os ensinamentos da minha primeira gravidez

Onde eu esta a 18 anos atrás...

Estava aqui trabalhando e pensando, entre um assunto e outro com minhas cliente e amigas, me perguntaram isso. Fiquei pensando. Por que não falo muito da gravidez do meu filho mais velho, só da do meu mais novo. Então muitas lembranças vieram... Não tem um motivo, aquela foi uma época que me ensinou a ser como sou hoje. Me fez ser humilde... Seja como for vou contar...

Eu morava no povoado de Lages do Batata município de Jacobina, mas estudava na cidade no Sertão da Bahia. Tinha quinze anos. Engravidei do meu namorado, com quem estava a cerca de um ano, ele nem sustentava ele mesmo apesar de já ser maior de idade. Eu descobri que estava gravida já estava com cinco meses. Não tinha barriga, não sentia nada. Não engordei. Era como se o bebe se escondesse dentro de mim, não mexia. Acho que meu medo era tanto por desconfiar que tava que ele ficou paralisado.

Então meu quadril começou a aumentar e minha mãe me pressionou, eu falei que achava que sim, mas não sabia. Fiz exame de urina, no posto, uns cinco quando estava com três meses, mas não tinha dado. Ela chorou muito e eu também. Por fim veio a solução pratica. Fazer um aborto. Ela me mandou pra cidade de Morro do chapéu, onde morava até hoje minha tia. Pediu que me levasse num médico lá, na época conhecido por ter uma clínica ade aborto. Eu não queria, mas eu só tinha quinze anos, estava sozinha, o pai do meu filho, nem preciso dizer que dizia que o filho podia não ser dele, mesmo sabendo que era. Fiquei uma semana na casa dessa minha tia e do marido dela. Fomos ao tal médico. Quando chegamos lá ele disse que nunca faria um crime daqueles. Me fez ouvir o coração do bebê, batia tão forte. Eu chorei muito. Pedi pra ele não fazer. Por que eu não queria tirar meu bebê.

O médico conversou com minha tia. Disse que se ela tentasse ia denunciar. O bebê não era mais um feto, mas uma vida. Já estava formado. Mandou ela me levar embora e procurar ele se precisasse, não me lembro o nome dele. Sempre fui péssima com nomes, era um senhor, de cabelo grisalho, olhos escuros, pele morena clara.

Ela me levou pra almoçar numa amiga, nunca esqueci o que essa amiga me disse. Ela disse que tinha feito uso de muito cytotec(remédio usado pra fazer aborto) mas era da vontade de Deus que seu filho nascesse, e toda vez que olhava pra ele, ela agradecia pelo remédio não ter feito efeito. A criança era um lindo menino louro. Quando ela me passou ele, eu o segurei no colo, o meu bebê mexeu pela primeira vez. Levei um susto!

Durante toda a semana minha tia não deu notícias pra minha mãe, não tinha telefones em tudo que é lugar como temos hoje. Celular era só pra empresários ricos! Telefone fixo era o raro. Minha tia e seu marido conversavam comigo, me diziam que de tudo, eu podia ficar com eles. Lembro que foram dias de angustia e alegria misturados. Ele tinha muitos livros. Mandou eu escolher dois. Escolhi o caos nosso de cada, uma crônica sobre o transito carioca em 1980 e alguma coisa, um outro que é uma coletânea de contos variados e um sobre a guerra d----------. Tenho até hoje esses livros com os tantos que sempre compro.

Minha barriga esticou. De um dia pra noite. Tivemos que comprar uma roupa de grávida pra mim, por que meus shorts curtos e apertados não entravam mais. Não sei como explicar. Parecia mágica. Dormi sem barriga e acordei com uma de cinco meses. Essa é a realidade.

