Sempre fui uma pessoa dedicada à minha família. Eu não conseguia pensar em mim, sem pensar nela. O bem estar em conjunto, sempre foi a minha prioridade.
É claro que, ao se viver a vida não se sabe ao certo se as decisões que estão sendo tomadas são as mais acertadas, porque a resposta está no tempo e este é secretivo.  Somente depois de ter acontecido é que se fica sabendo o quanto se acertou ou se errou perante algo, ou alguém.
Fui uma mãe muito amorosa, porém disciplinadora, principalmente, por ter um marido alcoólatra e dependente de outras substâncias químicas, eu sentia que deveria dobrar a vigilância e os ensinamentos aos meus rebentos. Talvez numa compensação, por terem que conviver com o egocentrismo e o egoísmo de um adulto que jamais pensou em abrir mão de seus vícios, em prol do benefício de uma vida em harmonia com a família.
Televisão em minha casa somente era ligada aos sábados e domingos. Nos dias úteis, o lema era estudar, ler e ser feliz. Não é fácil manter a televisão desligada porque quando se toma essa decisão, é preciso ocupar o tempo com coisas significativas que preencham a alegria e a satisfação de todos os envolvidos.
Os meus meninos não sentiam falta de televisão porque somente se sente falta daquilo que se está acostumado, o que não era o caso deles. Íamos ao cinema, aos shows, ao teatro, aos museus, aos passeios públicos, aos zoológicos, e aos livros (sim, íamos aos livros),  às conversas e às reflexões.
Eu sinto muita saudade de todo aquele tempo em que me sentia educando e participando do crescimento físico e emocional dos meus filhos.

Participei ativamente de suas vidas escolares, lendo o que liam, e lendo o que escreviam. Eu, apesar de ser casada, me sentia educando-os sozinha. As participações do meu companheiro não eram as melhores, pois o fato de estar quase sempre embriagado fazia com que perdesse o valor perante os filhos. O que dizia não era algo considerado e nem mesmo respeitado, porque era um monte de coisas desconexas que saiam dele. As palavras que proferia somadas as suas ações, incomodavam os meus meninos. 
Enfim, os meus filhos foram crescendo com duas pessoas importantes em suas vidas, que eram seus pais. Uma delas que era um exemplo que coerência e a outra um exemplo de tudo aquilo que não se deseja que um filho passe a fazer quando cresça. Eu me preocupava com a contradição dos meus ensinamentos, pois eu amava e convivia com uma pessoa que era o avesso de tudo aquilo que eu ensinava como virtude e bom comportamento, para os meus filhos.
O fato das pessoas irem se transformando, por serem mutáveis, ajudava-me a ilustrar para os meus filhos  que as pessoas estão sempre fazendo escolhas e mudando seus comportamentos e que isto afeta os que convivem com elas. E os sentimentos verdadeiros, felizmente ou infelizmente, impedem algumas vezes de que possamos excluí-las de nossas vidas. E que no meu caso, eu não conseguiria “jogar uma pessoa fora” pelo fato desta pessoa fazer más escolhas.

Não era fácil conviver diariamente com um ser egoísta que nunca soube abrir mão de absolutamente nada em prol do outro. Muitas vezes, confesso, eu senti vontade de desistir em continuar a viver uma vida em família. Mas, o meu desejo de manter a família unida e com amor, me foi fazendo tolerar e superar coisas insuportáveis.
Apesar de todas as dificuldades eu não me arrependo de ter me sacrificado pelos meus filhos e por mim também, pois eu desejava criar os meus filhos com o pai deles, não importando como fosse esse pai. Apesar dos vícios, da indiferença e da agressividade que nos demonstrava, ele era um homem que trabalhava, e aos olhos da sociedade parecia ser um prêmio em nossas vidas. Por educação e sigilo, deixávamos que acreditassem que éramos uma família que vivia as mil maravilhas. E deixando que a sociedade acreditasse, nos fazia acreditar também, pois na verdade o mentiroso passa a acreditar em suas próprias mentiras. E assim, por omitirmos a verdade, desacreditamos nela.

