LOU REED

Conheci Lou Reed a partir de um LP que adquiri ainda adolescente. Chamava-se “The Best Of..”, tinha uma capa negra e fotos de uma moça sobre uma mesa. A moça era um travesti com quem Reed viveu durante anos. Dentro, canções memoráveis como “How Do You Think It Feels” e “Good night Ladies”. Mas não era, nem de longe, o melhor que este loucaço de Nova Iorque havia produzido.

Meninos, vocês não tem idéia de como era difícil obter informações sobre os artistas antes da Internet. Hoje, se alguém quiser saber algo sobre, por exemplo, o lendário Robert Johhson, basta digitar no Google. Minha sorte foi que um amigo resolveu partir para os EUA ainda novo, e me trouxe o primeiro disco do Velvet Underground – o famoso disco da banana, pintada por ninguém menos que Andy Warhol.

O recheio começa com “Sunday Morning”, cantada por Nico, uma modelo belíssima que infelizmente morreu cedo demais. Todo o resto são clássicos compostos pela sinistra dupla Lou Reed – John Cale: “Heroin” , “Vênus In Furs” (uma releitura da clássica obra de Masoch), “Waiting For My Man” (na qual ele conta que espera pelo cara que vai trazer o que ele precisa) e muitas outras mais. 1967 foi o ano maravilhoso da música pop.

Os shows, como muita gente viu, eram uma mistura de teatro e show musical, com louras de cintas ligas e botas de couro chicoteando dentro de um ambiente de fumaça e multicoloridas luzes. A banda ainda lançaria alguns discos, mas logo se desfaria. Cada um tinha seus projetos e Lou Reed nunca foi um sujeito que buscasse desesperadamente a fama e o dinheiro. Se contentava em viver em sua amada Nova Iorque e influenciar os novos estilos que surgiam, como o glitter rock e o punk.

Uma das minhas maiores alegrias foi quando encontrei em uma pilha de CDs que estavam em promoção nas Lojas Americanas a obra-prima “Transformer”, a 6 reais, uma pechincha! Na capa uma bicha de bunda arrebitada. No recheio, canções que jamais esquecerei: “Vicious”, “Walk On The Wild Side”, “Sattelite Of Love”, “Perfect Day". Coisas maravilhosas que entraram direto em meu coração. Alias, muito do que escrevo veio da inspiração proporcionada por Reed.

Depois ouvi dizer que ele havia abandonado sua vida louca e se casado com a artista Laurie Anderson. Havia se tornado um mestre de Tai-Chi. Chegou a vir a São Paulo no ano passado, quando cobrou 10 reais a entrada. Mas grande parte do público não teve paciência para aturar suas experiências sonoras, antes de nos brindar, no fim do espetáculo, com alguns de seus grandes clássicos.

Infelizmente, os anos loucos cobraram seu preço. Em maio desse ano li uma entrevista comovente de uma Laurie Anderson aflita com a saúde do marido. Disse que ele estava simplesmente morrendo e precisava de um transplante de fígado. Infelizmente, o procedimento não foi suficiente para salvar o artista que, convenhamos, teve uma vida relativa longa para um astro do rock. Espero que Laurie viva na mesma paz que Lou Reed houvera encontrado em seus últimos dias.