O pior era voltar pra casa. Tinha medo que minha mãe me desse alguma coisa pra abortar meu bebe, não sabia o que fazer, mas sabia que podia voltar pra casa da minha tia na fazenda. Assim embarquei num ônibus de volta pra casa. Cheguei em casa menos de duas horas depois. Fui pra casa sozinha. Eu passava na rua e todo mundo olhava espantado pra mim. Eu tinha ficado duas semanas fora, ninguém entendia nem eu. Eu mal olhava pras pessoas. Comecei a sentir vergonha. Eu era festeira, gostava de bagunça, mas era inteligente, adulta. Minhas amigas queriam casar, eu queria estudar. Nunca tive desejo de ser mãe, minha amiga Claudia a três anos atrás quando no vimos me disse: Nunca te imaginei sendo uma boa mãe. Ou casando e sendo fiel a aguem. Na verdade, nunca te imginei com filhos e marido. – Rimos muito disso.

Eu cheguei em casa, todos os vizinho saiam pra me olhar, um circo! Eu a atração! Minha mãe vendo a bagunça saiu. Me olhou e começou a chorar. Choramos abraçadas. Ela tinha se arrependido. Quando viu minha barriga agradeceu a Deus. Eu entendo ela. Ela não queria que eu fosse mãe solteira, sabia como era difícil. Tinha me criado sozinha. Estamos numa situação difícil, meu padrasto com ela tinha vivido até eu completar 13 tinha nos dado tudo. Nunca tinha faltado nada. Tínhamos um vida de luxo pro sertão. Aos 9 ele me deu uma tv de presente, naquela época só rico tinha tv, mas depois que eles separaram, até hoje não temos ideia do motivo, a vida tinha sido de quase necessidade. Eu conhecia já aos 15 o que era ser rica e como era se torna pobre. Esse novo marido da minha mãe vendia carne nas feiras livres. Não tinha muito dinheiro e o que ganhava gastava com meninas na rua. Mesmo assim comida em casa era coisa abundante e do melhor, isso era algo que esse marido dela não deixava faltar, como o meu dinheiro da semana na escola. Era como pra uma pessoa ir fazer faculdade em outra cidade, ere esse meu gasto da semana, estudando numa outra cidade, na casa de amigos.

Na segunda fui á aula, foi um espanto! Todo mundo queria saber onde eu tinha achado aquele barrigão. O bebê que não mexia, agora não parava quieto! Minha camiseta tremia com os chutes e ponta pés, todo mundo queria por a mão. Tive que mudar de casa. Fui morar com minhas amigas, Cláudia, Cida e Vilma, na casa de mãe Celina. Por que minha tia com quem morava, mesmo eu ajudando no aluguel, disse que não podia mais ficar lá, por que se permitisse e suas filhas aparecessem gravidas ela teria que aceitar também. Mas amo mia tia entendo ela. Lembro que ela proibiu minhas primas de andar comigo na época, e minha prima Eli andava do mesmo jeito e apanhava dizendo: apanho com gosto! - Tive que trocar de horário de escola. Por que a noite não ia dar. Eu voltaria pra casa depois do parto, os horários de ônibus eram só durante o dia.

Então, comecei a vender roupas de porta á porta. Saia com uma sacola maior que a barriga e ia. Precisava juntar dinheiro pra comprar o enxoval do bebê. Não quis chá de bebê. Fiz um ultrassom, não deu pra ver o sexo. Já estava com sete meses de gestação. Eu tinha três vestidos que revezavam. Como disse, a vida no sertão não era fácil... Juntamos o dinheiro e fomos na loja de promoção da cidade de Jacobina comprar as coisas do bebê. Compramos dois macacões de lã, um amarelo e um verde, dois casaco de lã, 4 conjuntos de malha (pagão e mijão, acho q era esse o nome) e três camisetas de malha, calça enxuta, 4 pacotes de fraldas, duas luvas de lã, 4 meias 1 toalha de banho daquelas que põe a cabeça do bebê tudo da mesmas cores verde e amarelo e acabou a verba do enxoval.

