Sabarenses ilustres III: O Barão de Sabará

Antonio Lessa Carli foi o sabarense escolhido para a entrevista

sobre o Manoel Antonio Pacheco, Barão de Sabará, por ele ser um dos

seus descendentes. Toninho Lessa, como é mais conhecido, dissertou,

esplendidamente, sobre o assunto, explicando que as informações de

que tem conhecimento, na sua maioria, lhe foram repassadas por um

de seus primos, Roberto B. Pacheco de V. Martins, residente no Rio

de Janeiro, em seu trabalho de pesquisa, com a finalidade de traçar a

árvore genealógica da família do Barão de Sabará.

Seguem alguns trechos da pesquisa de Roberto B. Pacheco de V.

Martins:

" Manoel Antonio Pacheco, Barão de Sabará, nasceu por volta

de 1783, na Ilha Graciosa ( Açores ).. Em 14 de junho de 1800,

embarcou na Nau Rainha de Portugal, sendo soldado da Sétima

Companhia da Primeira Divisão da Brigada Geral da marinha. Serviu

com dedicação e responsabilidade, sendo logo designado

Comandante para servir no cargo de Sargento de Mar e Guerra.

Serviu 9 anos, 8 meses e 8 dias na Brigada e Armada Real da Marinha;

esteve nos portos da Inglaterra, do Rio de Janeiro, da Bahia,

inclusive sofreu naufrágio nas Ilhas de cabo Verde, a bordo da

fragata Ivânia. Foi promovido a Alferes de Infantaria em 09 de agosto

de 1809; a Tenente em 25 de julho de 1820.

" Por volta de 1820 já estava em Sabará, Minas Gerais, sendo

um dos primeiros negociantes da Villa, e servindo cargos de

governança com zelo. Segundo informações transmitidas através das

gerações, teria ele vindo na esquadra de Dom João VI, em 1808,

sendo homem de prestigio da Corte.

Em Sabará praticou o ofício de fundidor de ouro, na Real casa

de Fundição, isto por autorização do Governador e Capitão de Minas

Gerais, Pedro Maria Xavier de Ataíde e Mello. Em 1822, Manoel

Antonio Pacheco encontrava-se no cargo de Juiz almocatel de Sabará,

tendo já servido no de Procurador da Câmara".

Em 1831 hospedou Dom Pedro I em sua residência. Em 1844,

presidente da Irmandade da Misericórdia ( Fundada para cuidar dos

interesses da Santa casa, visto a Ordem terceira do Carmo estar

com responsabilidades e compromissos com a Igreja Nossa Senhora

do Carmo; o Barão de Sabará se dedicou admiravelmente à causa dos

pobres, o que foi comprovado pelas mudanças ocorridas em todos os

setores naquela casa de saúde,pois, quando os recursos econômicos

se escasseavam, as despesas ficavam por conta do presidente.

Em 1848, um enfermeiro comunicou à Administração que as

roupas de cama e várias camas deveriam ser substituídas, ou o

Hospital diminuir o número de atendimentos. O presidente manda

verificar o saldo em caixa e o resultado foi negativo. O Barão de

Sabará promete resolver a questão da melhor maneira possível. Em

pouco tempo, o hospital recebeu toda a roupa necessária e mais uma

dúzia de camas. Ele fez as compras, pagou-as e mandou entregar.

Em 1861, pediu demissão do cargo de Presidente, alegando

problemas de saúde, dos quais ele citou:" Duas quebraduras, surdez

e falta de vista ". Porém, acrescentou que estaria disposto a

continuar prestando auxílio sempre que fosse solicitado. Ocupou o

cargo de Presidente de 1844 a 1861, havendo sido reeleito por

unanimidade em eleições anuais.

Manoel Antonio Pacheco foi homem abastado, possuindo a Mina

de Ouro Santa Rita de Lavras: a fazenda de nome Boa Vista, além

de numerosos escravos e propriedades.

