Autobiografia

Eis que aqui bato a porta de seus ouvidos,

E conto sem delongas a imagem imaginária (quem sabe) que tenho de mim,

Daquele que atrás de um olhar vazio,

Esgueirando por entre cortinas de sombras grossas,

Coberto pela fumaça de seu costumeiro cigarro,

Viajando sozinho em pensamento por mundos inabitáveis,

Odiando a si mesmo com a fé louca dada aos monges gordos de um mosteiro qualquer.

E olhando para dentro desta bolha espectral cercada de tenebruras horrendas,

Divagando sobre meu embate com Deus,

Rogando minhas mais benevolentes pragas àquele dito magnânimo,

Fugindo dos raios malévolos de seu filho sol,

E encobrindo meu rosto da vista de outros.

Como sou? Como me vejo?

Sozinho!

Assim sempre me senti, assim sempre serei.

E gritando palavras sem sentido em noites turbulentas,

Buscando em pensamentos o conforto ao sono que não encontro;

Um fluxo terrível de palavras em movimento,

Golpes violentos sobre teclas velhas de uma máquina de escrever.

E onde está o erro nisso?

Onde se encontra a falha por não reparar nas cores do dia? No voo do pássaro herói perdido em uma árvore? Na colossal e resplendorosa bondade da qual nós humanos gostamos de nos vangloriar e glorificar, para que? De que me serve, serviu ou servirá tudo isso?

A música chega a seu ápice,

E com ela a corda que queima o pescoço se estica,

A lápide já pronta ao descanso do corpo e mentes cansados de fugir,

A garganta rasgada por agonias sem nome que reservo apenas para meu Eu.

Sat
Enviado por Sat em 19/04/2015
Código do texto: T5212217
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