Tinha em Lages uma vereadora chamada Neta, não tive noticias dela, não sei se ainda está na politica. Era cunhada da nossa saudosa atriz Regina dourado. Essa vereadora tinha um trabalho social, ela doava coisas pro povo. Fui lá com a cara e a coragem pedi. Ganhei dela os queiros, fraldas de pano, toalha de banho, um cobertor que é muito usado na Bahia (feito de um tipo de lã marrom, não lembro o nome que dão a ele) e mais umas roupinhas. Isso era tudo que tínhamos. Compramos chupeta, mamadeira, sabonete óleo e shampoo Johnson.

Entrei no oitavo mês de gravidez. Compramos uma bolsa pro bebê na feira. Nem preciso dizer que a situação dos meus amigos era parecida. Todo mundo duro. Sem trabalho, sustentado pelos pais. O médico me disse que meu filho nasceria na segunda semana de novembro. Eu tinha ficado gravida no dia 31 de janeiro. Por que antes disso só tinha visto o pai dele em dezembro, as vezes ficávamos três meses sem nos ver. Eu tinha terminado com ele aquele dia. Ele me pediu pra ficarmos uma última vez. Essa última vez gerou meu lindo filho. Durante toda a gravidez eu fugia dele. Se ele tivesse numa calçada eu mudava pra outra. Já tinha decidido que o bebê seria só meu.

Começou a semana, avisaram que o estado ia entrar em greve, ficaríamos sem aula por uma semana, isso era comum. Então na quarta eu fiquei em casa. De terça pra quarta passei a noite indo ao banheiro com vontade de fazer xixi, nem tinha ideia que aquilo era trabalho de parto... Minhas amigas solteira muito menos. Claudia e Vilma perguntavam se eu tava sentindo algo. Ela não me deixava lavar um copo pra não fazer esforço desnecessário. Eu tinha brigado com Vilma no começo da gravidez, por que tinha enjoado ela, até a voz dela me irritava, mas depois que descobrimos que era isso nos entendemos. Elas são como irmãs pra mim, mais que isso! Eu respondia que não era nada. Devia ter tomado muita água. Pra minha sorte, mãe Celina foi nos visitar aquele dia, de Jacobina no Batata deve dar uns 30 km. Dai eu indo no banheiro toda hora e ela perguntou quando tinha começado, não lembro qual delas foi, mas alguém falou que tinha ficado a noite assim, então ela me obrigou a ir ao hospital. Almoçamos e fomos, o médico disse que não passava daquele dia. Me mandou ir pra casa e voltar a 18 h. ficamos a tarde toda rindo. Eu comecei a sentir uma leve cólica que vinha e ia rápido. Mas minha cabeça estava a mil. Eu ficava pensando como o bebe ia passar. Não ia caber. E o medo me dominava, eu não falava com vergonha, mas estava apavorada.

