A vida? Continua... de retalhos em retalhos se transformando...

Continuo entendendo o homem como um ser incompleto, que está constantemente em busca de coisas que o complete e que o permita compreender os porquês da vida. É nesse sentido que venho caminhando...

È nesse sentido que junto os retalhos do que já passou há tempos e que ainda está bem vivo em memória, com o que o que vivi recentemente e a partir daí construo uma história de vida cheia de episódios marcantes, de experiências incomuns, compartilhada com pessoas de diversos estados do Brasil, que constituíram parte do que sou.

Junto os retalhos primordiais...

Dois pernambucanos, com histórias de luta, encararam o desafio de construir uma família, superando-se dia a dia e deixando suas marcas em alguns lugares por onde passaram e em cada uma das três filhas que geraram. E me vejo, aos dias 29 de março de 1983, nascendo na cidade que mais tarde me ofereceria experiências transformadoras.

Junto os retalhos da opressão / exploração...

Meu pai, um homem da terra, dedicando-se ao sustento e crescimento da família, mas tendo que se submeter à exploração dos latifundiários e resistindo, a cada nova passagem por Usinas de cana- de- açúcar. Consciente da situação de explorado, mas sem se permitir a uma nova opção... Por quê??

Junto os retalhos das conquistas...

A resistência, a dedicação e uma boa educação possibilitaram a entrada das três filhas na universidade. Sonho de família, que investiu toda a vida em educação, e reconhecimento do esforço.

A universidade, espaço a ser conquistado. Um universo de oportunidades distorcidas e direcionadas para a manutenção de um sistema desumano, de exploração. Um sistema em que a liberdade não existe nem mesmo para os seus mantenedores. Que não serve ao mundo!

Junto os retalhos do desvendamento...

As vendas caem. Não se sustentam mais... Minhas vivências pessoais em ambientes que evidenciaram disparidades sociais, exploração e lutas por sobrevivência foram abrindo meus olhos, expandindo minha consciência...

A essas vivências outras se juntaram. A universidade passa a ser mais do que aulas medíocres, baseadas na necessidade de colocar alguém em patamar superior, seja por quem transmite os conteúdos e por quem os recebe, sejam por quais conteúdos são transmitidos.

Para quem serve esta universidade? Começo a perceber possibilidades maiores, e identifico pessoas que pensam diferente da maioria. Pessoas que constroem instrumentos de resistência e de embate com o que está posto. Insiro-me no movimento estudantil e descubro novas possibilidades, novas pessoas dispostas a se doarem um pouco pela defesa de seus ideais. Pela defesa de uma universidade que sirva à sociedade, tentando desfazer erros históricos, construindo e não reproduzindo conhecimentos válidos à nossa realidade. Pela defesa de uma sociedade justa e com acesso universal à saúde, à educação crítico-reflexiva, à comida, a terra, à auto - sustentabilidade...

Amplio as possibilidades e começo a participar da tão falada extensão universitária num viés popular...

O discurso passa a ser mais fundamentado e próximo da realidade. Sensibilização, auto - conhecimento, desprendimento e novos olhares...

E o ENEC nisso tudo?

O Estágio Nacional de Extensão em Comunidades (ENEC) apresenta-se pra mim como um instrumento revelador de potencialidades, minhas e das comunidades diversas. Um instrumento integrador da técnica (conhecimento especifico), com o conhecimento de mundo (saber popular), com as vivências e aprendizados no movimento estudantil...

Apresenta-se como Uma possibilidade de estar mais próxima da realidade, sendo mera coadjuvante na organização de comunidades e no processo de empoderamento desta, bem como uma oportunidade de juntar elementos que reorientem a minha formação, elementos que me tornem uma cidadã de verdade, uma profissional de saúde humanizada, consciente de meu papel social.

Algo desafiante... Nos números, nos objetivos, nas heterogeneidades, nos resultados esperados, na paciência histórica, na co-gestão...

E busco mais retalhos para continuar construindo a história de minha vida.

ÂNGELA MARIA PEREIRA

Estudante de Fisioterapia

da Universidade Federal da Paraíba,

extensionista e militante estudantil.

Anja
Enviado por Anja em 14/03/2007
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