Alphonsus de Guimaraens, um poeta brasileiro...

“Tem cheiro a luz, a manhã nasce…

Oh sonora audição colorida do aroma!”

Um simbolista que passeava pela escola romântica exercicia um fascínio pelo tema sobre a morte da mulher amada. Tinha predileção para escrever sobre à figura feminina tematizando-a como Anjo! "O Solitário de Mariana", apesar de ter vivido lá com a mulher e com seus 15 filhos vivia num isolamento, afim de elaborar sua obra poética, antes do seu fim!

Alphonsus de Guimaraens, pseudônimo de Afonso Henrique da Costa Guimarães (24 de julho de 1870, em Ouro Preto, Minas Gerais, e faleceu em 15 de julho de 1921, em Mariana, Minas Gerais.

Considerado um dos grandes nomes do Simbolismo, e por vezes o mais místico dos poetas brasileiros, sua obra foi marcada pela presença da lembrança da noiva Constança, que morreu às vésperas do casamento.

Filho de Bernardo de Guimarães, iniciou-se no curso de Engenharia de sua cidade, mas não o concluiu, por levar vida boêmia e um tanto devassa. Conseguiu terminar um curso de ciências jurídicas e transferiu-se para São Paulo, onde cursou a Faculdade de Direito e se dedicou ao jornalismo. Foi nomeado promotor de Conceição de Serro e, mais tarde, juiz da cidade de Mariana, onde casou-se e permaneceu até a morte, tendo deixado 15 filhos.

Ossa Mea_ Alphonsus de Guimaraens

Mãos de finada, aquelas mãos de neve,

De tons marfíneos, de ossatura rica,

Pairando no ar, num gesto brando e leve,

Que parece ordenar mas que suplica.

Erguem-se ao longe como se as eleve

Alguém que ante os altares sacrifica:

Mãos que consagram, mãos que partem breve,

Mas cuja sombra nos meus olhos fica...

Mãos de esperança para as almas loucas,

Brumosas mãos que vêm brancas, distantes,

Fechar ao mesmo tempo tantas bocas...

Sinto-as agora, ao luar, descendo juntas,

Grandes, magoadas, pálidas, tateantes,

Cerrando os olhos das visões defuntas...

Pulchra Ut Luna_ Alphonsus de Guimaraens

II

Celeste... É assim, divina, que te chamas.

Belo nome tu tens, Dona Celeste...

Que outro terias entre humanas damas,

Tu que embora na terra do céu vieste?

Celeste... E como tu és do céu não amas:

Forma imortal que o espírito reveste

De luz, não temes sol, não temes chamas,

Porque és sol, porque és luar, sendo celeste.

Incoercível como a melancolia,

Andas em tudo: o sol no poente vasto

Pede-te a mágoa do findar do dia.

E a lua, em meio à noite constelada,

Pede-te o luar indefinido e casto

Da tua palidez de hóstia sagrada.

Árias e Canções_ Alphonsus de Guimaraens

II

A suave castelã das horas mortas

Assoma à torre do castelo. As portas,

Que o rubro ocaso em onda ensangüentara,

Brilham do luar à luz celeste e clara.

Como em órbitas de fatias caveiras

Olhos que fossem de defuntas freiras,

Os astros morrem pelo céu pressago...

São como círios a tombar num lago.

E o céu, diante de mim, todo escurece...

E eu que nem sei de cor uma só prece!

Pobre alma, que me queres, que me queres?

São assim todas, todas as mulheres.

COUTINHO, Afrânio; SOUSA, J. Galante de. Enciclopédia de literatura brasileira. São Paulo: Global.