tenho notícias dela que não mora mais no mesmo lugar e mudou seus telefones. Espero que esteja muito bem, gosto muito da minha amiga mais pequenina e de alma imensa.

A Gil me telefonou hoje, ficou feliz em saber que estou bem e disse que assim que puder virá me ver. Adoro a Gil, é uma amiga preciosa. Sei que é muito sofrida, mas não demonstra isso para as pessoas. A Nieta que ficou de vir passar o fim de semana conosco, não telefonou nem para dar noticias da Ivone e essa é outra, incapaz de fazer uma ligação para mim. Alias, a única que me liga de vez em quando é a Maria.

Ana

Praia grande, 17 de agosto de 2009

Hoje o dia amanheceu frio e chuvoso. Acordei cedo, botei as roupas no varal e as toalhas na máquina. Fernando continua dormindo, só vou acordá-lo às dez horas para que tome seus remédios. Ontem após o almoço fomos procurar lojas de móveis usados. Depois de muito procurar conseguimos um sofá-cama razoável, está um pouco sujo, vou ver se consigo limpá-lo junto com a Dalva que ficou de trazer o aspirador. Gostaria tanto de estar procurando apartamento para mim! Seria tão bom se eu conseguisse lá no Boqueirão! Gostei tanto do centro, ali tem tudo perto. Ah meu Deus, será que não mereço essa alegria? Trabalhei tanto a minha vida toda e agora só gostaria de viver decentemente num lugar aprazível como esse e que me faz tão bem à saúde.

Quero viver entre o oceano e a serra do mar

Quero sentir a brisa e aspirar ao odor da maresia

Quero ver o infinito encontrando o oceano

Ver o azul do firmamento, o verde da serra do mar.

Quero admirar as gaivotas voando livremente

A espuma branca das ondas quebrando na praia

Ver as crianças brincando felizes com suas pipas

Quero o sol aquecendo o meu corpo molhado

Saborear um delicioso coco gelado

Andar na praia feliz e despreocupada

Voltar para a casa com a vida cheia de graça

Quero ver o dia ir e a noite chegar

Com lindas estrelas e a luz do luar

Quero ouvir os acordes de um violão chorão

Adormecer tranquila ouvindo uma canção

Quero fazer desse lugar o meu lugar

Para continuar a viver e a sonhar

Quero ser tudo e não ser nada

Quero ter tudo e não ter nada

Eu quero somente, viver.

Ana

Praia Grande, 20 de agosto de 2009.

Esta manhã, acordei chorando, era uma tristeza imensa apertando o meu peito, fazendo doer a minha cabeça e minhas pernas, parece que o sangue não circulava bem em meu corpo.

Cheguei à conclusão de que o Fernando é uma pessoa muito egoísta. Diz que me ama, mas os seus gestos não correspondem às suas palavras. Há muitos anos não é capaz de uma delicadeza voluntária, como oferecer-me um buquê de flores, um bicho de pelúcia, uma bijuteria ou uma joia, mimos que um homem apaixonado gosta de fazer a sua amada. Também, nunca me convida para um cinema, um teatro, um jantar especial. Tenho notado, que ultimamente, quando me arrumo e me enfeito para sair ele não gosta. Tenho uma coleção de anjos, ele sabe que eu adoro-os, quase todos os meus amigos e parentes já me presentearam com um, menos ele. Depois que fiquei doente parece que piorou é como se eu tivesse culpa de ter adoecido. Ele deveria ter pedido um exame pré-nupcial antes de ficarmos juntos, assim, agora não estaria convivendo com uma portadora de uma doença degenerativa. Sabemos todos que isso só irá piorar, só não sabemos quando. Vim para o litoral por recomendação médica. Aqui estou sentindo-me como já repeti diversas vezes, muitíssimo bem. Obviamente ele tem notado, mas insiste em voltar para Brasília mesmo sabendo que lá não consigo fazer nenhum esforço ou caminhar como faço todos os dias aqui. Sabe que lá vou piorando rapidamente por ter que forçar mais os pulmões para respirar. Propus a ele alugarmos um apartamento no centro, onde tudo fica perto, já que ele não quer trazer o carro. Veio ele com uma desculpa esfarrapada e não deu nenhum final a conversa. Gostaria de vê-lo sem respirar apenas por alguns instantes, mas infeliz ou felizmente não desejo o que sinto nem para ele e sequer para o meu maior inimigo. Acho que ninguém é obrigado a fazer o que não quer, mas não pode impedir o outro de viver melhor. Se ele gosta tanto de Brasília, vá para lá, no momento necessário irei e aí resolveremos o que fazer. Desejo, apenas, meus objetos pessoais e de decoração que comprei ou ganhei. Acho justo se ele vender o carro me dar a metade do dinheiro, pois quando foi comprado, eu dei a metade do valor. Graças a Deus o que ganhamos dá para vivermos dignamente. Só quero viver bem e em paz, afinal tenho esse direito.

Ana

Praia grande, 21 de agosto de 2009.

