UMA HISTORIA DE VIDA

UMA HISTÓRIA DE VIDA

( A meu filho Marcéllo, onde estiver...)

Ao completar meus dezenove anos, encontrava-me residindo na cidade de São José dos Campos, cidade onde passei meus primeiros anos de infância, quando minha mãezinha nos trouxe, eu e mais os irmãos dependentes, tinha então meus dois anos de idade...Viera minha mãe, acompanhar o tratamento de seu irmão Georges ,aqui internado em tratamento a uma tuberculose adquirida e mal tratada...A de se dizer, naquela época, isto por volta de 1.944 já era a cidade tida como estância climática, e apropriada para a cura deste tipo de doença pulmonar. Existia aqui o hoje extinto Sanatório Vicentina Aranha, muito conhecido e que abrigava muitos pacientes, e administrado pelas irmãzinhas de caridade. Foi neste clima de cidade, que passei os primeiros anos de minha infância...Logo após, mudávamos para São Paulo, onde minha mãezinha arrumara para trabalhar em empresa de renome, a União Cultural Brasil Estados Unidos, mais conhecida como U.C.B.E.U. onde longos anos trabalhou...bem, retornado à trajetória do narrador, viera para São José dos Campos logo após o serviço militar, isto por volta do ano de 1.960, e logo convidado a trabalhar em uma emissora de rádio que estava a se instalar na cidade...Com o evento, inicialmente em experiência de difusão, nós funcionários recebíamos muitos telefonemas, que por obra do destino, foi o meio de conhecer a outra personagem desta. Tratava-se da pessoa que viria a se casar com este narrador, depois de oito longos anos de namoro. Casamento meio conturbado, pois encontrava oposição por parte da mãe da noiva, mas, enfim...quando um não quer, não há briga. Começa então a verdadeira história de vida, pois que com o casamento, apesar de estar o casal enfrentando dificuldades, tanto financeiras como familiares, começávamos a construir nossas vidas em plena felicidade do casal, e logo no ano seguinte, nascia nossa primeira filha, que na Pia Batismal receberia o nome de Patricia. Em se passando os anos, tíveramos mais três filhos, uma menina e dois meninos...Sendo que éramos seis...Eu, Eunice, Patrícia, Cristhiane, Marcéllo, e o caçula Júnior, a quem chamávamos por Juninho...Anos se passam, as fazes da nossa vida alternava-se entre picos de boas e más marés, onde eu tinha bons empregos mas não os segurava como necessários...a vida, posteriormente ensinara-me que um bom emprego, estável , era tudo o que se deveria ter. Mas , quando meu filho Marcéllo, atingira a idade de quatorze anos, percebia-se que idade justificável para iniciar-se em um trabalho qualquer e honesto, foi o mesmo trabalhar em uma instituição militar de renome, onde na Prefeitura local, havia um grupo de crianças em aprendizado, o que significava uma porta aberta, um futuro mais que promissor, pois poderia daí seguir carreira em seu local de trabalho...Foi então que tudo começou...O trabalho, as companhias, o primeiro vício, (escondido dos pais) enfim...dava o jovem Marcéllo na época com apenas quatorze anos de idade, seus primeiros passos na senda errada da vida...o tempo, dirá a verdade, só o tempo poderá ser o Promotor de Acusação, a própria defesa de quem acusado, de negligência, de erro na maneira de educar, na formação do caráter do jovem Marcéllo...então com seus quatorze anos...Foi , para seus pais, choque tão grande, que verdadeiramente abalara os alicerces de uma vida a dois, a vida de um casal que nem imaginara poder um filho seu, enveredar por um caminho errado, passando de um casal estabilizado emocionalmente, a duas pessoas que alternavam-se em discussões frívolas e desnecessárias...mais alguns anos, os alicerces da vida a dois abalara-se mais uma vez, com acusações desta feita, de infidelidade, o que veio a causar em definitivo a separação do casal...Marcéllo, então contava com dezesseis a dezessete anos, e avançava a passos largos na senda do crime, mesmo antes da separação do casal, como este narrador trabalhava fora, o destino agira em favor de Marcéllo, que por diversas vezes fora detido pela policia civil, dada a sua menoridade, acabava permanecendo nas ruas e embaraçando-se mais e mais com as drogas, desta feita, com a cocaína, fumando-a e injetando-se. Os outros filhos, nenhuma seguira-lhe os passos, as duas moças, honestas, trabalhadoras, cada uma seguiu o destino já traçado, o filho caçula, desde sua infância, fora criado com muito amor, pelos pais, até a culminância da separação do casal, quando o mesmo teria então seus quatorze anos, encontrava-se trabalhando como entregador em uma floricultura de renome na cidade. Da época em que separe-me, isto por volta dos anos noventa e havendo deixado para tráz uma vida, tinha então meus quarenta e oito anos, estivera casado desde o ano de 1.968,portanto durante vinte e oito anos...Ao longo deste tempo, durante estes anos todos, tivera um casamento consolidado aos poucos, transpondo barreiras naturais, com seus altos e baixos, mas chegaramos ao limite da compreensão, onde “ o casamento é eterno enquanto dure”, e independente dos motivos, a insustentável situação nos levara a termo de não mais haver retorno na vida conjugal...E ainda haviam nossos filhos, o que se fora construído ao longo do casamento, dos bens criados, das famílias que ficaram, das dores de cabeça que iniciaram-se pelo afastamento da família...Tal a situação criada, mas a vida continuava a criar suas mazelas...o filho Marcéllo crescera, tornara-se maior de idade, foi preso, condenado e julgado pelas Leis dos homens, veio a evadir-se por muitas vezes de diversos presídios por onde andara, vez ou outra, encontrava-mos-nos casualmente, o que me fazia adoentar-me, quando sabia de suas fugas, e pelos perigos que corria, se o prendessem novamente, o que geralmente ocorria...nóvas fugas, novas peripécias, novas condenações...e mais e mais tempo de condenação...perdí a vida de meu filho ás condenações da justiça...Perdí minha vida na preocupação da procura do perdão dos filhos...Na ameaça de morte, vinda do caçula, por ocasião de uma fuga do irmão de uma penitenciária da vida,...Agóra, résta-me a aposentadoria de meu trabalho, em manter-me e à minha mente ocupada, em reaprender a viver, em reaprender a ser humano novamente, com meus defeitos, minhas virtudes, meus acertos...Hoje, amarguro a esperança de uma nova vida, a idade física aos 68 anos, mas com o espírito de um jovem...de cincoenta, que procura na poesia, nos pensamentos , nos ensaios que escreve, uma nova esperança, uma nova vida cheia de bons momentos cheios de esperança em um mundo mais humano, mais cheio de confiança, mais cheio de poesias soltas no ar...Tenho de mim adiante, um longo caminho a percorrer...tenho de escrever Uma história de vida.

Julio Piovesan

Hoje, por informações obtidas, meu filho Marcéllo encontra-se com o vírus HIV, tomando medicamentos que o ajudam a manter-se vivo, em algum Hospital-Presidio neste Estado.