Na revolução liberal de 1842, Manoel Antonio comandou tropas

imperiais e efetivas da Guarda Nacional. Ocupando o Posto de Coronel

Comandante Superior da Guarda nacional, auxiliou eficazmente na luta

contra os rebeldes. Depois que Sabará caiu em mãos dos

revolucionários, o Coronel, comandando sua coluna, estacionou em

Rio das Pedras, onde procurou aumentar suas fileiras. Rio das Pedras

passou a constituir o centro da resistência dos governistas. As

próprias autoridades de Sabará passaram a exercer suas funções no

arraial de Rio das Pedras.

Com elementos da Guarda Nacional e outros, foi o Coronel

Pacheco reforçando sua tropa. Quando se sentiu com forças

bastantes, avançou sobre Sabará, que tomou aos rebeldes. As forças

vencidas retiraram-se para Santa Luzia. Mas o Coronel Pacheco,

perseguiu-as. Estas forças, sob o comando de de Manoel Ferreira,

foram atacadas pelo Coronel Pacheco, além de Santa Luzia. No sítio

do Capão, perto de Lagoa santa, no dia 02 de agosto, deu-se o

encontro dos rebeldes contra as tropas legais do Coronel Pacheco. À

noite, os rebeldes acederam fogueiras, a fim de iludir os legalistas,

como se ali continuassem e retiraram-se para Lagoa Santa e aí,

ficaram aguardando o ataque das tropas legais. Estas não cessaram

de perseguir os rebeldes. Sério encontro deu-se em Lagoa Santa e,

nele, saiu gravemente ferido o Coronel Manoel Antonio Pacheco. Bem

entrincheirados os rebeldes, mulheres, que se portaram com

indescritível entusiasmo, ajudando as tropas rebeldes, ofereceram

séria resistência.

Sua atitude, durante a revolução liberal de 1842, granjeou-lhe o

título de Barão de Sabará, por decreto imperial de 11 de março de

1843, e Barão com as honras de grandeza do Império, por decreto

de 11 de outubro de 1843, sendo também Comendador da Imperial

Ordem do Cruzeiro.

O Barão de Sabará foi importante chefe político, chegando a

Vice-Presidente da Província de Minas Gerais, e assumiu a Presidência

em 29 de novembro de 1849, exercendo a função até março de 1850.

Faleceu em Sabará e foi enterrado na Capela do Hospício, no

dia 20 de janeiro de 1862. A Baronesa Manoela Casemira Rosa de

Viterbo, sua esposa, também foi enterrada na Capela da Terra Santa,

no dia 6 de novembro de 1865."

Em seu testamento, o Barão de Sabará fez várias doações,

demonstrando a sua generosidade e sentimento religioso. Foram as

seguintes:

Quatrocentos mil réis para o Hospital de caridade, em Sabará;

Quatrocentos mil réis para o Hospício de Terra Santa, em Sabará;

Quatrocentos mil réis para a capela dos Terceiros do Carmo, Sabará;

Quatrocentos mil réis para a Capela de São Francisco, em Sabará;

Duzentos mil réis para a Capela de Nossa Senhora das Mercês, em

Sabará;

Duzentos mil réis para a capela de Nossa Senhora do Rosário, de

Sabará;

Duzentos mil réis para a Capela de Santa Rita, da freguesia de Santo

Antonio do Rio Acima;

Duzentos mil réis para a Capela de Santa Rita, em Sabará;

Duzentos mil réis para serem distribuídos entre as pobres famílias

de Sabará, a critério de sua testamenteira, a Baronesa de Sabará.

Observação: Extraído da Revista O Acadêmico, da faculdade de

Sabará, ano 2009.

Autora: Maria de Lourdes Guerra Machado

Professora, escritora, teatróloga, historiadora.

Membro do Instituto Histórico e geográfico do Ciclo do Ouro.

Este texto também se encontra em seu livro: Nas ruas de Sabará

O Barão de Sabará é ascendente da nossa querida

recantista Kathleen Lessa.