Hoje não deu para fazer caminhada. A manhã estava fria com muito vento e garoa. Fiz um capeleti e hambúrguer de frango a milanesa e, isso foi o nosso almoço. Quando a Dalva chegou saímos com o Edson para comprarmos algumas cosias. Depois, resolvemos ver um apartamento que o Edson tinha havia visto no Boqueirão, perto da praia e da Avenida Costa e Silva. Fomos à Imobiliária Pimentel e vimos outros dois apartamentos, mas só gostei do apartamento que fica na Rua Amazonas, está todo reformado, a localização é ótima, tudo perto, comercio em geral, bancos, farmácias, médicos, mercados etc. e o prédio bonito e seguro com portaria e garagem. Não vi no Fernando nenhuma boa vontade parece que por pirraça não quer morar aqui. Discutimos agora à noite e ele disse que não é obrigado a ficar onde eu quero e, que existe litoral em outros estados.

Embora contrariada e humilhada, disse-lhe que minha doença é degenerativa e no final quero estar perto da minha gente. Seria melhor ele ficar em Brasília. Alegou que ficará sem computador e sem NET, nem se preocupa que eu também, sinto falta das minhas coisas, o computador que uso muito mais que ele. Parece que está fazendo um enorme sacrifício e isso me magoa muito, levando-me a crer que ele não gosta de mim. A Ivone chegará amanhã, pena que estou tão triste! Farei tudo para dissimular a minha dor e, tentarei passear mais com ela. Sei que a vida tem sido difícil para ela. Gostaria de dormir e nunca mais acordar, espero encontrar do outro lado um lugar de paz e de recuperação. Que Deus, meus anjos e meus guias protejam-me e ilumine-me. Nossa Senhora Aparecida acolha-me sob o vosso manto, estou precisando do colo, do abraço e do carinho de mãe. Abençoe e acalma o meu coração tão atribulado, tão apertado!

Ana

Praia Grande, 26 de agosto de 2009.

Ontem fechamos com a Imobiliária Pimentel o aluguel do apartamento da Rua Amazonas que gostei. A Ivone que está aqui foi nossa fiadora e alugou um bonito apartamento para si, próximo ao nosso. Maria também quer vir morar aqui, mas ainda não conseguimos encontrar um bom apartamento bem próximo ao nosso como ela deseja, continuaremos procurando.

Apesar de tudo está dando certo como eu desejava estou muito triste, gostaria que Deus tivesse compaixão de mim e botasse logo um final na minha existência. Estou sofrendo muito com o Fernando muitíssimo aborrecido aqui. Disse na frente de todos que é forçado a ficar aqui por causa da minha doença, não desejo que ele e nem ninguém fique forçado a meu lado por quaisquer razões. À tarde quando fomos ao Boqueirão com a Ivone para que ela assinasse a documentação na imobiliária, passamos no Magazine Luiza, para ver uns móveis que precisamos comprar para o apartamento. A má vontade dele é tanta que qualquer pessoa percebe. Não quero nada de luxo, apenas montar o apartamento com conforto. A noite passada eu não consegui dormir, uma melancolia imensa tomou conta de mim, chorei a noite toda, ele acordou de madrugada com meu choro e ficou bravo, queria brigar. Amanheci com o corpo cheio de manchas roxas. Queria sair cedo e me atirar no mar até afogar, mas sou crente em Deus e minha fé não me permitiu adotar esse ato insano. Estou cansada de tudo.

Minha vida não tem mais luz, cor, sonhos, planos nada que seduz...

Minha vida não tem alegria, graça, fantasias...

Minha vida é uma tola tentativa de continuar na estrada, de ser alguém com perspectivas, num mundo de flores, músicas e poesias...

Mas minha vida é apenas um resto de vida forçando viver, uma farsa tão sem graça... .

Ana

Praia Grande, 27 de agosto de 2009.

Hoje o dia não foi nem um pouquinho melhor que o de ontem. Havia combinado com a Ivone de irmos cedo ao Boqueirão medir os nossos apartamentos para termos noção da colocação dos móveis e, depois irmos ver outras imobiliárias para procurar um apartamento para Maria, conforme havíamos prometido para ela que ficou toda animada em saber que a Ivone resolveu morar aqui. Realmente ela precisa mudar daquela casa, pois a escada vai acabar com a sua locomoção. Por isso, minha animação em encontrar um apartamento para ela. Não deu nada certo. Fernando inventou de ir junto e, como já era tarde, eu disse a ele que a Ivone demoraria visitando outras imobiliárias e, assim, acabaríamos por almoçar por lá, que alguém teria que ficar para esperar a Dalva chegar às catorze horas. Ele ficou silente, resolvi eu ficar e ir arrumar minhas unhas até que a Dalva chegasse e a Ivone iria só ver outras imobiliárias e os imóveis porventura existentes. Acontece que ele deixou apenas, que a Ivone medisse o apartamento dela e veio embora, não mediu sequer o meu apartamento. Para não arrumar confusão a Ivone não foi ver as outras imobiliárias. Resultado, ficou todo mundo dentro de casa a tarde toda, menos eu que que, de repente, fiquei injuriada e saí sozinha para dar uma volta, quando ele me viu já estava de bolsa na mão saindo. Fui até a Loteca conferir o meu bilhete e fazer um joguinho, dei uma olhada em algumas lojas, depois fui à igreja São Pedro que fica na avenida. Aproveitei confessei e conversei com o padre falando de minha situação, da minha insatisfação e da minha tristeza e, infelizmente, da minha vontade de morrer logo, embora saiba que, como cristã não deveria pensar assim. O padre tem problemas de dicção e visão. Falou-me para ter fé e paciência me apegar em Jesus e tentar realizar os meus desejos sem atritos. Tomar as decisões que posso, sem discuti-las. Segundo ele é a melhor forma de executar o que é preciso sem desgastes e agressões, já que o entendimento está difícil. Assisti a missa, rezei bastante pedindo a Deus para iluminar-me. Amanhã vou verificar quanto receberei de salário e quanto tenho na poupança. Vou comprar o que é necessário e pronto.

