A minha mãe foi uma mulher guerreira, amava a vida e plantou esperança durante sua caminhada na terra. Um tipo de câncer lutou com ela até vencê-la, porém, ela não se entregou facilmente, sua fortaleza estava na fé.


Diário: Dezembro de 2010

Adoecer é algo que nos é imposto, pois quando menos esperamos, a doença invade nosso corpo, e consome nossa alma.
Desde novembro de 2010 , nós, familiares, travamos uma luta contra o Câncer, minha mãe é o bem que defendemos, afinal, muita coisa tem mudado na nossa vida.
Na minha principalmente, que desde o início dos sintomas, acompanho minha mãe ao médico, vejo o quanto tem se esforçado para suportar as dores. Tenho tentado não ficar distante, não tenho ido em minha casa, meus filhos já não sei o que ocorre com eles. Isso dói, mas eu não consigo me manter distante. 
Minha irmã, não está em casa, e meu irmão, não sabe ainda , pois estamos no processo de busca de respostas para o diagnóstico.
Os médicos sugerem  uma metástase, e precisa verificar, onde o tumor originou _se, ou um mieloma múltiplo despontou , um tipo de câncer na medula óssea que se espalha por vários órgãos.
Minha mãe sente muitas dores, cãibras, anemia intensa, fraturas ósseas por várias partes do corpo.
Estamos agilizando os exames o máximo que podemos.

Janeiro de 2011

Já não suporto mais, não durmo, não como, vegeto.
Acompanhar tanto sofrimento me causa  estafa. 
Alguns exames precisam serem feitos, mas a demora nas marcações penaliza demais a nossa alma.
Preventivo, mamografia, ultrassonografia de vários órgãos, tomografia computadorizada, ressonância com contraste, exames laboratórios, enfim.
Deixo minha filha com mainha, e vou derramar minhas lágrias em meu travesseiro, pedi a minha filha que ficasse um pouco, pois não estou suportando.

Fevereiro de 2011

O resultado do mielograma saiu, junto com a biópsia da medula. MIELOMA MÚLTIPLO. 
Meu Deus o que é afinal este câncer?
Internet, retirada de dúvidas com médicos, ecaminhamento para hematologista, preparatório de documentos para início do tratamento.

Março de 2011

Início do tratamento, responde bem ao protocolo, porém, a doença, não perdoa, a baixa imunidade, trava com mainha a batalha cruel de infecções, que vamos tratando em casa com orientação médica.

Junho de 2011

Pneumonia.
Primeiro internamento, de muitos que virão, já me certifiquei.
Transfusão de sangue, balão de oxigênio, desespero ao vê-la com dificuldade para respirar.
Muita dificuldade para se locomover, as fraturas pelo corpo, causada pela doença muito dificulta movimentá-la.
Após uma semana de internamento, começo a passar mal, pois não tenho onde dormir no hospital, é uma enfermaria. Passo o dia e á noite perto dela, às vezes cuidando das necessidades emergenciais, troca de fralda, roupa, água, comida. às vezes, conversando com outras pacientes.
Mas ao anoitecer, cuido em organizar a cadeira e o suporte para não deixar meus pés sem apoio . Pego minha colcha para me aquecer do ar condicionado que não desliga.
Quinze dias, graças a Deus recebeu alta, melhor, ela forçou a barra, não aceitou mais medicamento venoso, nem oral, pediu para ir para casa.
São João, São Pedro, das agonias.
Minha irmã está em casa, graças a Deus, agora ela cuida enquanto eu descanso um pouco, na responsabilidade de sempre comparecer.

Fevereiro de 2012

Um ferimento nas nádegas se agrava, ela precisa de um internamento, a médica soliicita isolamento, pois a imunidade dela  muito baixa, contato com outras doenças pode agravar o quadro. 
Em seu aniversário , 20 de março,  no hospital.
Liberada, mais uma vez eu posso descansar um pouco.

Junho de 2012

Outra Pneumonia. Correria, pois não achamos vagas nos hospitais da rede credenciada ao Planserv. 
A médica consegue  internamento num hospital que mantém parceria com a rede SUS e PLANSERV, mais quinze dias, e ela retorna para casa.

Junho de 2014

O pior pesadelo, diagnóstico cujo  transmissor da infecçao pulmonar não é identificado. Trinta dias já se passaram, e nada, o quadro piora, e é levada para UTI, meu coração dói infinitamente.
Retorna para apartamento, mas sem um diagnóstico preciso, e a possibilidade de óbito aumenta.
A médica mais uma vez acerta, prescreve remédio para tuberculose, na esperança de que pudesse ser, acometida pela bactéria,e foi. Com os primeiros comprimidos, teve melhora.
Fez o tratamento por mais de dois meses, porém, a médica nos adverte, que ela tem pouco tempo de vida. Dois meses no máximo.
Como foi difícil!!!!!!!! Escutar isso. 

Fevereiro de 2015

Internamento e morte em março de 2015, na madrugada do dia 09.

 


*** Hoje, 6 de abril de 2024. Mainha se foi, já completou nove anos. 

Ainda estamos nos trâmites do inventário. Que triste!!!

Os bens tentam ocupar o lugar que era dela, nunca imaginei que ela fazia parte do nosso dia a dia.

Muita coisa lembra minha mãe. Desde o sabonete do meu banho( Alma de flores, phebo tradicional) aos pratos variados ( quiabada com abóbora e carne sertão com carne fresca, e bastante arroz branco... O sanduíche americano, o doce de leite, o vatapá e o caruru...








 

 



 

Leah Ribeiro Pinheiro
Enviado por Leah Ribeiro Pinheiro em 25/10/2013
Reeditado em 06/04/2024
Código do texto: T4542162
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