Mãe clina foi pro bata pra avisar minha mãe, ela ainda não tinha chego, deu hora e nós fomos a pé, do bairro do líder ao hospital regional, é só subida. A gente ria de tudo eu e Claudia, duas bobas. Quando a dor vinha eu parava, ela passava nós andávamos e riamos das possibilidades do bebê nascer antes de chegar no hospital. Então chegamos, fizemos a ficha. O hospital nessa época era impecável. Digno de comparado aos particulares de cidades grandes, o de Extrema onde moro hoje, ou de Bragança onde frequento não se comparam a ele. Era um modelo de perfeição e atendimento. Tinha uma assistente social que fez minha ficha, chamou a enfermeiro que me acompanhou a um quarto com duas camas, tudo era de uma higiene impecável. Ela me deu uma camisola pra vestir, me mandou tirar toda minha roupa, eu obedecia tudo. Ela era minha conhecida desde criança, tinha me visto crescer. Era de Ourolândia, cidade onde eu tinha morado até os dez anos. Eu continuava com a cólica que vinha e ia. O medico me examinou e depois me deixaram só no quarto, não mais que cinco minutos passava umas das enfermeira pra ver se eu tava bem, mas parecia uma eternidade entre uma visita e outra. Eu tinha medo de ficar só num quarto, ainda mais num hospital. Começava a pensar se tinha morrido alguém naquela cama, levantei e comecei a andar de uma lado para o outro, meia hora depois que cheguei me deram duas injeção, o intervalo entres as dores aumentaram, mas a dor diminuiu. Então colocaram uma outra moça na cama ao lado. Me informaram que minha mãe estava lá fora na recepção, mas não podia entrar, depois ela conseguiu entrar pra me ver com a ajuda da enfermeira e saiu rápido. A moça do meu lado me disse que tinha tido seis filhos, aquele era o sétimo, e ela gritava e gritava, eu tentava acalmar ela pra ela para, por que eu estava com medo, mas ela parava de gritar, respondia minhas perguntas e recomeçava no seu escândalo, ela balançava a cama, segurando na cabeceira, parecia o exorcista. Eu entrei em choque, comecei a gritar e gritar sem parar, na minha cabeça eu me perguntava: se ela que já tinha tido seis filhos ainda gritava de dor, imagina eu que era a primeira vez, ai veio o medo da criança não passar por um lugar que não parecia capaz de caber uma cabeça de criança, pronto. Entrei em choque! Gritava chamando minha mãe sem parar. Os médicos vieram, esse médico jovem e lindo morreu alguns anos após num acidente de carro, se chamava Dr. Roberto, as enfermeiras tentam me aclamar, meus gritos era ouvido a a distância, ela dizia que eu estava deixando minha mãe assustada, que ela tava chorando, mas nada ai eu gritava ainda mais. Foi então que Dr. Roberto me deu um tapa na cara, eu levei um susto tão grande que fiquei muda, ele me abraçou e pediu desculpas, disse que era o único modo de me acalmar. Me sentou na cama, e começou a conversar comigo e secar minhas lágrimas, tínhamos apostados durante a ultrassom o sexo do bebe, ele dizia que era menina e eu menino. Ele começou a brinca, a dizer que eu ia ficar bem. Brigou com todo mundo, mandou tirar a mulher de perto de mim, perguntou onde estavam com a cabeça de por alguém gritando do lado de alguém como eu, mimada, chorona e medrosa, que ia ter o primeiro filho. Todos os médicos me conheciam, minha mãe tinha feito estágio ali, trabalhava como cozinheira na maternidade de Ourolândia, depois como auxiliar de enfermeira em Lages do Batata. Eu cresci e vivi no meio. Sonhava em ser médica. Naquela altura tudo que eu faria era tentar criar um filho sozinha. Já tinha aceitado. Dado adeus a chance de lutar por uma faculdade.

O médico deu ordem que a enfermeira ficasse ao meu lado. Tinham se passado só três horas, e tinha acontecido tanta coisa, ela ficou comigo lá, ele vinha sempre pra me ver. Então senti muita água descendo pelas minhas pernas, a enfermeira pegou a maca, chamou a outra e me levaram para a sala de parto. Nunca vi nada mais lindo e limpo na vida. Tudo branco ao extremo. Me colocaram n mesa de parto, eu conversando e rindo, sem dor alguma, só uma cólica que vinha e passava, mas não era forte, me deram mais uma injeção que diminuía a dor. Eu tive contração, mas seu dor. Meu filho nasceu as 23: 30 4 h depois que internei, eu o vi e elas o levaram pra limpara. Me levaram para outro quarto com mais duas mãe com seu bebês.

Fiquei esperando trazerem o meu bebê. Diziam que tava pesando e medindo essas coisas. Vestiram a roupa que levei. Não era permitido, chupeta nem mamadeira ali. Eles trouxeram o bebê dormindo, me mandaram colocar o peito na boca e forçar ele a mamar. Aquilo doía, cada chupada que ele dava eu sentia uma dor, ele mamou muito pouco e dormiu. Dormiu até o dia seguinte quando a enfermeira veio pra dar banho. Eu iria em bora no mesmo dia. Estávamos bem. Eu passei a noite olhando ele e conversando com minha colegas de quarto. O bebê que eu tinha dito que se chamaria Ramon era lindo, como eu via nos meus sonhos. Vermelho e grande.