Fernando disse que vai vender o carro e comprar um usado mais barato. O que sobrar pedirei que divida comigo. Tomara que ele pare de ser pirracento egoísta e mandão, mas se insistir nessa atitude infantil dizendo-se contrariado, forçado etc. ficará impossível a convivência.

A previsão do tempo informa que dará sol, muito sol no final de semana, pretendo ir caminhar cedo e à tarde sair. Vou fazer o que já deveria ter sido feito hoje. Vou ficar por aqui, pois embora tenha levantado tarde, dormido após o almoço, Fernando está aqui lendo e abrindo a boca sem parar. Disse-me para apagar a luz quando terminasse de escrever. Vou dormir, embora gostasse de poder continuar escrevendo.

Ana

Praia Grande, 28 de agosto de 2009.

Acordei às oito horas, o dia estava lindo! O céu cor de anil sem uma nuvem, o sol iluminando tudo, a Ivone já havia acordado e preparado o café, bati a vitamina do Fernando e fui levar-lhe na cama como faço desde que nos casamos, perguntei se iria tomar os remédios e disse-lhe que iria à praia caminhar com a Ivone e queria dinheiro, pois estava sem nada na carteira.

Ele respondeu-me com um berro dizendo que não iria aceitar ordens minhas. Disse a ele que foi sempre ele o responsável para sacar dinheiro, por opção dele, mas que não precisava mais terminei de me arrumar e saí com a Ivone para a praia, mas estava com uma terrível dor no peito. Não consegui caminhar, disse a Ivone para sentarmos um pouco no sol e pedi para a garota da barraca preparar um suco de maracujá bem doce para mim, tentei ir me acalmando e a dor graças a Deus passou. Tive um medo terrível de ter outro derrame do pericárdio, estava me sentindo tão bem! Que lástima tudo isso! Não demorou muito e Fernando apareceu, eu e Ivone estávamos iniciando a nossa caminhada e ele nos seguiu tentando conversar como se nada houvesse acontecido. Caminhamos, voltamos à barraca tomamos água de coco e depois seguimos direto para o restaurante almoçar, desejava ir com a Ivone ao Boqueirão fazer umas pesquisas de preço dos móveis que iremos precisar. Depois comprei liquidificador, pois estávamos usando o da Nieta e ela deve estar precisando dele. Amanhã farei uma lista de tudo que precisaremos para o apartamento e entregarei a Fernando, fico até receosa, não se aguentarei mais gritos e grosserias da parte dele. Agora não sinto sequer vontade de conversar com ele. Estou com dores no peito de novo, tomei um lexotan e um ponstan, já estou com sono, vou dormir. Que Deus e os anjos me protejam e iluminem e a Fernando também, se ele não gosta mais de mim, como parece se está contrariado aqui, se prefere outra vida que assuma suas vontades e siga o seu caminho, eu seguirei o meu. Durante a vida tenho encontrado bons amigos, boas pessoas, com certeza farei amigos aqui também. Queria muito poder comprar um computador, mas não será possível. Assim que der comprarei e voltarei a escrever e publicar minhas poesias, artigos e textos, falar com meus amigos virtuais e reais, sinto saudades de todos. Meu peito ainda dói, vou tentar dormir, amanhã será um novo dia.

Ana

Praia Grande, 29 de agosto de 2009.

