Romance, história sem cores, capitulo dois.

Eram quase onze e meia quando mineiro acordou, novamente o barulho das buzinas dos caros, ele se levantou rapidamente, mineiro não estava acostumado com o movimento frenético e a correria de uma cidade grande; seus pés tatearam pelo piso frio a procura do chinelo, o quarto estava uma bagunça só e o chinelo jogado debaixo da cama, ele levantou descalço mesmo, tropeçando nas coisas que estavam espalhadas pelo chão, a maioria delas eram coisas da esposa.

Mineiro havia combinado com o montador de moveis de vir ao seu apartamento na parte da tarde, ele montaria o guarda roupa e a cômoda, como havia tempo de sobra, ele resolveu organizar as coisas em cima da cama mesmo, depois era só transferir tudo para o guarda roupa e a cômoda, quando já estivessem montados, quando ele finalmente terminou de organizar tudo, o quarto ficou com outra aparência; em cima da cama havia lembranças da época de namoro, fotos de viagens e fotografias antigas, um amontoado delas, mineiro nunca gostou de ter muitas coisas, achava desnecessário ter tantas pequenas coisas que a seu ver era considerado inutilidades.

De repente seu olhar se fixou em uma pequena fotografia, era da sua infância, uma foto tirada no jardim da fazenda onde ele morava; quando os seus dedos sentiram a textura daquela foto já amarelada pelo tempo, mineiro teve outro dejavu, e novamente foi envolvido em uma espécie de transe, um mergulho no baú de suas memórias, que pela segunda vez era visitada naquele dia.

Lembranças.

Minas Gerais, 1988, mineiro era o filho mais velho, um ano depois de seu nascimento veio à irmã, Helena, uma loira alta e avantajada, Tadeu o caçula, veio dois anos depois, ele era pequeno e desajeitado. A infância de mineiro foi de certo modo tranquila, seus pais moravam na segunda casa no inicio daquele povoado, considerando que o inicio da fazenda era a partir do casarão dos fazendeiros, eram mais de novecentos alqueires de terras, divididas entre três irmãos, havia pelo menos umas cinquenta famílias que moravam ali, suas casas a semelhança da casa de mineiro, eram simples, e com as tradicionais cruzes na porta da frente.

A fazenda era bem cuidada, havia um grande espaço próximo das casas, cercado por arvores e rodeado por bancos de madeiras, esse lugar era chamado de colônia, as crianças gostavam de brincar naquela parte da fazenda, corriam, brigavam, brincavam, coisas de crianças que estavam no auge da infância, ávidos por descobertas, sequiosos por conhecerem as coisas que para eles eram misteriosas. Mas mineiro era diferente, ele não brincava com os colegas, não que ele não gostasse de brincar, pelo contrario, era o maior desejo de seu coração, mas a sua mãe e seu pai o proibia de se juntar aos demais amigos; diziam para os filhos que o lugar deles era dentro de casa, e se quisessem brincar que o fizessem com os irmãos, na cabeça de seus pais, as demais crianças eram influencias ruins para os filhos, isso angustiava o coração de mineiro, que nunca falava nada, sempre quadrava tudo em seus pensamentos. Ele passaria a infância trancado no quintal de sua casa, não lhe era permitido sair, não lhe era permitido brincar, caso o fizesse sem a permissão dos pais, a surra com varinha de goiaba era certa. O quintal era o seu universo, era o seu mundo de brincadeiras com os irmãos, nas raras vezes que ia a colônia com a mãe, e via as crianças brincarem e correrem, sentia doer o seu peito, era a dor de uma tristeza profunda, uma magoa que lhe rasgava a alma, ele se sentia desprezado, diferente e inferior aos demais.

Helena sua irmã, sempre foi mais esperta, embora avantajada, ela era muito mais esperta que os irmãos, quando aprontava, as broncas sobravam para o irmão mais velho, até nisso mineiro era desfavorecido, por ser o mais velho o peso da responsabilidade caia sobre os seus ombros, assim era a infância de mineiro cheia de ressentimentos, mineiro cresceria triste e solitário, mesmo estando no meio de muitas pessoas, ele sempre se sentia solitário.

Mineiro despertou do transe daquelas lembranças todas, levou um tremendo susto quando retornou a realidade, era a segunda vez que lhe acontecia isso, ele continuou a arrumação, depois do quarto foi para a cozinha, juntando e organizando as coisas espalhadas.

O relógio que ainda estava por sobre a mesa da cozinha havia parado, como mineiro estava com fome, sendo possivel ouvir o roncar de seu estomago, resolveu comer alguma coisa na lanchonete que tinha de frente do apartamento, depois compraria pilhas novas para o relógio, ele trocou de roupa pegou a carteira e saiu, a passos curtos e andar preguiçoso, como era de seu costume, no seu celular uma mensagem da noiva. “ me liga quando tiver um tempo, te amo beijos.” Mineiro fechou o apartamento e desceu pelas escadas, ele morria de medo de elevadores.

Tiago Pena
Enviado por Tiago Pena em 11/10/2015
Reeditado em 12/10/2015
Código do texto: T5411364
Classificação de conteúdo: seguro