Fomos pra casa. Esse menino despencou a chorar, chorar, por dois dias ninguém dormia com os gritos dele. Então minha mãe desmaiou, foi um baita susto, ela vinha da cozinha com a mamadeira de chá pra cólica, e caiu revirando o olho, eu pensei que ela tava morrendo, comecei a gritar e gritar! Os vizinhos vieram tudo pra ver o que era. Nas próximas noites o menino dormiu. Quando estava com vinte e três dias o pai veio vê-lo, eu nem tinha avisado a ele, mas minha mãe fez isso contra minha vontade. Ele disse que queria por o nome do pai no meu filho. Eu imaginei os amigos da escola chamando meu filho de chico, e falei que nunca iria permitir isso, então ele pediu porá por o nome dele, por que ramos era o nome de um cara que ele não gostava, então ficou combinado. Ele jurou que me amava, me pediu em casamento e tudo, depois saiu e ficou com umas de minhas amigas naquela noite. E foi por isso e tantas outras que eu optei por não ficar com ele.

Quando passou a dieta vôlei a escola, no ano seguinte pra poder ajudar minha mãe com meu filho fui arrumar emprego de faxineira. No primeiro dia fui dispensada, a mulher disse que eu não sabia limpara a casa, e verdade seja dita, eu não fazia nada, minha mãe nunca tinha deixado, ou ensinado. Então desapontada, peguei o dinheiro que recebi e fui com minha amiga Selma e minha tia Roseane na feira comprar um roupa que eu tinha visto pro meu filho. Comprei a roupa e não sobrou nada, então elas compraram a sandália de couro, ela já estava com cinco meses. Claudia arrumou um serviço de doméstica na casa da amiga da patroa dela pra mim. Fiquei dois meses lá. Comprei meu material escolar com um adiantamento. Eu fazia tudo o que a mãe dela mandava, com todo capricho, pra tentar ver se dava certo, elas elogiavam meu serviço. Eu fazia ótimos bolos e doces que eu mesma inventava, fazia depois de expediente e elas amavam. Minha função era lavar a roupa e cuidar da limpeza da casa. Moravam os três irmãos todos adultos e os pais. A patroa era a filha mais velha, uma professora da faculdade da cidade. Então do nada, ela me dispensou eu não entendi. Minha mãe veio pra SP, dias depois eu encontrei a irmã dela, perto a prefeitura onde trabalhava, ela começou a chorar e me pediu desculpas, nunca contei isso nem pra Claudia. A minha patroa me mandou embora por que chegou e não encontrou o dinheiro que tinha deixado na gaveta. A irmã mais nova tinha pego e esquecido de avisar, quando minha patroa chegou na hora do almoço encontrou as moedas onde eu deixava, tinham espalhadas por todos os cantos, bolsos, em fim, eu juntava e guardava tudo numa caixa de joias na penteadeira dela. Morria de medo de faltar alguma e ela me mandar em bora por que eu precisava do emprego, mas o dinheiro que usaria pra pagar alguma coisa aquele dia não tava todo lá. Ela nem me perguntou se eu tinha visto, desceu e me dispensou eu estava almoçando. A mãe dela ainda insistiu que precisava, que gostava do meu serviço, mas ela estava muito nervosa e disse que não ia mais poder me pagar, que ela se virasse sozinha, me deu o pagamento na época eram 50 reais por mês, meio salário, pra lavar passar e limpar a casa. Já tinha se passado dois meses, ela me chamou pra voltar, eu disse que não, que tava tudo bem, deixei meu orgulho agir, e nunca mais as vi. Eu sofri muito sem dinheiro naquela época. Pobre às vezes mesmo honesto é o primeiro a levar a culpa em tudo, sem chance de defesa.