O dia amanheceu tão lindo quanto ontem, acordei muito tarde às dez horas e vinte minutos, Fernando não deixou a Ivone acordar-me para irmos à praia. Assim, saímos tarde às onze e trinta horas como estava com bastante dor no peito e um pouco zonza disse a Ivone para ficarmos sentadas na barraca da praia tomando sol que não estava muito forte. Pedi ao garoto um suco de laranja com sal e tomei um ponstan, achei que minha pressão estava baixa demais. A dor melhorou, mas estava indisposta. Fernando chegou logo depois, tinha ido à lotérica fazer seu jogo e comprar jornal. Pedi um coco, ele tomou uma cuba e a Ivone uma caipirosca e um bolinho de carne seca com abóbora que ela adora. Falei com o Fernando sobre a pesquisa de preços dos móveis que fizemos ontem. Disse-lhe que quero tirar um sofá-cama vermelho que tem na sala e botar no quarto de visitas, pois é vermelho e não combina com nada, muito menos com a parede rosa ao fundo atrás da mesa. Ele ficou indiferente. Uma coisa é certa comprarei um sofá para sala, não consigo ficar em ambientes sem harmonia. Continuo sentindo dores no peito, mas acho que é tensão nervosa, mesmo assim, receio ter novo derrame do pericárdio, com essa insuficiência pulmonar será fatal. Tenho me informado sobre bons hospitais, cardiologistas e pneumologistas aqui, disseram-me que a Santa Casa Particular, a Clínica Ana Costa e a Beneficência Portuguesa são ótimas e atendem vários convênios. A semana que vem vou verificar isso direitinho e marcar uma consulta com o cardiologista. Estou ansiosa para ir para o meu apartamento, arrumar as minhas coisas. Hoje é dia vinte e nove, fiz para o almoço o nhoque da fortuna, espero que dê certo e entre uma grana extra para que possa arrumar o apartamento sem aperto. Não consigo deixar de ficar triste sabendo que o Fernando está contrariado, forçado aqui como ele diz e por isso mesmo está infeliz. Não vejo nele nenhuma animação, nenhuma alegria, ele não consegue ver as belezas do lugar e são muitas. Disse que só verá as coisas para o apartamento depois de voltar de Brasília e eu gostaria de fazer tudo com calma e aos poucos para não ter que arrumar tudo de uma só vez, até porque não posso fazer muito esforço e odeio ver as coisas desarrumadas. Amanhã a Ivone irá embora. Dia três o Agenor virá nos buscar para o chá-bar da Luzia e de Bil. Voltaremos no dia sete, se de lá o Fernando for para Brasília virei com a Maria se ela puder. É horrível essa situação, não sei se trará ou o que trará de Brasília, preciso das toalhas de mesa, das colchas de minha cama, dos tapetinhos do banheiro, dos caminhos de mesa, e das toalhinhas. Sei que não quer trazer meus enfeites. Fico imaginando como será triste esse apartamento. Para respirar estou abrindo mão de tantas coisas e aí vem a questão, de que adiantam as coisas sem poder respirar? Sem saúde, sem forças. A vida de repente vira uma coisa estranha, vida sem sonhos, sem cor, beleza, graça, humor, sabor. Será vida ou arremedo de vida. Viver ao lado de uma pessoa que sabemos estar infeliz e sem motivação para nada é terrível. É viver morrendo um pouquinho a cada hora, a cada minuto. Engraçado, sinceramente não temo a morte, creio na existência da vida espiritual e na reencarnação, mas temo pelo sofrimento físico e emocional pré-morte, não só para mim, mas para as pessoas que me querem bem. Sinto em certos momentos que a minha missão nesse planeta está quase no fim, mas sinto também que antes preciso realizar algo, ontem tive não sei se uma intuição ou uma mensagem do que devo realizar, farei se possível, com a maior alegria essa tarefa ou qualquer outra que me for designada. Só peço a Deus e aos Meus Anjos queridos as forças necessárias para passar por tudo com coragem, dignidade, humildade, fé e muita esperança. Meus olhos estão fechando de tanto sono, meu peito dói. Amanhã será um novo dia, espero que apesar da partida da Ivone, seja bem melhor, bem mais tranquilo que o dia de hoje.

Ana

Praia Grande, 30 de agosto 2009.

Curtimos bastante a praia pela manhã, a Ivone foi embora à tarde, chegou a São Paulo e me ligou.

A Maria também me telefonou, está entusiasmada para mudar para cá, virá ficar comigo quando o Fernando for para Brasília e aproveitará para procurar um apartamento para si. Desisti de falar com Fernando sobre a arrumação do apartamento novo, ele não está nem um pouco interessado é como dissesse: “quer respirar? – Então respire e só” Embora tenhamos alugado o apartamento por um período de três anos, para ele seu domicilio é em Brasília e eu já me considero moradora da Praia Grande. Decidi que usarei minhas parcas economias para arrumar o apartamento direitinho, quero morar com um mínimo de conforto e, depois, vida de bicho é que se resume em comer e dormir simplesmente.

De Brasília só desejo os meus objetos pessoais e adornos que comprei ou ganhei. Já montei um apartamento sozinha em tempos muitos mais difíceis e posso fazer isso de novo, espero, apenas, não ter que esperar um ano para ter uma TV e uma máquina de lavar roupas. Na verdade, nem sei se terei tanto vida para ficar esperando tanto tempo, um mês, um ano, dois anos sei lá.

Dizem que casamento é sociedade, acho que a sociedade Fernando/Ana depois de dezoito anos está falida, nada tenho de meu a não ser uma pequena poupança e meus proventos de aposentadoria que graças a Deus dá para me manter com simplicidade. Também não tenho herdeiros por isso não me preocupo em ter bens, já que passei mais da metade da vida sem eles.

Fernando disse que gastei muito no cartão como se as roupas de cama e de banho além das outras coisas que comprei para usarmos aqui visto que nada trouxemos de Brasília, fossem utilizadas somente por mim, mas com a razão de estarmos aqui sou eu... .

Não precisaríamos estar comprando água se ele tivesse providenciado um filtro, também poderíamos ter gasto menos com celular se ele tivesse ido atrás do fone fixo, conforme lhe falei. O que estamos gastando com carro e motorista é um absurdo, mas isso para ele é imprescindível.

Disse que não gosta daqui, eu gostaria de saber qual o atrativo tem Brasília.

