Um circo instala-se no céu

Já se fazem alguns meses que o grande palhaço Carequinha se foi.

Carequinha foi de grande importância não só para mim, mas para todos da minha geração.

Lembro-me que era pequeno, morava no Rio de Janeiro, e quase todos os sábados ia pegava com meu pai um ônibus de Copacabana para a Urca onde ia assistir, no antigo estúdio da Tv Tupi, e me alegrar com as estripulias de quatro pessoas muito queridas: Zumbi, Meio Quilo, um mestre de cerimônias que esqueci o nome e o palhaço Carequinha.

Como era boa aquela época!

Qual criança daquela época não ouviu a música: “O bom menino, não faz pipi na cama. O bom menino, não faz mal criação. O bom menino faz sempre a escola e na escola aprende sempre a lição”. Quem?

Lembro-me também que, anos mais tarde, depois de mudamos para Volta Redonda, isso lá pelos anos de 1966, 1967 no máximo 1968, Carequinha veio a cidade, no Cine Nove de Abril e me chamou para ir ao palco.

Eu que já havia espalhado para todos os colegas do Macedo Soares que conhecia o astro ao subir no palco não resisti e lhe falei no ouvido:

- Eu já fui no seu circo no Rio!

Se não foi bem isso foi coisa parecida.

Para minha alegria o querido palhaço me fez participar de um número de mágica em que tinha de rasgar um jornal, queimá-lo e depois mostrá-lo inteiro ao público. Lógico que não deu certo, mas até hoje, passado quase 40 anos, tenho isso na minha memória e lembro do beijo que ele me deu. E de um detalhe: eu fui o único da minha turma que conseguiu ir ao palco. E o Cícero Jose de Souza, grande veterinário, está ai para comprovar.

Passam-se os anos e reencontro, já adulto, o querido Carequinha. Ele não era mais o mesmo, mas mesmo assim fez a alegria de dezenas de crianças, como fazia na minha infância. Era um palhaço na essência da palavra.

Não mais existia Meio-Quilo (um anão feio, mas que encantava as crianças), Fred (com seus cabelos brancos, seus sapatos de ponta para cima e que está na foto com o Carequinha) e o mestre de cerimônias que continuo sem lembrar do nome, mas que me lembro que entrava em cena com uma cartola, uma casaca e, as vezes, um chicote. Para que o chicote nunca entendi, mas que ele entrava e era engraçado, isso era.

Carequinha vai ficar para sempre marcado na minha memória, e espero que na memória das minhas filhas. Para minha neta não deu, mas para as filhas sim.

Eu tive a sorte de ter dado estes sorrisos graças a Carequinha. Mas, muitos outros estão por aí. Ele já deve estar fazendo a alegria daqueles que já estão no céu, ao lado de sua trupe.

Fernando de Barros
Enviado por Fernando de Barros em 09/09/2006
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