Meu filho tem uma foto por mês, todo mês eu tirava uma, são as únicas que ele tem até um ano. Lá fotos eram tiradas só por fotógrafos, eram coisas caras, meu amigo já falecido, que nunca, nunca vou esquecer, Manoel messias, Tinho, adorava me fotografar, dizia que eu era fotogênica, e pela nossa amizade ele me dava todo mês uma foto do meu filho. Eu ia ao estúdio pequeno, mas famoso na região e ele tirava essa foto, minha com meu filho no colo.

Foi um ano difícil. Com dinheiro contado. O pai dele veio pra SP, depois minha mãe veio também, ela me mandava todo mês dinheiro, o pai nem só ligava com histórias e promessas, que um dia quando cheguei em SP vi que nunca se cumpririam e coloquei um ponto final na minha história com ele. Esse dinheiro que minha mãe me dava era contado pro mês todinha, o que podia gastar por cada dia do mês. Tinha dia que tinha um pedaço de pão, eu dava pra ele e ficava com fome, o bom que nunca fui tão magra como naquela época, cheguei aos 52 k! eu ficava com fome, mas nunca deixei meu filho sem o que ele gostava. Tem muita coisa dessa época, de família que nem vale a pena lembrar. Mas uma coisa posso dizer e afirma, tive muito pouca ajuda. Pouquíssima! Entre tudo uma coisa que me magoou muito, foi que uma tia minha tinha um bebe da quase da mesma idade, e fomos pra casa da minha vó no São Bento a pé, cerca de três km andando, meu filho pesava quase 16 km nessa época, tava com um ano, eu viria pra SP no mês seguinte. Minhas tias disputavam pra carregar o filho dessa minha tia, o meu eu tive que levar sozinha os três km, eu fiquei muito triste, não pedi ajuda a ninguém, levei ele mesmo com os braços doendo. – Lembrar disso mesmo tanto tempo depois ainda me faz chorar. – Nunca comentei com ninguém o que senti naquele dia, mas entendi o obvio: se seu filho tem um pai, e vc tem dinheiro, servia pra minha família, se não tinha pai, nem vc dinheiro não servia. Claro isso não se aplica a todos da minha família. Tenho tias que amo, mas tem muita gente que evito. O fato é que tudo isso me fez crescer muito. Me fez forte de mais. Me fez ser humilde e sempre me colocar no lugar da outra pessoa. Sempre me pergunto como eu me sentiria em cada situação...

Nem preciso dizer que Depois que vim pra SP, depois pra Extrema Mg, casei, me estabeleci virei um exemplo pras mesma pessoa que me atiraram pedras... Em fim... Tudo é lição e aprendizado. O meu foi duro, mas eu venci! Sozinha, sem ajuda de ninguém! Eu venci!

Meu filho hoje tem quase dezoito anos, não foi fácil criar ele sem ajuda financeira de ninguém. Por duas vezes vi ele em coma sem eu poder fazer nada. Mas me orgulho tanto dele ser como é. Talvez seja por toda essa dificuldade na gravides que até hoje não consigo negar nada a ele, nunca juntei dinheiro, mas aos meus filhos dou o que posso. E não me arrependo de nada. Às vezes são momentos assim, de dificuldade que nos ensina a ser humilde com todos. A tratar bem as pessoas sem se importar com o que ela tem, por que um dia já tive no lugar delas...

Não suporto pessoas que se acham superior aos outros por sobrenomes, ou por condições financeiras. Um dia aqui no meu salão chegou uma senhora pobrezinha e uma outra cliente me disse que eu devia selecionar melhor minhas clientes, nunca mais entendi a cliente a senhora continua cortando cabelo comigo! É assim que sou... Prefiro pessoas pelo que são e não pelo que tem...

karla geane
Enviado por karla geane em 11/10/2013
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