Se de fato desejasse o meu bem, apenas o fato de eu sentir melhor, respirando bem e ter uma sobrevida mais tranquila já era motivo mais que suficiente para ele ficar feliz, mas para ele isso é forçá-lo a morar onde não quer. Como pode alguém dizer que considera a outra pessoa agindo assim?

Acho que a tal sociedade casamenteira só vinga enquanto o problema de um não afeta a vontade e os caprichos do outro, de repente é mais fácil prosperar uma sociedade comercial, entre esses tipos de sócios e amigos comerciais as relações de amizade e afeto quando leais são isentas de egoísmo e de caprichos, posse etc..

Já cansei de chorar, de conjecturar pensando em tudo isso. Sei apenas que a dor que a gente sente é só da gente, ninguém sofre por ninguém, todos nascemos e morreremos sós. Ás vezes penso muito no dilema de Hamlet “Ser ou não ser”, enquanto o meu, atualmente, é: o que é melhor em certos momentos? – Viver ou morrer?

Amanhã ligarei para o Agenor não vir nos buscar para o chá-bar da Luzia e do Bil no dia três. Perdi a vontade de ir, destoaria completamente do clima de festa e de esperança que estará reinando lá.

Comprarei o presente da Luzia e entregarei em outra ocasião. Sei que minha ausência não será sentida, afinal já estão habituados a ela. Fernando foi para a sala desde a hora que tentei falar da arrumação do apartamento. Está vendo TV. Estou com sono, vou tomar os meus remédios e dormir. Veremos o que nos reservará o amanhã.

Ana

Praia Grande, 01 de setembro de 2009.

Segunda-feira eu e Fernando saímos para ver os móveis para o apartamento. Na loja CEM encontramos tudo que precisamos, assim, acertamos de voltarmos amanhã para comprarmos os dois guarda-roupas que escolhemos dois criados, uma penteadeira com cinco gavetas, um jogo de sofá e uma máquina de lavar roupas. Gostaria de comprar uma estante para a sala, pois o rack que existe lá é muito pequeno e também as mesinhas de centro e de canto, mas infelizmente não deu, preciso comprar outras coisas para a cozinha. Acertei com o Edson para pintar a parede rosa choque que não combina em nada com a sala e com os móveis. Com muita dificuldade vou conseguindo, aos poucos, as coisas, menos convencer Fernando que aqui é o lugar ideal para morarmos, deixa sempre muito claro a sua contrariedade e na maioria das vezes não compreende os meus problemas. Hora me agride e depois assopra, hora magoa e depois se comporta como se nada fizera. Insiste em fingir não saber que minha doença é degenerativa, sem cura, se irritou quando lhe disse que nada planejo em longo prazo, pois minha situação não permite. Resolvi seguir a vida como acho que devo e preciso, sem me deixar afetar com agressões que só fazem prejudicar o meu bem estar.

O sol brilha como fonte de energia fornecida por Deus. Dele consigo absorver força, fé e esperança para enfrentar a mais árdua fase de minha vida. Através dele consigo reconhecer em mais alto aprendizado como o homem era, ainda é, e será por muito tempo tão pequeno diante do Maior. Vejo-o não só como luz que ilumina o dia, mas também, como luz de clarear o interno. Cada vez que o sinto n”alma recebo a complacência do ser Maior e compreendo a minha inferioridade”. Tantos atrativos Deus nos proporciona pela natureza! Se os homens compreendessem! O Pai sábio e justo nos concede o livre arbítrio para encontrarmos meios sábios, justos e caridosos de nos ajudarmos e de nos entendermos e não de nos destruirmos.

Faço todas as noites as preces do coração. Alivio-me com elas, coloco-me em contato com os Anjos maiores para que as aflições do momento sejam superadas. Faço isso por meio de uma das dádivas de Deus, olhando compenetradamente a lua. Ah! Lua bela, doce e majestosa. Companheira dos solitários e desesperados. Esse corpo celeste se faz brilhar lindamente aqui.

Parece estar mais perto da terra, ilumina todo o chão como a dizer-nos o caminho a seguir como fez um certo homem barbudo e cabeludo há dois mil anos atrás. O pastor das ovelhas, o orador do céu, a paz, a verdade e a salvação.

Meus conhecimentos sobre religião só me mostram o percurso do amor ao próximo, da construção de um mundo melhor.

Devo morrer? Ter a morte consciente por um suicídio premeditado? – Deveria deixar a doença me dilacerar sem lutar por um pouco mais de vida? – Será lícito o suicídio consciente?

O Pai nos criou é justo aniquilarmo-nos? – Assim estou seguindo a minha marcha. A marcha do infortúnio.

O mar que antes me propiciava alegrias, nesse momento se mostra consolador, nele consigo enxergar o Criador e ver mais longe.

Meu corpo às vezes se apresenta pesado, meu espírito contrariado, parece dizer-me que esse não é o sentido certo, entretanto existe uma força maior, uma luz sublime me condicionando o coração a fé em Deus. Somente por ela caminho. Somente pôr ela caminharia novamente. Somente através dela encontrei o fruto abençoado do meu destino. Novamente sinto o cansaço fortíssimo me abater antes de dormir. Fiz minha prece noturna aquela que aprendi lendo um livro e que pede a proteção do Pai Eterno.

Sinto que devo transcrevê-la aqui, apesar de todo cansaço.