No meu íntimo, eu sentia um enorme desejo de me separar daquele homem estranho que eu sentia que amava algumas vezes, e em outras, eu sentia piedade, para viver um outro tipo de vida. Que vida? Ah! Eu sabia muito bem que vida que eu desejava. Era uma vida de paz.
Assim, eu fui vivendo da melhor maneira que eu soube viver, dando significado aos meus dias e aos dias dos meus filhos, para que aqueles dias transcorressem com suavidade e importância. Eu desejava  que os meus filhos se formassem na universidade e depois então eu poderia partir e reiniciar a minha vida, e poder viver de uma maneira em que eu encontrasse satisfação e felicidade. Parece a mesma coisa, mas não é, pois uma pessoa pode sentir-se feliz e não se sentir satisfeita.
Sim, apesar de não me sentir satisfeita, eu me sinto muito feliz por ter, finalmente, encontrado a paz. Por finalmente não ter mais aquela pessoa diariamente “pesando” em minha vida.

Além de ter furtado o que quis, este ser mesquinho tentou a todo o custo  me desmoralizar perante os meus filhos. Ele se esqueceu de que os rapazes são homens autônomos que não se permitem manipular e enganar. São  homens que foram cuidados e amados pela mãe que os ensinou os verdadeiros valores da vida. Que lhes ensinou princípio de ética, moral e dignidade.
A única coisa que  fiz que me provoca uma dorzinha ao lembrar, foi ter combinado com o meu filho caçula que se ele não tirasse média 85 na escola, ele teria que deixar o time de futebol americano. A escola Jesuíta onde ele estudava era bem dispendiosa e quando ele começou a jogar futebol americano, as suas notas caíram consideravelmente, e fizemos então um trato no inicio do ano, para que ele tivesse tempo de recuperar suas notas e conciliar seu tempo com o esporte o qual ele amava. No fim do ano letivo sua média foi 82, 5, e eu não quis abrir mão da minha palavra. E o resultado foi que ele até hoje me diz que talvez fosse um “senhor” dos esportes e que estivesse possivelmente ganhando muito dinheiro. Eu digo para ele, que uma vez que não temos uma bola de cristal, que seria possível  isto pudesse acontecer, mas que ele deveria se lembrar do fato de que muitos de seus colegas que jogavam e eram muito bons, não se tornaram campeões e nem estão ganhando dinheiro com esse esporte. Que as coisas que desejávamos e que não aconteceram por impedimento de terceiros nos dão a sensação de que seria muito melhor, caso não tivesse sido interrompida. Uma coisa com a qual se deve conviver é com a dúvida.
Eu posso ter tomado uma decisão muito radical, mas, na época não me pareceu tão radical assim. Na época me pareceu a mais acertada. Considerando também que eu tinha que assinar um contrato isentando a escola da responsabilidade dos riscos os quais aquele esporte perigoso oferecia. Lembro-me que sempre que ele participava de um campeonato  meu coração sobressaltava-se. 

Em suma, os anos se passaram e o pai dos meus filhos os perdeu. O mais triste é saber que os perdeu por ter feito tudo errado e de má fé. Suas atitudes abomináveis foram as que os fizeram se afastar de seu progenitor. Quanto a mim, sinto-me muito feliz pois tenho o carinho, o amor e o respeito dos meus dois filhos. Mesmo porque eu não saberia viver sem seus sentimentos de bem querer por mim, pois sempre valorizei esses sentimentos como algo maior em minha vida.
Posso dizer que vivi, junto aos meus filhos,  uma vida que valeu a pena ter vivida, pois eles são homens de bem e muito amorosos para mim.
Hoje eu vivo em paz. Graças a Deus eu não consigo sequer pensar naquele estranho que se fez presente de maneira desagradável durante tantos anos em nossas vidas.

Ah! Como eu amo viver essa vida linda da qual eu acordo nela todas as belas manhãs. Eu gosto de acordar bem cedo para aproveitar melhor os meus dias. 

 
Mari S Alexandre
Enviado por Mari S Alexandre em 07/05/2015
Reeditado em 08/05/2015
Código do texto: T5233734
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