UM DIA DESTES OU UMA NOITE DESTAS

Um dia ou uma noite destas, o Seu Agenor chegava do cine Ideal do Grupo Severiano Ribeiro, tinha assistido Bem Hur, colocou o chapéu no porta coisas (chapéu e capas) na sala, pediu para mim ajudar a tirar os sapatos, e comentava o filme para mim.

Uma noite dessas um casal agarradinho sentado nas cadeiras pretas torneadas à calçada de nossa casa, trocava beijos e abraços apaixonados, já eram meus avós, e os vizinhos vinham escutar a história de Bem Hur.

Noutra noite o rádio Phillips na estante do corredor, depois que o carequinha desfilava conselhos e canções, entrava “nas mansões das Brumas” a novela da Rádio Difusora, logo depois um musical com Dalva de Oliveira fazia minha mãe desquitada, chorar um corredor inteiro de lágrimas.

Um dia, o sol marcava meus pés nus, eram menos de 9 horas, mas a calçada estava quente e nós íamos à praia da Avenida, toda arborizada, linda, e de lá víamos o porto e os navios, ninguém na água, chapéus brancos de palhinha, roupas claras e o riso lindo de minha mãe segurando-nos para não nos perder. E aí ela viu meu ex pai com uma linda mulher num bate papo igualzinho a “mansão das Brumas”. Chegou perto, ela não estava raciocinando, chegou e disse olá Seu Torquato, abençoe seus filhos aqui.

Na década de 50, mulher era uma coisa, ou era linda maravilhosa, sedutora e o esperma dos lençóis matutinos de todos seres masculinos. Ou eram santas divinas (como minha avó Etelvina era chamada pelo meu Avô) que se doavam pela família, estas a parte na real eram o sustentáculo da nação como num todo, pois era mesmo o esteio da família, quando ela partiu para trabalhar fora de casa, partiu-se o esteio e a família se complicou. O homem tinha a função provedora, mas a fortaleza e a cola que mantinha a família na mesa da ceia diária era a mãe mulher, amada e amante, com o “avental todo sujo de ovo”. Ah e havia a mulher “Madama”, Puta de Zona, a mulher que fazia e refazia as fantasias sexuais não permitida com a santa mulher de casa. Era Uma no pedestal dos infernos e outra no inferno dos pedestais. Nunca se perguntou a Mulher do Avental todo sujo de Ovo, se ela gostaria de uma “lambida” ou de sexo anal, oral, ou seja que “AL” fosse, Aliása houve época recentíssima que mulher era proibida de:

- Gozar

- Olhar para os lados quando na Rua a passeio ou às compras.

- Conversar com qualquer homem sem a presença de um membro da família e por aí vai.

Um dia minha mãe debulhada em lágrimas porque um pai bêbado e ausente, depois de meses fora de casa veio conhecer o segundo filho que acabara de nascer, e O chamou de gato porque o menino inda estava com os olhos fechados. E saiu rindo...... para nunca mais voltar.