“Pai nosso, concede-me a graça do sono reconfortante, dê-me a força para um despertar esperançoso”. Oferte-me o remédio para meu corpo e minha mente.

Pai querido olhe por vossa filha que tanto o ama, mas olhe também, por todos que tive que deixar, por todos que quero e que me querem bem, por todos meus inimigos visíveis e invisíveis, por todos aqueles que não tiveram e não têm a graça de conhecê-Lo e por isso tanto sofreram e sofrem.

Pai de sempre, concede a todos os que aqui e no mundo, brigam pela terra e pelo pão, matam-se pelo poder e em nome da paz. “Indique-lhes Pai, o caminho que seu filho ensinou e abra-lhes os olhos na trilha do Amor, amém.”

Agora farei uma prece para o meu querido e saudoso maninho que partiu para o mundo espiritual de forma bem trágica em 28 de julho de 1984, portanto há vinte e cinco anos.

Amanhã, 02 de setembro completaria se aqui estivesse quarenta e sete anos. Eu adorava esse meu irmão Aroldo, quando ele nasceu eu contava com dez anos, abandonei minhas bonecas para pajeá-lo, era o meu boneco lindo de carne e osso, ensinei-lhe com muito carinho e ternura pronunciar as primeiras palavras, dar os primeiros passinhos, fazer o “nome do padre”, e rezar para a “mãezinha do céu”, antes de dormir. Ajudei-o a aprender o bê-á-bá, contei-lhe várias histórias para que dormisse e, também o embalava com as cantigas que sabia. Ria muito quando ele, tão pequenino, com um, dois, três anos de idade questionava-me sobre as histórias e cantigas. Um dia quis saber quem era a cuca que vinha lhe pegar se não adormecesse. Uma outra ocasião disse-me que se o lobo mau quisesse me pegar quando fossemos levar algum quitute que minha mãe mandava para D. Melódia, uma parteira sua amiga e que residia próximo a sede da fazenda, ele não deixaria de jeito nenhum que me comesse. Perguntei-lhe: - vai me defender? “Ele com seus belos olhos negros arregalados respondeu prontamente: - “vou correndo chamar o Tarso” (um peão da fazenda que, portava sempre um revolver na cintura),” o Tarso dá um tiro bem no meio da cabeça do lobo e assim ele não comerá a minha madrinha “(era assim que me chamava). Ri muito e disse-lhe: - como é valente o meu maninho e ele respondeu: “eu tenho que lhe proteger sempre, você me dá banho, me carrega, não deixa ninguém judiar de mim, você é a pessoa que mais gosto, a mais bonita, a mais inteligente também.” Não resisti, abracei-lhe e cobri-lhe de beijos. Crescemos unidos e amigos confidentes. Fico imaginando onde estará agora o meu amado mano Aroldo. Às vezes sinto-o tão próximo de mim e em outras, como agora, tão distante! Talvez seja essa saudade imensa e sem fim. Acho, não, tenho certeza, se estivesse aqui seria meu companheiro, amigo amoroso nessa luta que venho travando. Talvez lá “do andar de cima” esteja ajudando-me, torcendo e orando por mim. Talvez será ele que me conduzirá para lá quando chegar a hora. Lembrei-me agora que quando ele tinha quinze anos e Raul meu outro mano que na época bebia muito tinha dezenove, ele acordou meio sonolento na hora que eu chegava de um passeio e perguntou-me: “madrinha o Raul já chegou”?” – Disse-lhe: - sim e ele: “está mais para lá do que prá cá”? (o que significava: está bêbado?) Respondi-lhe: - não sei, está dormindo no sofá da sala de roupas e sapatos e ele mais uma vez: “ainda bem, deixa do jeito que está que será melhor”. (receava que se Raul acordasse voltaria para o bar ou daria início a mais uma gritaria que acordava e irritava a família toda). Poderia ficar aqui a noite toda relembrando os fatos, a deliciosa convivência que tive com esse mano querido. Agora, porém, o sono fala mais alto e não tem mesmo jeito, cairei imediatamente nos braços de Morfeu. Beijos mil Aroldo. Que Deus e os Anjos nos protejam a todos, encarnados e desencarnados.

Ana

Praia Grande, 02 de setembro de 2009.

Como previsto fomos hoje cedo á loja CEM comprarmos os móveis. Acabei trocando o jogo de sofá que havia escolhido por outro de melhor qualidade e que combina com o piso e a parede rosa-choque. Sexta-feira deveremos dar plantão no apartamento para receber os móveis. Ainda não sabemos quando irão montá-los, mas nos informaram que na segunda ou terça-feira. Compramos um aparelho de jantar de seis peças e um faqueiro com setenta e duas peças. Comprei também, baldes, lixeiras, bacias, porta-sabão para a pia, umas toalhinhas de rosto que estavam faltando, peneiras, fruteira galheteiro, ralo, porta-talhares, uma bandeja de café. Presiso comprar, ainda, muitas outras coisas para a cozinha, açucareiro, porta azeite, cesta para pães, porta-guardanapos, toalhas para as mesas, forros para os armários, batedor e tábua de carne, abridores de latas e garrafas, colheres de pau, travessas de mesa, prato para bolo, porta-frios, garrafas para água, filtro e outras coisas que Fernando não quer comprar: um armário para a área de serviço, mesinhas de centro e de cantos para a sala e, também um Buffet. Fazer compras com ele está sendo um suplício, pois tudo desde o tempo e a escolha é motivo de discussão. Descobrimos que a voltagem do apartamento é de duzentos e vinte volts, assim, tivemos que pedir para a loja CEM trocar a maquina de lavar para essa voltagem. Vou fazer a lista de coisas para Fernando trazer de Brasília, mas pelo visto ele não deseja, acha que temos muito tempo para arrumar tudo, mas na verdade só temo vinte e sete dias. Pedi para o Ivan conversar com a proprietária do apartamento para trocar o armarinho de espelho da pia do banheiro e colocar um gabinete na mesma, descontaríamos do aluguel. Preciso comprar um espelho grande para colocar nos guarda-roupas dos quartos, é horrível não poder se ver depois de vestida. Desejo comprar alguns enfeites para a sala, mas isso será outra luta, Fernando nuca comprou um adorno para casa, sempre acha bobagem, mas depois que compro bem que gosta de exibir para as pessoas. Hoje pela primeira vez desde que cheguei aqui senti a triste canseira, pois ontem estava tomando banho quente e o chuveiro pegou fogo, o banheiro ficou cheio de fumaça e tive que terminar o banho na água fria, isso mais o nervoso que sinto toda hora, tem me deixado num mal estar danado, sinto dores nas costas, no peito e estou começando a perder o sono de novo.

Enquanto não conseguir me instalar no meu apartamento e deixá-lo habitável com um bom astral, não ficarei bem. Tudo por que Fernando dificulta o mais que pode, não sente vontade de morar aqui, como sempre repete e por isso não fica animado com nada. Sinto que faz tudo contra a vontade. Sempre me responde grosseiramente qualquer pergunta e nem se importa se está na frente de pessoas estranhas. Disse para a Dalva ontem que sempre que foi pela minha cabeça se deu mal, acho que sofre de amnésia, pois a vida dele só melhorou depois que passou a viver do meu lado e é o contrário, todas as vezes que não me ouviu se deu mal. Por isso hoje nas lojas deixei que ele escolhesse o que quisesse e fiquei quieta olhando outras coisas que iremos precisar, pois se for conversar com ele dentro da loja sobre comprar ou não algo é bem capaz de gritar comigo como já fez outras vezes. Estava tão alegre quando cheguei aqui, mas se continuar ficando nervosa e aborrecida todos os dias tenho certeza que não ficarei bem, o médico disse-me que o nervoso me faz tanto ou mais mal que o esforço físico. Há três dias não caminho na praia, mas farei isso logo cedo amanhã. Sinto às vezes impotente, sem forças de fazer valer os meus desejos, a minha vontade, o que me segura é a fé em Deus, nos Anjos, não gosto de mencionar sobre o que será em um breve futuro. Quero dormir, estou cansada, mas não estou conseguindo. Sinto falta dos meus amigos leais para conversar, é tão bom quando minhas irmãs estão aqui, posso desabafar um pouco, orientam-me quando fico nervosa, pedem que pense em meu bem estar e que me acostume sem me entristecer com a má vontade de Fernando, mas para mim tem sido doído, sofrido demais conviver assim. Queria dormir pelo menos três dias sem acordar para ter um descanso mental, corporal e espiritual, mas meus fracos e deficientes pulmões não permitiriam que ficasse deitada por muito tempo, sua capacidade diminuiria ainda mais, morreria de dores nas costas e no peito. Quero que passem logo esses dias, arrume meu apartamento e crie a minha rotina de um modo mais aprazível, mesmo sabendo-me só.

Vou me deitar ainda preciso fazer minhas orações. Quem sabe o tempo melhore, pois à tarde o sol sumiu e ficou nublado e frio. Não fui à casa da Aiche como havia combinado, conversei com Fernando estava muito cansada e com frio para piorar a garganta doendo. Ligamos para ela e dissemos que iremos tomar seu chá amanhã.

Ana

Praia Grande, 04 de setembro de 2009.

Estou exausta. Hoje ficamos de plantão a metade do dia no apartamento aguardando a entrega dos móveis que só chegaram às treze horas e trinta minutos. Enquanto aguardava fui desembalando a louça e os outros objetos que havia comprado e mesmo sem lavar fui colocando nos lugares, assim, ficará mais fácil quando a Jussara for fazer a faxina. Montaram o sofá, a máquina de lavar e os criados mudos, ficaram faltando montar a penteadeira e os guarda-roupas. Pedi aos rapazes que fizeram a entrega e eles colocaram o sofá-cama vermelho no quarto de visitas, descobrimos que os braços do mesmo são dois grandes baús. Arrumei a posição dos móveis da sala, despois de limpa e decorada ficará bonita e aconchegante, mas fica tudo muito difícil com o Fernando, não se motiva e nem se alegra com coisa alguma, protela as coisas propositalmente só para contrariar. Se já tivesse comprado a TV já estaríamos com fone fixo, NET/VIRTUA. Disse que trará um aparelho de Brasília para mandar instalar a NET e o fone fixo, não quer comprar um aparelho aqui. Agora à noite entreguei-lhe a lista do que falta para comprar ele leu e a deixou sobre o sofá sem nenhum comentário. Descobrimos que no andar que iremos morar existem dois apartamentos para alugar um de dois e o outro de um quarto, pertencem a dois irmãos que residem em Santos, eles alugam direto, o de um quarto seiscentos e cinquenta reais com o condomínio e o de dois quartos setecentos e cinquenta reais também com o condomínio. Falei com ambos os proprietários Renato e Denise, eles disseram que podem mandar pintar e dar uma arrumadinha nos banheiros. Liguei para a Nieta e pedi que ela desse o recado pata Maria e Ivone me ligarem, mas elas não ligaram. Seria bom morarmos todas no mesmo andar, pois uma ajudaria a outra já que estamos envelhecendo e com problemas de saúde. Ficamos conhecendo o Síndico do prédio, Sr. Walter, uma pessoa muito simpática. Perto do apartamento, logo na esquina tem um restaurante self-servisse comida caseira e barata. Tem salão de beleza, pizzaria, lanchonete e todo o comércio, mercados, farmácias lojas, bancos etc.. Fomos a pé ao Ponto Frio, loja CEM e casas Bahia e voltamos também a pé sem nenhum problema. Além de tudo perto é tudo plano, da esquina da Rua Amazonas onde fica o prédio de nosso apartamento avistamos o mar e a praia, são apenas duas quadras. Andando pelas redondezas adorei ainda mais o lugar. Estou triste com as meninas por não terem me ligado até agora. Ontem à noitinha fomos tomar chá com Aiche e Sr. José. Domingo à noite eles virão tomar um chá com a gente, foram os primeiros amigos que fiz aqui e quero manter a amizade, contei-lhes que iremos morar no Boqueirão e o Sr. José trará amanhã uma moça para trabalhar para mim como mensalista, disse que é de confiança e sabe fazer tudo. Se for boa como a Jussara faxineira que me arranjou estarei bem. O Fernando continua o mesmo, hora me agredindo por nada e hora me agradando. Semana que vem vai à Brasília, está irritado ou ansioso, não sei, disse que ficará dez dias não sei fazendo o que, pois depositou o dinheiro para a Rosa pagar as contas. Graças a Deus a Maria virá ficar comigo, assim, voltarei a caminhar na praia, desde que a Ivone foi embora não caminhamos mais, Fernando não acorda cedo e não quer que eu vá só. Hoje em razão da poeira lá no apartamento do Boqueirão e também daqui visto que a Dalva foi embora, não me senti bem, cansaço, tosse, dores e o nervoso face às atitudes intempestivas e insensatas de Fernando fiquei mal. Acordei às sete horas não parei um só minuto e agora são quase duas horas da manhã e estou sem sono nenhum. Ansiosa para terminar de arrumar o apartamento e sair daqui onde sinto-me um pássaro fora do ninho. Sempre quis morar aqui no litoral e agora que isso está acontecendo está difícil ser feliz, a convivência com Fernando está complicada. Disse que se as manas vierem morar no nosso prédio ele poderá ficar em Brasília, então eu disse ao Sr. Daniel o porteiro a quem ele havia dito isso, que ele quer me deixar por eu ter ficado doente, ele riu meio sem graça. Na verdade ele não encontrou defeitos no apartamento, no prédio ou no bairro, mas não admite, fica perguntando a todo mundo se tem ladrão, se tem violência, mesmo as pessoas afirmando que não, apenas precisa tomar cuidado ao andar com objetos de valor tais como, celular, câmeras, joias etc. em determinados lugares, principalmente nos finais de semana na praia. Pedi tanto a Deus para que eu continue bem e dê tudo certo, embora triste estou confiante, penso às vezes que realmente estou muito só. Amanhã toda a família com exceção de José Carlos estará reunida em Mogi Mirim para o Chá-bar de Luzia e Bil, mesmo estando perto ficarei ausente, a Dinha não me mandou o convite e desde que cheguei aqui não fizeram questão de me visitar. Raul até hoje não apareceu e nem ligou. Se quero ter noticias sou eu é que tenho de ligar. Dificilmente ligam para mim mesmo eu tendo trocado o chip do meu celular pré-pago para o DDD 11. Já são três horas da manhã e a Jussara virá à s nove horas para limpar o apartamento. Irei pela manhã fazer as unhas, Fernando disse que irá comigo para fazer o seu jogo e comprar o jornal. Devo almoçar na rua. À tarde se o tempo estiver bom e eu estiver melhor ligarei para a Vera Bittar, caso contrário ligarei a semana que vem. Mesmo não desejando vou tomar um pexotam para ver se durmo algumas horas. Peço a Deus que as manas façam boa viagem e que a festa da Luzia e do Bil de despedida de solteiros seja alegre e muito feliz. Que os Anjos iluminem os corações de todos, gentis ou não, carinhosos ou não amigos ou não. Eu apesar de todos os pesares continuo gostando de gente de toda a gente e amando a natureza e meus anjos.

Ana

Continua na próxima postagem.

Ana Aparecida Ottoni
Enviado por Ana Aparecida Ottoni em 21/12/2009
Reeditado em 23/12/2009
Código do texto: T1989348
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